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Cine Resenha – Condenados pela Mídia

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A série documental ”Condenados pela mídia” produzida por George Clooney, Ryan Murphy e Steven Brill e distribuída pela Netflix mostra como foi noticiado crimes que ocorreram nos Estados Unidos. Por meio de imagens da época e entrevistas atuais, os episódios mostram como a mídia estadunidense influenciou em muitos dos casos apresentados.

O primeiro episódio conta a história do assassinato de Scott Bernard Amedure, em março de 1995. Durante a gravação do The Jenny Jones Show, ele revelou ter uma paixão platônica por um conhecido, Jonathan Schmitz. A apresentadora provocou Scott com perguntas sobre seus sentimentos e suas fantasias, deixando o seu amigo desconfortável com a situação. O programa que inicialmente consistia em um formato de talk show, começou a se afastar de assuntos mais sérios para falar sobre testes de paternidade, concurso de talentos, paixões secretas, entre outros. Três dias depois, Schmitz foi ao trailer onde Scott morava e o matou com dois tiros no peito. 

Logo após o crime, Jonathan se entregou à polícia por meio de uma ligação telefônica, contando em detalhes o que havia acontecido. Em julgamento, o advogado de Schmitz, James Burdick, alegou que o réu passava por diversos problemas psicológicos, dentre eles depressão e bipolaridade, e que a suposta humilhação sofrida durante a transmissão do programa teria desencadeado um surto, levando-o a cometer o homicídio. O juiz condenou Jonathan por assassinato em segundo grau, aceitando as alegações do advogado. A série documental mostra que esse resultado também muito influenciado pela mídia.

Posteriormente a condenação, a família de Scott Amedure processou o programa The Jenny Jones Show por morte dolosa, com a alegação de que ele deveria se responsabilizar pelos danos causados. Segundo o irmão de Scott, até mesmo Jonathan foi uma vítima da exploração emocional feita por Jones. No entanto, após o júri condenar a Warner Bros a pagar 29 milhões de dólares à família, o julgamento acabou sendo anulado pelo Tribunal de Apelações de Michigan. O episódio não chegou a ser transmitido por completo na televisão, mas alguns trechos foram exibidos nos noticiários, que deram bastante importância ao caso. 

Os casos abordados mostra influência da mídia e seu desenvolvimento nos tribunais. Além de abordar questões importantes sobre o jornalismo, o primeiro episódio demonstra como os meios de comunicação podem abusar do interesse do público para conseguir audiência, passando por cima de questões de privacidade e responsabilidade emocional com os envolvidos. O que acabou acarretando uma grave consequência.

Outro ponto a ser discutido é como imprensa utiliza do sensacionalismo para atingir seus objetivos, o que traz uma reflexão sobre os limites da competição por audiência. A forma como a Court TV dirige a transmissão dos julgamentos de Jonathan e do programa The Jenny Jones Show, é justamente a mesma pela qual o programa é julgado como influente na situação do assassinato. Nesse sentido, o documentário mostra como a mídia consegue transformar os dramas dos tribunais em uma forma de entretenimento, e ainda lucrar em cima disso. 

Como apuração, os diretores escolheram apresentar os casos e a história por meio de entrevistas e imagens de arquivo de julgamentos, programas de auditório e do noticiário da época. No primeiro episódio, as entrevistas são usadas como artifício de narração, o relato de alguns profissionais envolvidos no caso, como os advogados, o irmão da vítima e especialistas, serviram como base e guia para o detalhamento do acontecimento. 

A linearidade da história é preservada com a ajuda da intercalação dos relatos e isso ajuda a mostrar diferentes pontos de vista, confrontando a veracidade de alguns. No entanto, com a abundância de personagens recorrentes apresentados na história, ela se arrasta e se torna confusa, apesar da tentativa dos diretores de reapresentar os personagens toda vez em que eles são mencionados. 

Além disso, mesmo com tantos ponto de vista, a série traz uma espécie de romantização dos casos. A trilha sonora e a montagem também colaboram para a sensação de assistir um drama. Por isso, a série faz exatamente o que critica: transforma os casos em mais um programa de entretenimento. 

Por: Ana Júlia Oliveira, Carolina Mie, Eloah Almeida, Francisco da Silveira e Gabriel Lorenzo

Supervisão: Maria Luísa Martins e Patrick Garrido

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