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“Voltmix: O Retorno”: A pista é de todos

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No dia 25 de Outubro, o álbum “Voltmix: O Retorno” foi lançado sob o selo da Speedtest. A coletânea conta com 63 tracks que resgatam as batidas e samples utilizados pelos produtores de funk dos anos 1990. Cada faixa foi feita por um produtor diferente, selecionados a partir de um formato de chamada aberta, realizado online. Esse processo de curadoria foi feito por Pedro Chediak, DJ, produtor e diretor criativo da Speedtest, o selo conta também com a produção cultural de Diogo Queiroz. O resultado é um projeto coletivo, criado a várias mãos por artistas de diversos lugares do país, reunidos em um registro que marca a cena da música eletrônica brasileira do momento 

Capa de “Voltmix: O Retorno”. Por Pedro Chediak, Vinicius Monteiro e Luca Rassi

“Volt mix” é o termo usado em referência a uma batida que fez sucessos nos bailes funk a partir do final dos anos 1980. Trata-se de um sample da faixa “808 Beatapella Mix”, do DJ americano, Battery Brain. O som chegou em terras brasileiras por intermédio de Carlos Machado, conhecido nas ruas cariocas como DJ Nazz. O produtor e engenheiro de som realizava viagens para o exterior, e trazia de volta discos que não estavam disponíveis no país, para vendê-los no Largo da Carioca. Em uma dessas levas, o beat aterrissou no Rio de Janeiro, e caiu nas graças tanto dos artistas quanto do público, tornando-se marca registrada das festas da época. Hoje em dia, sua sonoridade é muito associada aos “bailes de corredor”, nos quais a plateia se dividia em dois lados que se enfrentavam fisicamente com o decorrer da música. Contudo, o volt mix adquiriu uma popularidade que vai muito além dessa manifestação cultural específica. 

Embora nunca tenha sido abandonada de fato, a batida teve seu auge ainda nos anos 1990. Ela perdeu sua força após o surgimento de outros samples clássicos, como é o caso do tamborzão. Foi com o interesse de recuperar e registrar o Voltmix que Chediak pensou em criar uma obra completa, capaz de encapsular o ritmo e suas possibilidades nos tempos atuais, buscando mostrar novas possibilidades dentro do funk, a partir de fundamentos do gênero. “O som não precisa necessariamente ser sempre provocante e dançante, é possível que seja algo mais agressivo sem perder a identidade”, afirma o produtor.

Chediak também comentou sobre o propósito da Speedtest dentro do cenário artístico atual. Segundo ele, trata-se de uma forma de catalogar o que é feito por produtores e DJs dos dias atuais, em um contexto onde há pouca documentação sobre a música eletrônica brasileira, apesar de sua variedade e extensa história: “A Speedtest é uma tentativa de tirar uma foto do que está acontecendo no país hoje em dia”, diz Chediak.

A ideia de fazer o disco de forma colaborativa estava desde o começo, como maneira de mostrar os diferentes formatos de exploração a partir de um ponto comum. Com um trabalho de arquivologia e recuperação da memória sonora do funk dos anos 1990, Chediak montou um “sample pack” – pacote com sons icônicos dos tempo dourados do volt mix, e disponibilizou para que os beatmakers pudessem entender e se apropriar da estética. Isso permitiu a criação de novas paletas musicais, de acordo com suas influências e peculiaridades quanto ao processo criativo. “O projeto começou como um voto de confiança entre eu e meu público, então a gente pensou ‘o que nós podemos fazer juntos para continuar com o selo?’ Foi como dar a chave da minha casa para o pessoal e ver o que acontecia”, conta Chediak. A partir daí, foi feita uma chamada aberta, que contou com centenas de inscrições. Ao todo, foi contabilizado um tempo de reprodução de mais de seis horas.

Lista de artistas envolvidos no disco

O produtor e DJ carioca Gabriel Fontoura, que atende pelo nome artístico de GVBX, participou do processo seletivo, sua track “MONTAGEM JIU JITSU” está entre as faixas do disco, sendo a primeira vez que GVBX integrou um lançamento da Speedtest. “A coletividade é muito importante porque nós precisamos de mais meios dentro da cena para que façam-se chegar novos artistas. Não só para uma renovação, mas também para inserção de diferentes perfis que contemplem a variedade da música eletrônica”, afirma Gabriel. Chediak comentou que na curadoria do álbum muitos beatmakers que foram selecionados eram pessoas que ele conhecia apenas na Internet, outros nunca tinham tido canções oficialmente publicadas. Dessa forma, trata-se de abrir portas e possibilitar novos contatos e exposição, possivelmente dando o pontapé inicial até mesmo para oportunidades profissionais. 

A música eletrônica, desde seu nascimento, tem como fundamento a ressignificação de memórias pela coletividade. Tão importante quanto os sons que contagiam a pista, são as pessoas que dançam e são inspiradas por ela. O álbum é uma celebração desse espaço, feita por aqueles que são parte integral de sua vivacidade. Hoje (30/11) ocorre, no Centro Cultural Lado B, no centro do Rio de Janeiro, a última festa do ano da Speedtest, com ingressos online esgotados, as últimas entradas serão vendidas na porta. Tanto o disco quanto o evento simbolizam a contínua construção de um espaço artístico único no país. “Voltmix: O Retorno” é parte do passado, do presente e do futuro da música popular eletrônica brasileira. 

Reportagem: Luca Alexandre

Supervisão: Vinicius Nunes

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