CARREGANDO

O que você procura

Geral

O desafio de ser mãe e universitária simultaneamente

Compartilhar

 

Reportagem de Eliza Ranieri e Geovanna Bracet

 

A maternidade pode ser o sonho de muitas mulheres, mas, quando se é jovem, a possibilidade de trazer mais dificuldades é maior. Conciliar a tarefa de ser mãe com a vida acadêmica, por exemplo, é um obstáculo que nem todas conseguem enfrentar. Segundo pesquisa feita em 2015 pelo IBGE, o percentual de mães com 20 a 29 anos equivale a 49,6% do total de nascimentos no país. Paralelamente, a maternidade é responsável por 68% dos trancamentos de matrículas femininas em universidades, de acordo com pesquisa da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

Juliana estudando na companhia da filha Ana Liz. / Acervo pessoal.

Uma gravidez inesperada vem acompanhada de muitas responsabilidades, e principalmente, de medo. É o caso da estudante de Medicina Veterinária, Juliana Sadde, de 22 anos, que se assustou ao descobrir a gravidez. “Eu fiz o teste de farmácia em ligação de vídeo com meu namorado, ele estava viajando. Deu positivo e eu chorei uma semana inteira até ele chegar”, contou. Juliana disse que o fato de estar em um relacionamento sério há bastante tempo contribuiu para a tranquilidade de seus pais: “a preocupação da mãe é se o cara vai estar ali. A minha mãe sabia que o Matheus (marido) estaria do meu lado”. Ela contou que teve apoio de amigos, família e professores, que lhe deram todo o suporte para que não perdesse o período, já que sua gravidez foi de risco, e por isso, teve que ir ao hospital algumas vezes durante a gestação. Entretanto, ela falou sobre olhares estranhos que recebia na rua: “a primeira coisa que as pessoas olhavam era a minha mão para ver se eu tinha alguma aliança. A sociedade julga”.

A estudante de medicina veterinária com o marido e a filha. / Acervo pessoal.

A estudante, que casou com o pai da pequena Ana Liz, de 1 ano, teve que começar a trabalhar, além de estudar, para ajudar no sustento do lar. Nem sempre ela pode estudar em casa, por isso, opta por ficar na faculdade para poder administrar suas tarefas, enquanto deixa Ana Liz com a avó. “Eu entendo quem larga os estudos por causa de filho. Às vezes, eu pensava se essa não seria a melhor escolha, mas minha mãe sentou e conversou comigo sobre a importância de se ter uma profissão, que poderá sustentar minha família. Eu levo isso para a minha vida”, afirmou. Ao ser questionada sobre o que a fez continuar os estudos, Juliana respondeu que tem fé: “todos os dias, eu levanto, ergo a cabeça e peço ajuda de Deus porque é muito difícil. Quando eu chego em casa, eu estou “um caco”, mas brinco com ela. Eu tenho que brincar, eu tenho que deixar os problemas de lado”, falou. Ela se emocionou ao falar o porquê de insistir nos estudos: “quando eu quis desistir, eu olhava pra ela, e falava: ‘vou continuar e vou conseguir por você’, contou.

Juliana teve o apoio de seu marido, que, segundo ela, a ajuda muito. Entretanto, muitas mulheres têm que lidar com esses desafios sozinhas, como a estudante de direito Ágatha Simas, de 20 anos, que só conseguiu o apoio financeiro do pai de Anna Beatriz, de 4 anos, após recorrer à Justiça. “Ele não a vê, não a procura, não se preocupa. Não quer saber se está bem, se está doente, se precisa de roupa, comida ou remédio. Ele só deposita o que a Justiça determinou e mais nada”, disse. Por isso, a estudante conta com a ajuda dos pais, que não a deixaram desistir dos estudos e sempre lembram-na da importância deles na criação de Anna. Os planos que ela tinha antes da gravidez não mudaram: terminar a faculdade, advogar e ser delegada. “Estou indo atrás do meu sonho”, falou.

Ágatha no cinema com a pequena Anna Beatriz. / Acervo pessoal.

Contudo, nem todas conseguem seguir os mesmos desejos. Maria Bandeira Fraga, de 17 anos, cursa engenharia metalúrgica na UFF-VR, mas planejava estudar engenharia civil na UFJF e seguir sua vida em Juiz de Fora. A gestação veio no 3º ano, período que Maria se preparava para prestar vestibular. Com a gravidez, foi necessário continuar em sua cidade natal para contar com a ajuda da família na criação de Sofia, de apenas 3 meses. “Minha família me ajuda em tudo que eu preciso para que eu possa estudar e ela ficar em segurança”, contou.

A estudante de engenharia e sua filha Sofia. / Acervo pessoal.

Ao ser questionada sobre o maior desafio em ser mãe e universitária, Maria falou sobre a cobrança de uma sociedade que relaciona a imagem da maternidade com uma mulher que fica o dia todo dentro de casa cuidando da casa e da criança. “Mais pra frente, vou ter que deixá-la na creche para conseguir estudar e trabalhar. Isso não é só problema de mães que estudam, mas também das que trabalham, que ainda passam por um preconceito de pessoas que acreditam que mãe seja uma figura caseira”, afirmou. Para prosseguir com a vida acadêmica, a estudante disse que teve que colocar os pés no chão e que a motivação veio das despesas que sua filha vai gerar futuramente: “eu quero oferecer para a minha filha todas as condições que eu sempre pude ter”.

De acordo com pesquisa feita pelo IBGE, 1,1 milhões de brasileiras já praticaram o aborto voluntário, apesar de ser clandestino no Brasil. Todas as entrevistadas declararam que, em momento algum, pensaram no ato, e sim, em arcar com as consequências. Dessa forma, Juliana, Ágatha e Maria, seguem lidando com todos os desafios que a vida materna e acadêmica trazem, a fim de alcançar o bem-estar de suas filhas.