100 anos de Barbosa, o condutor do Expresso da Vitória
Compartilhar
Há 100 anos, no dia 27 de março de 1921, nascia o goleiro Moacyr Barbosa, mais conhecido como Barbosa. O arqueiro despontou defendendo as redes do Clube Atlético de Ypiranga, de São Paulo, e teve uma carreira recheada de conquistas defendendo as cores do Vasco da Gama. No entanto, sua imagem ficou marcada pelo gol sofrido aos 33 minutos da etapa final na decisão da Copa do Mundo de 1950, em um chute do ponta-direita Ghiggia, que decretou a derrota de 2 a 1 e o título mundial dos uruguaios. Hoje, quase 61 anos depois do jogo que veio a ser conhecido como “Maracanazo”, a memória dos feitos realizados embaixo das traves pelo guarda-redes segue preservada na história do clube cruzmaltino e no coração dos torcedores saudosistas. Mas, o verdadeiro motivo da longa e árdua condenação do goleiro brasileiro vai muito além das quatro linhas.
Conhecido como Homem de Borracha, devido a sua elasticidade debaixo das traves, o jogador sofreu com essa punição durante seus 79 anos de vida. Porém, a culpa que carrega não é resultado apenas do lance que definiu a derrota. A injustiça com Moacyr se consolidou através do racismo estrutural presente na sociedade e pela facilidade em culpar um negro, o que perseverou daquelas décadas até os dias de hoje. O preconceito em relação ao tom de pele do esportista e a transição que se via no futebol inflou sua memória negativa e não o permitiu viver de maneira totalmente tranquila. Um tempo depois do ocorrido, o jogador resumiu em uma frase histórica o peso de carregar esse fardo: “No Brasil, a pena máxima (de prisão) é de 30 anos, mas pago há 40 por um crime que não cometi”.
Nos últimos 56 anos, as escalações da Seleção Canarinho raramente contaram com a presença de um guarda-redes negro em partidas oficiais de Copa do Mundo. O preconceito persiste até os dias atuais, visto que, após Moacyr, Dida é o único representante negro a assumir a camisa 1 da seleção brasileira em mundiais. Tereza Borba, filha afetiva do arqueiro vascaíno, transmitiu um pouco das emoções sofridas pelo pai por conta de questões raciais: “Ser goleiro e negro naquela época era muita discriminação, então eles usaram isso para colocar toda a culpa em cima do Barbosa, de tudo o que aconteceu”.
Para muitos, a derrota de 7×1 sofrida pela Seleção Brasileira contra a Alemanha, em 2014, foi a redenção de Barbosa, mas Tereza não enxerga dessa forma. “É muito chato falar nisso, achar que a honra e a memória dele foram lavados com o 7 a 1, eu não acredito nisso não”, afirmou. De acordo com ela, ele preferiria que o Brasil vencesse. Por fim, mostrou sua admiração ao goleiro Júlio César e, apesar de ser ídolo de um time rival ao Vasco, se mostrou contente por não terem o crucificado: “graças a Deus o Júlio César não passou o que o Barbosa passou”, completou.
Após colecionar 18 títulos ao longo de sua carreira, Barbosa se aposentou aos 41 anos. Um dos membros fundamentais do histórico time vascaíno, conhecido como Expresso da Vitória, ajudou o cruzmaltino a ser o primeiro time do futebol brasileiro a conquistar um título em território estrangeiro. Sua filha relembra o fim da vida do goleiro como gratificante para ele e sua família. “Ele viveu muito bem, teve qualidade de vida, viveu feliz, nós tivemos momentos maravilhosos” afirma Tereza, “ele viveu em plena alegria e felicidade”.
Hoje, 100 anos após o seu nascimento e 59 anos após sua aposentadoria, o seu legado ainda vive. A torcida vascaína fez uma mobilização para nomear o centro de treinamento do clube de Moacyr Barbosa. O torcedor João Machado expressou sua opinião: “O movimento da torcida do Vasco de botar o nome do CT de Moacyr Barbosa é importantíssimo e eu sou 100% a favor de botar o nome dele no CT. Ele era um ídolo gigantesco do Vasco e merece muito isso”. Com a homenagem e aclamação da torcida vascaína, fica a esperança de que a memória do ídolo cruzmaltino seja eternizada pelas suas incríveis façanhas e pela sua carreira vitoriosa dentro das quatro linhas.
Reportagem: Felipe Rinaldi, Guilherme Rezende, João Pedro Fonseca e Lucas Guimarães.
Edição: Felipe Rinaldi
Supervisão: Ana Júlia Oliveira, Bruna Barros, Carol Mie, Pedro Cardoso