Até onde vai a influência dos filtros?
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Junto com o crescimento das redes sociais, surgiram novos recursos que mudaram a forma como as pessoas se veem, como os filtros. Embora os efeitos no Instagram tenham surgido em 2017, foi durante a pandemia do Coronavírus que se tornaram mais populares, causando uma grande onda na internet. Muitos usuários começaram a fazer uso desses efeitos por se sentirem mais confiantes com sua aparência. De forma geral, o processo de tirar fotos com filtros começou de forma natural e despretensiosa, mas o uso em excesso acaba tendo consequências por criar um “padrão de beleza” inexistente.
Os veículos de mídia cada vez mais dificultam mulheres de se sentirem confortáveis com sua imagem. Isso porque o mercado de filtros possui um faturamento exponencial, desde que foram lançados. Pequenos criadores da tecnologia de realidade aumentada comercializam filtros nesse mercado por até quatro mil reais, e cada criador desse produto pode ganhar em cima da quantidade de pessoas que os usam. O resultado disso pode ser visto todos os dias, já que usuários desses filtros estão encarando um processo de autonegação com sua imagem natural.
Alguns efeitos do Instagram têm o poder de transformar traços do rosto; aumentando os lábios, diminuindo a testa ou afinando o nariz, o que vem gerando um aumento na procura de procedimentos estéticos que façam essas alterações na vida real. A terapeuta Aline Fogolin afirma que a internet contribuiu para que as pessoas questionassem sobre sua beleza. “Eles não toleram mais a insatisfação com alguma parte do seu corpo ou do seu rosto, querem ser aceitos. Com isso, o público vai para uma cirurgia ou para um dentista, qualquer coisa que faça uma harmonização facial, para que mais uma vez você esteja dentro de um padrão socialmente dito como correto aceito e bonito”, disse.
Além da grande procura por procedimentos estéticos, os filtros que alteram drasticamente a fisionomia das pessoas estão gerando também uma grande revolta na comunidade negra pelo fato deles afinarem os traços e clarearem a pele. “O embranquecimento não é sinônimo de embelezamento, os tons devem ser respeitados. Infelizmente, hoje pessoas de pele preta têm dificuldade com filtros e, para se sentirem melhores, elas utilizam os filtros e tem suas peles clareadas e seus traços afinados.”, comentou a influenciadora Esther de Oliveira
A famosa Geração Z se sente diretamente influenciada pelas redes sociais e as vidas “perfeitas” que as pessoas demonstram levar. A Academia Americana de Cirurgiões plásticos alegou em um estudo que, 55% das pessoas que fizeram rinoplastia (cirurgia plástica no nariz) foi pelo desejo de sair melhor nas “selfies”, e que, cirurgias para afinar o rosto aumentaram sua procura em 20% só no Brasil entre pessoas de 15 a 25 anos.
Daniela Lemos, socióloga e professora, explica que os usuários necessitam usar esses filtros para se sentirem dentro do padrão, como uma forma de minimizar experiências dolorosas, já que eles, mesmo que de forma falsa, te aproximam do “ideal”. Consequências disso são apontados em um artigo publicado pelo Journal Of The American Society of Plastic Surgeons, onde estudos afirmam que os filtros de aplicativos estão causando transtornos disfômicos em jovens. A síndrome foi nomeada de Disformia do Instagram. Isso gera diversas doenças sérias como depressão, ansiedade, transtornos alimentares ou distorção de imagem.
Crédito da imagem de capa: Getty Images/iStockphoto
Reportagem: Arthur de Castro, Beatriz Mattos e Luana Maia
Apuração: Arthur de Castro, Beatriz Mattos, Leo Garfinkel, Luciana Campos e Luana Maia
Supervisão: Brenda Barros e Clara Glitz