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A influência do BookTok entre os jovens no mercado literário

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O avanço da pandemia da COVID-19 no Brasil foi responsável por uma queda no setor editorial. O fechamento de muitas livrarias levou ao questionamento sobre quais seriam os novos caminhos desse departamento. Enquanto esse cenário se tornava realidade no país, outras formas de divulgação de conteúdo literário ganhavam força na internet entre o público jovem. Dentre elas, o “BookTok”, hashtag que possui cerca de 18 bilhões de visualizações na plataforma TikTok, foi a de maior influência na venda de livros.

 

Na internet, as pessoas aproveitaram o período da quarentena para procurar e gerar novos conteúdos de entretenimento. O surgimento do BookTok ocorreu por meio de vídeos voltados para o público jovem, onde são compartilhadas resenhas, críticas e “trends” literárias, estimulando a leitura. Criadores desse tipo de conteúdo ganharam uma rápida popularidade e uma grande influência no mundo dos livros, alcançando uma marca de milhares de seguidores e fechando parcerias com diversas editoras e lojas.

 

Nélida Capela, que atua no mercado editorial e de livrarias, fala sobre a importância de manter uma parceria com os chamados “booktokers”: “Para sobreviver, a livraria precisa se aliar com quem fala e gosta de literatura, além de se atualizar sobre as novas plataformas e tecnologias para divulgar seu negócio”. Ela acrescenta que, para se adaptar ao atendimento remoto, as livrarias passaram a utilizar lojas virtuais. Procurando evitar o distanciamento dos clientes, foram organizados novos planejamentos de conteúdo das redes sociais e diversos eventos on-line. “O BookTok e seus influenciadores estão promovendo, a meu ver, a leitura, isso é o que importa. Se não houver leitores, não haverá livros, nem livrarias”, ressalta.

 

Por causa do TikTok, a repercussão e a procura de determinados títulos gerou um interesse do mercado literário em promover um espaço voltado para as indicações da plataforma. Exemplares infantojuvenis como “Mentirosos” (2014), “Um de nós está mentindo” (2017) e “Vermelho, branco e sangue azul” (2019) ganharam destaque entre o público jovem e passaram a ser os mais vendidos no Brasil, conhecidos como os “queridinhos do BookTok”. Clássicos da literatura também voltaram ao topo, como “Orgulho e Preconceito” (1813) e “O Morro dos Ventos Uivantes” (1847).  

 

A existência de críticos literários independentes não é uma novidade para a Internet. Blogs e canais no Youtube já compartilhavam dicas e resenhas antes do crescimento do TikTok. A influenciadora Izabela Lopes, que atingiu recentemente a marca de 135 mil seguidores na rede social, conta que está há quase dez anos escrevendo sobre livros. Com a criação de seu blog “Brincando de Escritora” em 2012, Izabela adaptou seu conteúdo às plataformas que surgiram. Ela relata sobre a responsabilidade que sempre teve ao trabalhar com o meio digital: “Eu tomo muito cuidado com o conteúdo que eu crio nas minhas plataformas em questão de não ter palavrão, de sempre chamar a atenção para a idade indicativa e de falar sobre a importância de respeitar as fases das obras”.

 

Outra influenciadora que participa há alguns anos desse nicho é Liv Gonçalves, criadora do Livresenhas no Instagram, TikTok, Youtube e na Twitch. Liv acredita que a quarentena tenha impulsionado o hábito de leitura: “Era um nicho muito fechado. E eu sei o quanto cresceu por causa da grande quantidade de pessoas que viraram leitores depois de ver um vídeo no TikTok. Além disso, eram pouquíssimos aqueles que faziam conteúdo literário quando eu comecei”, pontua. Segundo o relatório Painel do Varejo de Livros, realizado pela empresa Niel e divulgado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), os brasileiros estão consumindo mais livros durante a pandemia. Em março de 2021 houve um aumento de 38% em relação ao período de 2020, resultando na venda de um milhão de livros a mais.

 

Liv, que soma quase 190 mil seguidores em suas plataformas, discute a razão pela qual ainda faltam leitores jovens no país: “Eu acho que a ascensão do BookTok é a prova viva de que o problema nunca esteve na leitura. Eu acredito firmemente que a questão da literatura no Brasil é a falta de acessibilidade, já que os produtos são muito caros”. A influenciadora acrescenta que as pessoas descobriram meios alternativos para leitura, como o Kindle Unlimited, as obras gratuitas online e trocas de livros. “É um universo gigantesco que facilita a leitura em um país onde não tinha nada para facilitar”, finaliza. 

 

Reportagem: Clara Glitz | Maria Clara Patrício | Marina Leite

Supervisão: Gabriela Leonardi | Paola Burlamaqui

 

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