Como a Bienal do Livro contribui para despertar o interesse dos jovens pela leitura
Compartilhar

Um dos principais eventos de incentivo à leitura no Brasil, principalmente entre o público jovem, a Bienal Internacional do Livro do Rio acontecerá entre os dias 13 e 22 de junho, no Riocentro. Com a expectativa de atrair até 600 mil visitantes este ano, a 19ª Bienal utilizará o conceito de “Book Park” para apresentar um Parque Literário com diversas atrações interativas, que vão desde uma roda-gigante literária até um escape room, onde os participantes precisam resolver enigmas e desafios inspirados em obras de suspense.
O desafio para formar leitores no país ficou claro na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada em 2024: 53% dos entrevistados não leram nenhuma parte de uma única obra nos três meses anteriores ao levantamento. Esses eventos, a partir de ações imersivas, estimulam o interesse dos jovens pela literatura. “A Bienal é um momento onde temos uma visão muito maravilhosa do mundo literário, pois vemos milhares de jovens engajados na leitura”, afirma o escritor Átila Vila-Rio, 42.
A estudante de Publicidade e Propaganda da ESPM, Stefany Silva, 21, fala sobre como a leitura foi uma importante ajuda na escola. Stefany sentia muita dificuldade em ler e isso atrapalhava suas notas. “Eu tinha muita dificuldade na leitura, eu não gostava de ler, mas quando eu encontrei um livro que me marcou, e que me marca até hoje, eu comecei a ler qualquer livro”, declara a estudante, o livro mencionado se chama “Tudo é Rio”, escrito por Carla Madeira. Silva conta que suas notas melhoraram bastante a partir do momento em que ela sanou sua dificuldade em ler. Ela alega que a Bienal foi um divisor de águas na sua relação com a leitura. “Na primeira Bienal que eu fui, sai com vários livros e li todos em apenas alguns meses”, comentou Stefany.
A professora de literatura e língua portuguesa, Raquel Fraguas, 42, ressalta que o incentivo à leitura precisa estar presente desde a infância do indivíduo. Raquel explica que existem muitas crianças que não passaram pelo letramento completo, processo que acontece quando conseguem ler, escrever e compreender o que estão lendo e escrevendo. “Existem muitos alunos que são copistas, eles apenas copiam do quadro mas não conseguem entender” diz Fraguas, destacando também o letramento literário, que consiste em uma forma particular de letramento focado na compreensão de textos literários, de forma que estes não percam seu verdadeiro sentido.
Segundo o Retratos da Leitura no Brasil, 43% dos entrevistados leram livros por vontade própria e apenas 12% leram livros indicados pela escola. “Os alunos leem sim, mas eles não querem ler quando é uma obrigação” revela a professora. Fraguas explica a relação dos livros clássicos, pedidos pela escola, com os alunos. “Esses clássicos normalmente não tem nada a ver com o contexto do aluno(..) ele não consegue ter uma identificação com uma leitura assim”. A professora destaca que isso depende da maneira como o docente está despertando o interesse no aluno, e explicou a importância dos professores incentivarem a leitura de clássicos em sala de aula a partir de lições mais interativas, como por exemplo, ler o livro em sala junto á eles, para assim reforçar o entendimento e aprendizagem desses jovens.
Vila-Rio também citou a influência de produtores de conteúdos literários nas redes sociais para estimular os jovens a lerem. “Eu acho uma ferramenta útil demais, muitos jovens não embarcariam nesse universo literário se não fosse o incentivo, de repente, desse influenciador”. O escritor também fala do fenômeno “BookTok”, uma comunidade de perfis dentro do TikTok que compartilham vídeos a respeito de leituras, resenhas, recomendações e debates literários. Segundo Átila, esse fenômeno trouxe uma nova forma de chamar atenção dos jovens para a literatura.
Jovens se mostram muito animados a respeito dessa edição do festival. Stefany afirma que teve uma experiência incrível em sua última Bienal e que, esse ano, sua presença no evento estará confirmada. Raquel contou que seus alunos estão muito animados com o evento e as expectativas estão altas. Átila fala sobre a vontade de ver a comoção que acontece na Bienal ser algo cotidiano presente em nossa realidade. “Me deixa muito feliz ver aquela quantidade de jovens na Bienal, e fico a todo momento me perguntando, por que isso não se torna uma realidade nossa independente de evento? Essa coisa tão maravilhosa…” diz Átila.
Reportagem: Maria Eduarda Torres
Supervisão: Guilherme Freitas