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Das pistas aos mares: o impacto dos esportes estreantes que conquistaram o Brasil nas Olimpíadas

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O Brasil não é mais o país do futebol. O surfe e o skate estrearam nos Jogos Olímpicos de 2020 e, após grande expectativa, se consolidaram como destaque entre as modalidades. Dentre as 18 medalhas em disputa, o país conquistou um ouro, com o surfista Ítalo Ferreira, e três pratas no skate, sendo elas de Kelvin Hoefler, Pedro Barros e Rayssa Leal, de somente 13 anos. O Comitê Olímpico apostou nessas categorias com intuito de atrair o público mais jovem devido à sua identificação com atletas e a cultura urbana. Três semanas após o término das olimpíadas, os esportes se tornaram uma sensação entre a população brasileira, trazendo esperança por mais investimentos e menos preconceito.

De acordo com um estudo realizado pela Confederação Brasileira de Skate, o Brasil tem 8,5 milhões de skatistas na faixa etária de 8 a 18 anos. É o segundo esporte mais praticado no país e só perde para o futebol. João Suisso, atleta de apenas 15 anos, conta que, apesar do grande número de praticantes, o skate ainda é muito marginalizado. “Não tem como negar que ainda existe sim preconceito quanto ao Skate, falam que é coisa de ‘vagabundo’ e drogado. Tomara que depois das olimpíadas as pessoas nos enxerguem com outros olhos, pois treinamos muito, nos machucamos e ainda tem pessoas que nos chamam de ‘vagabundos’.”

João já disputou competições pela América do Sul e pela Europa e é considerado uma das maiores promessas do skate brasileiro. O jovem atleta sonha em participar dos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris, e afirma que as medalhas conquistadas em Tóquio são uma grande inspiração. No entanto, a forte procura pelo esporte após as Olimpíadas evidenciou a falta de infraestrutura destinada à modalidade no Brasil, sendo necessária a criação de centros de treinamento: “As pistas onde treinamos ficaram muito cheias, está impossível treinar. Nós treinamos no mesmo lugar que o aprendiz, daí um atrapalha o outro. Ou seja, fica ruim para nós, atletas, e para as crianças que estão aprendendo”.

O Brasil também é uma das grandes potências no surfe. Nos últimos anos, o país já garantiu quatro campeonatos mundiais; dois com Gabriel Medina, um com Adriano de Souza e outro com Ítalo Ferreira. Atualmente, o Brazilian Storm, como é chamada essa geração, já garantiu nove atletas para o próximo ano de campeonato, sendo o país com maior número de participantes. Gabriel Pastori, surfista, acredita que no futuro dificilmente teremos uma geração tão forte como essa, que, dentre os trinta melhores atletas do mundo, o país se destaca e ocupa as três primeiras colocações.

Mesmo com o forte desempenho nos mares, a maioria dos atletas do surfe brasileiro sofre com a falta de investimentos financeiros. Gabriel explica que grande parte do dinheiro investido no esporte parte da iniciativa privada, e as condições seguem precárias. Na visão do surfista, a visibilidade trazida pelas Olimpíadas pode ser um importante ponto de mudança para esse cenário e trazer incentivos às categorias de base, que representam o futuro da modalidade.

Renan Rocha, surfista que representou o Brasil durante 15 anos no circuito mundial, conta que a maneira que o investimento é feito mudou, devido às aparições dos atletas brasileiros no topo do ranking. “O investimento vai aparecer, ainda mais com os meninos ganhando os eventos, se consolidando nas primeiras posições. Antigamente o dinheiro era mais voltado aos eventos, e agora são voltados aos atletas, eles são as estrelas.” Renan finaliza dizendo que com o surf nas Olimpíadas poucas pessoas poderiam deixar de olhar a modalidade como um esporte e que independente da competição, o estilo de vida do surfista vai mudar consideravelmente depois de virar olímpico.

A medalha de prata conquistada pela Rayssa Leal, a “fadinha”, já influencia de forma positiva o mundo do skate. Após as Olimpíadas, quatro vereadores de Curitiba já apresentaram propostas para construção de pistas ao longo da cidade, com o objetivo de incentivar o esporte. Jordana Amaral, praticante da modalidade, acredita que a “Efeito Fadinha” é um “pontapé inicial” para muitas meninas se interessarem pelo skate e para o esporte crescer, o que é desejo de todos skatistas.

A visibilidade após os Jogos Olímpicos promete impactar de maneira positiva os esportes estreantes. Segundo Renan Rocha, “enquanto o país estiver no topo do ranking essa prosperidade vai continuar, já que superar os brasileiros em performance é algo bem difícil”. O surfista acredita que “o momento é único e que deve durar por mais de uma década pelo menos, pois o futuro do esporte brasileiro deve ser brilhante”.

Reportagem: Beatriz Chagas, João Pedro Fonseca e Lucas Guimarães

Supervisão: Letícia de Lucas

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