Juliana Dal Piva lança novo livro-reportagem no Rio nesta quarta-feira
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Na noite desta quarta-feira (12), a jornalista Juliana Dal Piva celebrou o lançamento de seu novo livro, no espaço da Livraria Travessa, em Botafogo. A obra, intitulada “Crime sem castigo”, acompanha o desenrolar do assassinato do ex-deputado Rubens Paiva (PTB), vítima da ditadura militar, em janeiro de 1971. O livro-reportagem traz à tona o até então inédito processo por homicídio e ocultação de cadáver feito em 2014 contra cinco militares apontados como responsáveis pelo crime, além de esmiuçar toda a investigação realizada desde o ano do desaparecimento de Rubens Paiva.
O livro é uma adaptação de sua dissertação de mestrado, que chegou a ser exibido no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas, no ano de 2016. Estão anexados nas páginas, o detalhamento da audiência no Judiciário em que os militares estão sentados no banco dos réus, a maneira como foi ocultado o corpo do político assassinado, e os documentos do Serviço Nacional de Informações (SNI), que monitorava a mulher de Rubens Paiva.
O espaço do lançamento reuniu alguns nomes famosos como a ex-líbero da seleção feminina de vôlei, Fabiana Alvim, além do comentarista da Globo News, Octavio Guedes. A presença de amigos e admiradores da autora ocasionou em grandes filas para tirar foto e ter um autógrafo de Juliana. O evento começou às 18:30 e teve uma duração de 3 horas, onde as pessoas podiam adquirir o livro no caixa. Enquanto esperavam na fila, era servido águas, refrigerantes e champanhe para os interessados.

O evento contou com longas filas para autógrafos (Foto: Júlia Mota)
Elaine Pereira, procuradora de justiça no Ministério Público do Rio de Janeiro, conta sobre a importância dessas obras para a construção de uma memória coletiva sobre os acontecimentos vividos no período da ditadura militar no Brasil. “avalio como fundamental que a gente tenha manifestações, seja no aspecto do cinema, da literatura, da própria mídia cobrindo esses fenômenos, vamos dizer assim. para a gente perceber o que tem de excepcional nesses períodos e o que tem de permanência”, completa.

Elaine Pereira avalia o sucesso do evento (Foto: Júlia Mota)
Após o fim da ditadura militar (1964-1985), ainda é possível avistar reflexos da violência política no estado do Rio de Janeiro. Artigo publicado no ano passado pelo pesquisador Huri Paz, da Universidade de São Paulo (USP), mostra que a região fluminense teve 94 políticos assassinados entre 1988 e 2022. Para a promotora de justiça, Roberta Rosa, o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) é um marco da violência política no Rio, ilustrando as inúmeras barreiras de violência contra a representação de grupos marginalizados na sociedade. “O impacto dessa violência vai até sob o exercício do próprio mandato, que impede o exercício democrático de estar ali. É um paradoxo que demonstra a fragilidade da democracia no Brasil”, ela enfatiza.

Roberta Rosa reforça a importância de revisitarmos o passado para que não cometermos os mesmos erros no futuro (Foto: Taís Vianna)
Na última quarta-feira (12), o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para revisar se a Lei da Anistia “ampla e irrestrita” deveria ser aplicada também para casos de agentes de segurança envolvidos no desaparecimento de ativistas políticos durante a ditadura militar. Para Roberta Rosa, a posição anterior do STF apresentava certa conivência, na medida em que “Reforça a permanência desse silenciamento, dessa discussão necessária sobre essa problemática das violências praticadas durante o período da ditadura.” A promotora acredita que produções jornalísticas, como o livro de Juliana Dal Piva, assim como obras artísticas, a exemplo do sucesso cinematográfico “Ainda estou aqui”, ajudam a reacender a importância desse debate, e revisitar o passado de um Brasil autoritário e violento, a fim de não repetirmos os erros históricos no tempo presente.
Foto: Júlia Mota e Taís Vianna
Reportagem: Taís Vianna e Vinicius Nunes
Supervisão: Ana Lúcia Araújo e Vinícius Carvalho