ESPM-Rio realiza mostra do documentário “Abaixando a Máquina 3”
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Nesta quarta-feira (02), a ESPM-Rio realizou no auditório uma mostra do documentário “Abaixando a Máquina 3: Crônicas do Jornalismo Policial e Outras Histórias”. Dirigido pelo fotógrafo e jornalista uruguaio, Guillermo Planel, o documentário foi exibido às 19 horas. Além de Planel, o evento contou com a presença do roteirista André Teixeira e do fotojornalista Severino Silva, além de ser seguida de uma conversa com os alunos.
As mudanças no jornalismo brasileiro desde o século XX até os dias de hoje são a principal temática do filme. O documentário faz parte de uma trilogia que busca analisar as abordagens jornalísticas ao cobrir casos criminais e tragédias. Em sua análise, Planel retrata as notícias falsas e sensacionalistas que dominavam o noticiário brasileiro do século passado, e como suas heranças ainda podem ser vistas em alguns aspectos do jornalismo atual.
O diretor menciona casos como o de Nelson Rodrigues e Sylvia Serafim, explicando como uma notícia sensacionalista pode impactar uma vida. A obra mostra que a cultura de apelar para o despertar de emoções sempre esteve presente nas páginas de jornal, e nos convida a refletir acerca da responsabilidade que carregam os veículos jornalísticos. Ao classificar a escrita das redações antigas como literárias, ele compara com a atual, e nota que as mudanças na postura jornalística são fruto do surgimento de faculdades de jornalismo, e das indagações das novas gerações de jornalistas que surgem com elas.
Outra questão que foi levantada foi o papel do fotojornalismo dentro das comunidades, principalmente após o assassinato de Tim Lopes, no ano de 2002 no Complexo do Alemão. O documentário ressalta que a morte do fotógrafo provocou mudanças na forma em que a imprensa é vista e como ela começa a se tornar um alvo do tráfico. Porém, durante debate com os alunos, foi refletido como a atual ascensão do jornalismo comunitário muda essa dinâmica, tendo em vista que quem passa a fotografar é quem está dentro das comunidades.
Para além das histórias contadas, o documentário também aborda o contexto do jornalismo da época. O longa enfatiza a existência de jornalistas analfabetos, que não sabiam ler, não sabiam escrever, mas, tinham um enorme poder de apuração e sabiam contar as histórias com excelência.
Durante a conversa, o roteirista do filme, André Teixeira, destacou como a mentira se mostrou o “fio condutor” dos depoimentos apurados na produção do documentário. Nesse sentido, foram mobilizadas as questões como a diferença do sensacionalismo do século XX para o da Era digital. Enquanto um primeiro sensacionalismo da imprensa parece apelar para um caráter lúdico das histórias, Teixeira avalia as atuais fake news com finalidade política, em busca de ganhos políticos para determinados grupos.
O documentário se encerra com uma reflexão acerca do poder que carrega uma câmera e um lápis, e como as narrativas podem manipular a percepção de uma realidade. Além disso, Guillermo Planel levanta a questão da finalidade dos jornais brasileiros, “Você vai fotografar, escrever uma matéria pra ajudar a sociedade ou pra vender jornal? Para que você faz isso? Para ajudar o próximo ou vender jornal pro patrão?”
Apesar das dificuldades em fazer jornalismo ético e de qualidade no Brasil, os convidados reforçam a beleza da profissão. Como imortalizado nas palavras de Gabriel García Márquez, em seu texto “A Melhor Profissão do Mundo”: “Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte.”
Reportagem: Davi Magalhães e Miguel Andrade
Supervisão: Carolina Dorfman e Vinicius Nunes