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“Todo português falado no Brasil é correto”, diz Marcelo Fernandes

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Hoje, dia 5 de novembro, é comemorado o dia Nacional da Língua Portuguesa, que atualmente é falada por cerca de 260 milhões de pessoas, sendo a sétima mais falada no mundo, segundo o Instituto Americano SIL International. Entretanto, nem toda a população segue a norma culta, gerando diferentes formas de se expressar em um mesmo idioma.  Essas variações resultam em diversos dialetos regionais, socioculturais, históricas e situacionais. Dessa forma, um julgamento precipitado quanto a forma de comunicação de um indivíduo é a definição de preconceito linguístico. 

Em seu livro “Preconceito Linguístico: o que é, como se faz”, o professor e  linguista Marcos Bagno explica que não existe uma forma certa ou errada da linguagem, e que o preconceito provoca isolamento e exclusão social. Para o professor Marco Antonio Beja o preconceito linguístico vem exatamente da utilização da língua como forma de repressão, “Quase sempre num âmbito social voce distância o seu discurso daqueles que você considera inferiores e isso seria uma manifestação de preconceito”. 

O professor comenta também que a questão do registro padrão da norma culta é um complicador no Brasil pois para ele seria a representação do uso da língua na produção de linguagem daqueles que gozam de maior prestígio na sociedade. Para ele, aqueles  que produzem literatura até tem o domínio da língua, mas até nossos representantes políticos falam como qualquer cidadão, sem qualquer preocupação e cuidado com a língua, “Creio que isso seja fruto do fato de com essa globalização e esse crescimento louco dos canais de comunicação, o universo digital estabeleceu para os países de capitalismo tardio o inglês como língua ideal”.

Cláudia Varella, professora de Literatura e de Gramática, entende que a língua é segregadora, mas que também é um organismo vivo e que há uma diferença entre a língua escrita e a falada. Dessa forma, para o linguista não existe um português certo desde que haja compreensão do que foi dito. Já para uma gramático, a linguagem é correta baseado nas regras. “Uma língua sem regras não existe”, conclui.

Júlia Vieira, Mestranda em Linguística pela UFF,  diz que a norma culta é um fator que colabora para que haja o preconceito linguístico por ser considerada a forma mais correta de se falar e ser usada pelas classes mais altas. “Muitos falantes, a tomam como se fosse a norma padrão, se tornando superior às outras”, afirma. Segundo ela, o preconceito social aparece na forma de julgar e menosprezar a linguagem do outro, o que configura um preconceito linguístico. 

Para o professor e Doutor em Letras pela UFRJ, Marcelo Fernandes, da Academia Brasileira de Poesia, as dimensões territoriais como o Brasil, as variações históricas e socioeconômicas se entrecruzam e geram distorções de compreensão, entretanto, não se pode dizer que determinado modo de falar regional é mais ou menos correto. “Há o mito de o português mais bem falado é o “do Maranhão” ou o “do Rio de Janeiro”. Isso é uma falácia.  Todo português falado no Brasil é correto, desde que ajustado ao seu contexto e finalidade”, finaliza.

Academia Brasileira de Letras. Foto: Reprodução

Marcelo explica que o ensino de idiomas é algo segregador: “todo sistema linguístico pode imputar uma relação opressor-oprimido”. Segundo ele, é preciso entender que a língua possui variações, e que historicamente, quem domina a norma culta, domina quem não a tem.

Reportagem: Ana Júlia Oliveira, Beatriz Aguar, Carolina Oliveira, Diana Campos, Renan Adnet e Yan Lacerda.

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