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Novos dados divulgados sobre o analfabetismo no Brasil: Entenda as implicações

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Na última sexta-feira (17), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou novos dados sobre a alfabetização no Brasil. O censo, realizado em 2022, mapeou todo o Brasil através de visitas a domicílios e pesquisas. Os números revelam que a taxa de analfabetismo no Brasil caiu de 9,6% em 2010  para 7% em  2022. Ou seja, dos 163 milhões de cidadãos brasileiros a partir de 15 anos, mais de 11 milhões não sabem escrever ou ler frases simples. 

A pesquisa também revelou que a alfabetização varia muito por regiões do país, e denunciam as desigualdades pelo território brasileiro. Enquanto apenas 3,4% da população do sul do Brasil não sabe ler ou escrever, menor número dentre as regiões, 14,2% do Nordeste é analfabeto, o dobro da média nacional. Seguidos da região Sul, o Sudeste apresenta taxa de 3,9%, o Centro-Oeste de 5,1% e o Norte de 8,2%.

Algumas esferas sociais são mais afetadas do que outras. 1 em cada 5 brasileiros acima de 65 anos não sabem ler e escrever, ou seja, cerca de 20% deles. Essa faixa etária se classifica como a mais atingida. As mulheres também são mais alfabetizadas do que homens em todas as faixas etárias, menos acima de 65 anos. Os indígenas são os mais afetados dentre os grupos raciais listados pelo IBGE: 16,1% analfabetos, contra 4,3% de brancos, os mais alfabetizados. 

Porém, a quantidade de analfabetos reduziu em todos os estados brasileiros. Alagoas, o estado menos alfabetizado do país, passou de 75,7% em 2010 para 82,3% em 2022 da população total sabendo escrever e ler. Todo o Nordeste também desceu de 19,1% dos cidadãos analfabetos para 14,2%, diminuição significativa. Desde 1940, esse é o melhor índice do Brasil, com 93% da nação alfabetizada. 

O professor de Linguagens Douglas Coelho, de 32 anos,  afirma que a questão do analfabetismo é grave, pois a leitura não se trata apenas de decodificar palavras, mas sim de compreendê-las. Já tendo lidado com alunos que não sabiam ler, mesmo após o processo de alfabetização, ele afirma que a compreensão é um grande problema nas diversas etapas do processo de ensino-aprendizagem. Segundo o professor, existem poucas políticas públicas pensadas em combater o analfabetismo.

Douglas critica a falta de iniciativa governamental na educação: “Educação não é gasto, é investimento. Se os governantes investirem de verdade em políticas educacionais, a longo prazo, veremos mudanças em vários âmbitos da sociedade. É mais que urgente que programas contra o analfabetismo sejam expandidos buscando garantir a entrada e a permanência de todos os indivíduos nas escolas.” 

Um educador de referência na área é Paulo Freire, considerado um dos nomes mais importantes da pedagogia, ele foi responsável pelo que ficou conhecido como “Método Paulo Freire”, que estimula a alfabetização de adultos. 

Seu método de ensino é dividido em três etapas: investigação, tematização e problematização. Ao tornar-se um dos mais celebrados por educadores, e que revolucionou as formas de alfabetização no país, Freire explorou maneiras eficazes de ensino com alunos já adultos para que possam aprender compartilhando vivências entre si.

Na década de 60 quando o  método foi implementado, 40% da população brasileira era analfabeta. O projeto foi capaz de alfabetizar um grupo de 300 trabalhadores rurais em 40 horas. Para Freire, a educação não é neutra, mas sim um ato político. O projeto não pôde ter continuidade em decorrência do golpe militar. 

Em 2014, o governo sancionou um plano nacional de educação que teria por metas 20 melhorias no campo educacional, incluindo a erradicação do analfabetismo até 2024. Faltando três anos para o fim do período , nenhuma meta havia sido alcançada e cinco foram parcialmente completadas. Este foi o último projeto idealizado pelo governo que abrange a temática.

Reportagem: Davi Magalhães e Julia Novaes

Supervisão: Carolina Dorfman e Eduardo Gama