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Crítica: O Rei Leão (1994)

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Há 30 anos o Sol levantou para o reinado de Simba. Dirigido por Roger Allers e Rob Minkoff, O Rei Leão (1994), foi logo aclamado pelo público e pela crítica. Naquele ano, o longa da Disney teve a maior bilheteria mundial, com faturamento de US$988 milhões só nos cinemas. Além disso, venceu o Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme de Comédia/Musical.

A história acontece nas Terras do Reino, na África, onde o leão Mufasa governa os demais animais da savana africana como rei. O enredo é focado no atrevido Simba, primogênito de Mufasa e Sarabi, que desde cedo é ensinado por seus pais e Zazu – um pássaro calau fiel conselheiro do rei – sobre o ciclo da vida e as responsabilidades de ser um governante. Simba mal pode esperar para se tornar rei, mas, como qualquer filhote, ele também adora brincar e se meter em confusões, principalmente com Nala, sua melhor amiga.

O príncipe da selva sempre foi bem-vindo e celebrado por todos os animais desde seu nascimento. Os únicos que não parecem nutrir o mesmo carinho são as hienas e seu tio, Scar. O irmão mais novo de Mufasa nutre uma profunda inveja e mágoa do sobrinho, que o  havia ultrapassado como legítimo herdeiro na linha de sucessão ao trono. Neste cenário, o antagonista frustrado, junto ao grupo de hienas que o seguem, arquiteta um plano para usurpar o poder. 

Mesmo Simba conseguindo escapar da emboscada, que envolvia uma debandada de gnus, seu pai não teve a mesma sorte. Scar nega ajuda a seu irmão e o mata ao empurrá-lo para o desfiladeiro abaixo. Essa sequência consegue traduzir as diferentes posições e perspectivas de ambos os personagens, através de planos fechados que variam entre ângulos plongée (câmera acima do nível dos olhos voltada para baixo), quando focado no rosto de Mufasa e, contra-plongée (câmera abaixo do nível dos olhos voltada para cima) quando o foco é em Scar. 

Em uma cena que emociona até hoje, Simba encontra seu pai morto e fica ao lado dele durante alguns minutos tentando reanimá-lo. Scar conclui seu esquema ao convencer Simba de que ele era o culpado pela morte de seu pai, e o aconselha a fugir do reino. Com o trono vazio, o vilão se auto proclama como novo rei, o que dá início a um período sombrio e impróspero às Terras do Reino.

A partir desse período de ostracismo, Simba inicia uma jornada de autoconhecimento, se reconectando com seus valores e identidade. Para isso, ele tem a ajuda de novos companheiros: Timão e Pumba, um suricato e um javali, respectivamente. Moradores da selva e também duas párias, eles o ensinam a viver de acordo com o lema “Hakuna Matata”. Sem regras e responsabilidades, eles devolvem a alegria à vida de Simba e amenizam a dor e tristeza que o filhote carregava quando o encontraram. 

O reencontro de Simba com Nala, anos depois, acendeu a paixão que os dois sentiam um pelo outro e, foi importante para deixar recolocá-lo novamente à procura de um novo caminho. Entretanto, mesmo depois de ouvir o relato de Nala sobre a situação atual das Terras do Reino, Simba ainda sentia o peso de uma culpa que nunca foi sua e se recusava a voltar para ajudar sua terra.

Aqui vale ressaltar a trilha sonora da obra. Com músicas, letras e orquestras compostas e comandadas por Elton John, Tim Rice e Hans Zimmer, respectivamente, O Rei Leão também entrega uma composição musical incrível. Com vários clássicos, o filme venceu o Globo de Ouro e o Oscar na categoria de Melhor Trilha Sonora Original. “Can You Feel the Love Tonight” (Nesta Noite o Amor Chegou), música tema do reencontro e da relação entre Nala e Simba, venceu o Globo de Ouro e o Oscar de Melhor Canção Original. Elton John também ganhou o Grammy pela Melhor Performance Pop Masculina da música. “Circle of Life” (Ciclo da Vida) e “Hakuna Matata” também receberam indicações. 

O empurrão final que Simba precisava para conseguir reencontrar seu rumo foi dado por Rafiki, um mandril amigo do antigo rei. Ele avisa ao leão que seu pai vive e o leva a uma lagoa. Em uma linda cena, Simba observa seu reflexo na água e, à medida que as estrelas e as nuvens se mexem, a imagem de Mufasa é revelada. “Os grandes reis do passado olham para nós lá das estrelas. E sempre que se sentir sozinho procure lembrar que aqueles reis sempre estarão lá para guiá-lo. E eu também estarei”. Simba conversa com o “fantasma” de seu pai que o relembra de seu lugar no ciclo da vida e de quem é: detentor, por direito, do título de rei. Mais confiante, ele percebe que deve parar de fugir e finalmente revisitar sua história, cumprindo seus deveres como o verdadeiro sucessor do trono. Então Simba, Nala, Timão e Pumba partem para as Terras do Reino com o objetivo de salvar o território do domínio tirânico de Scar.

Em um confronto feroz, Simba contou com ajuda de todos os seus amigos para encarar as hienas, enquanto enfrentava Scar e seu passado. Durante a batalha, a verdade sobre a morte de Mufasa veio à tona e Scar teve um fim parecido com o de seu irmão. Não morreu após grande queda, mas foi traído, assassinado pelas hienas que um dia o tiveram como companheiro e aliado. Enquanto Simba assumia o trono, a chuva que voltava a cair nas Terras do Reino após grande seca, simbolizava a resolução do embate. Restabelecida a ordem e o controle, o filme encerra com uma sequência parecida com a do início do longa: Rafiki, no ápice da Pedra do Rei, apresentando a todos a filhote recém-nascida de Simba e Nala, e primogênita da realeza: Kiara. Enfim, o ciclo da vida havia recomeçado e dessa vez o futuro parecia promissor. 

Inspirado em Hamlet, obra de William Shakespeare, O Rei Leão também envolve tramas de traição e retomada de poder para representar o ciclo da vida como um “ciclo sem fim”. Assim, mesmo que uma fatalidade interrompa o ciclo natural, aquilo ou aqueles que pertencem a um determinado lugar irão, naturalmente, reencontrar seu devido espaço no tempo que for necessário.

“O passado pode doer, mas do jeito que vejo, você pode fugir dele, ou aprender com ele”. Durante o filme, Simba se depara com dois dilemas. O “Hakuna Matata”, modo de levar a vida despreocupado – “(…) os seus problemas você deve esquecer, isso é viver, é aprender…”. E o segundo dilema que, na obra, é introduzido através de Nala, Rafiki e da passagem do “fantasma” de Mufasa: uma conduta de enfrentamento dos seus problemas. O longa expõe a noção de que aprender e encarar o passado é melhor do que fugir dele para sempre. Porém, o filme também mostra que ambos estilos de vida são possíveis e podem funcionar de acordo com as pessoas e circunstâncias. Talvez, se Simba não tivesse experimentado o “Hakuna Matata”, ele nunca amadureceria como predestinado para assumir seu lugar no ciclo da vida. 

O Rei Leão (1994) possui a quinta maior bilheteria entre as animações da história da Walt Disney Pictures, apenas atrás de Divertidamente 2 (2024), Frozen 1 (2013), Frozen 2 (2019) e Zootopia (2016). O sucesso da franquia rendeu uma adaptação teatral de mesmo nome na Broadway, que está em cartaz desde 1997. Além da peça, duas séries animadas de televisão também estrearam – Timão e Pumba (1995-1999) e A Guarda do Leão (2015-2019) – e duas sequências menos bem-sucedidas: O Rei Leão 2: O Reino de Simba (1998), que conta a história de Kiara, filha de Simba e Nala; O Rei Leão 3 – Hakuna Matata (2004), que narra a história de como Timão e Pumba se conheceram e seus pontos de vista acerca dos acontecimentos do primeiro longa. 

Em 2019, o sucesso animado recebeu um novo tratamento em “live-action”. Feito em Computer Graphic Imagery (CGI), a obra conta a mesma história e faz parte de um projeto da Disney de adaptar clássicos renomados para um novo formato, como A Bela e a Fera (2017), Aladdin (2019), entre outros. Mesmo dividindo opiniões, o longa arrecadou US$1,662 bilhões e é a 10ª maior bilheteria da história. Essa saga de sucesso será retomada no dia 19 de dezembro de 2024 com a estreia de Mufasa: O Rei Leão. Como prólogo do filme original, a obra através de flashbacks, contará a jornada de Mufasa e Scar, ilustrando a continuação do ciclo dessa franquia tão amada.

Crítica: Pedro Henrique Mello

Supervisão: Joana Braga e Vinicius Nunes

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