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Crítica: O Robô Selvagem (2024)

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Baseado na série de livros escrita por Peter Brown, O Robô Selvagem (2024) estreou nos cinemas brasileiros no dia 10 de outubro. Dirigido por Chris Sanders (Lilo & Stitch e Como Treinar o Seu Dragão), o filme produzido pela DreamWorks Animation já é um sucesso entre críticos e audiência, com uma arrecadação mundial de mais de US$235 milhões. Com abordagem simples, porém emocionante sobre uma conexão inusitada entre a tecnologia e a natureza, o longa questiona o público sobre o significado de estar vivo, de pertencimento e desafiar a própria “programação”.

A obra narra a história da unidade ROZZUM 7134, um robô projetado para atender às necessidades humanas em um mundo utópico. Após ser a única sobrevivente de um naufrágio e chegar em uma ilha habitada apenas por animais, a robô precisa se adaptar a esse novo ambiente hostil e desafiador.

A protagonista então tenta estabelecer boas relações com os animais nativos da ilha. Entretanto, essa não é uma tarefa fácil, pois, além da barreira linguística com a nova espécie, diferente e ameaçadora, todos a enxergam como um monstro, demonstrando medo e antipatia. São essas adversidades, principalmente a violência sofrida pela robô, que culmina na tragédia causada pela unidade: o acidente em que quase uma família inteira de gansos morre e apenas um filhote sobrevive.

Devido à programação servil da robô, a ROZZUM 7134 se encontra em um processo de maternidade inesperada,  disfarçada pelos objetivos de cuidar e ensinar esse pequeno ganso a se alimentar, nadar e voar. Junto com Astuto, uma raposa mal-vista pelos demais animais, Roz (apelido carinhoso da robô) e Bico-Vivo (nome dado ao filhotinho de ganso) formam um grupo de desajustados que partem em uma jornada imprevisível e surpreendente.

Com o objetivo de preparar o Bico-Vivo para a migração de inverno, os três enfrentam provações e desafios. Essa relação de família constrói o ápice e o coração do longa. O processo de vínculo e união é representado na obra de forma eficiente, orgânica e emocionante, com situações que, facilmente, conectam a audiência ao filme.

Ao assistir o longa, é possível perceber inspirações e toques de outras animações famosas, como: Wall-E (2006), Procurando Nemo (2003) e Gigante de Ferro (1999). Bico-Vivo representa o “patinho feio” da história, que não se encaixa entre os outros gansos por causa de suas pequenas asas e sua criação inusitada. E o claro intuito da obra de criar uma ligação afetiva entre o público e um robô que não possui sentimentos, mas que, gradativamente, passa a realizar ações e nutrir emoções cada vez mais humanas, não é algo revolucionário. Embora o tema de um robô adquirir emoções humanas não seja inovador, ele se torna cada vez mais relevante, considerando os avanços da Inteligência Artificial. Mesmo assim, O Robô Selvagem utiliza essas características e elementos pré-estabelecidos com maestria, conseguindo se esquivar de um resultado clichê e apresentando um produto final simples, mas cheio de simbologias e significados, como deve ser em uma ótima animação.

A maneira como o filme não procura ser totalmente fiel à realidade, mas é capaz de entregar um pouco disso através de um humor ácido, que resume de forma acessível as relações existentes no reino animal, é um ponto muito interessante e bem explorado pelo longa. Somado às boas relações estabelecidas entre as personagens e ao humor, a animação é visualmente linda e espetacular.

Com o uso de técnicas que combinam cores para criar diferentes texturas na ambientação e nas personagens, O Robô Selvagem às vezes parece uma pintura em aquarela, com frescor e movimento. O longa possui cenas deslumbrantes e emocionantes, como as sequências de treinamento de voo do Bico-Vivo, sua migração e os momentos em que Roz percebe que não é mais movida por baterias, mas sim um robô selvagem de coração.

Esses aspectos potencializam a narrativa, que se torna brilhante ao unir personagens incomuns a temas universais, sensíveis e profundos. Quem imaginaria que uma robô poderia ser uma mãe protetora para um filhote de ganso? Quem cogitou que a personagem seria capaz de entender tão bem o ambiente e todos a sua volta, que conseguiria transmitir valores como solidariedade e inclusão não só para os animais da ilha, como para o público? Diante da realidade atual, marcada por guerras e conflitos, em que empatia e humanismo parecem escassos, é irônico, um verdadeiro tapa na cara, receber esses ensinamentos de uma robô e de animais que vivem isolados em uma ilha.

Como Roz diz: às vezes é preciso ignorar nossa “programação”. Ao final do filme, é possível que as pessoas questionem: “É possível que um dia um robô seja capaz de sentir emoções como a Roz”? Uma pergunta inesperada e que desafia nossa natureza, nossa “programação”.

O romance ilustrado infanto-juvenil de Peter Brown foi publicado pela primeira vez em 2016. O fenômeno foi, praticamente, instantâneo e obra se tornou #1 na lista de mais vendidos do New York Times. Desde então, a série teve a adição de mais dois títulos: The Wild Robot Escapes e The Wild Robot Protects. Essa trilogia rendeu a Brown várias condecorações por suas produções, como o Children’s Choice de Ilustrador do Ano e o prêmio de Melhor Ilustração do Ano do New York Times. Depois do sucesso do filme, o diretor Chris Sanders confirmou o interesse em uma continuação. “Há, sem dúvida, planos para uma sequência”. Segundo Sanders, esse novo longa também estaria em desenvolvimento pela DreamWorks Animation, mas ainda não há previsão de estreia.

Crítica: Maria Vitoria Hucs e Pedro Henrique Mello

Supervisão: Joana Braga e Vinicius Nunes

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