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Mulheres fora da caixa: a despadronização do papel da mulher na sociedade

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Reportagem de Bruna Lima, Dandara Franco e Victoria Mancino

 

Em março de 1911, 146 mulheres foram vítimas de um incêndio ocorrido na Triangle Shirtwaist Company, uma fábrica têxtil nova iorquina. Apesar de ser o acontecimento que se atrela à criação do Dia Internacional das Mulheres, comemorado em 8 de março, a data já havia se tornado popular antes disso. Em 1910, a greve geral de 13 semanas no setor têxtil contou com a participação das operárias da fábrica que, após um ano, se tornou cenário de um incêndio fatal. Esses fatos desencadearam uma série de protestos liderados por mulheres que reivindicavam melhores condições de trabalho.

Mais de um século após a criação da data, mulheres ainda se encontram na necessidade de lutar pelos mesmos direitos reivindicados no passado. Considerado por muitos de maneira equivocada como o sexo frágil, elas mostram que esse conceito é ultrapassado. O mantra repetido por elas ainda é considerado necessário: lugar de mulher é onde ela quiser. A luta diária busca conscientizar a ideia de igualdade, liberdade e respeito.

Voluntária do TETO, organização sem fins lucrativos,  há cinco anos, Thatiane Ildefonso, de 34 anos, ajuda na construção de casas em comunidades pobres do Rio de Janeiro. A funcionária pública descobriu a organização internacional através de uma amiga que fazia parte do movimento e, mesmo sem conhecer ninguém, resolveu se voluntariar. De início, sua mãe estranhou o fato da filha querer construir casas, mas, para Thatiane, a experiência agregou muito em sua personalidade. “É como se a gente se reafirmasse como mulher. É entender que não ficamos para trás em absolutamente nada. Temos tanta força, vontade de fazer e energia quanto os homens”, diz. Para ela, colocar-se nesse papel foi importante para seu empoderamento e desconstrução do conceito padrão de mulher frágil.

Thatiane em ação no TETO | Foto: Acervo Pessoal

Thatiane, uma entre as muitas voluntárias nas obras, já teve sua capacidade subestimada pelas famílias das casas. “É um pouco mais difícil porque tem uma questão cultural muito forte. Existe uma dominação do homem como a pessoa que sustenta a família”, explica. Em razão da grande quantidade de mulheres que trabalham no local, o conceito de sororidade feminina, apropriado pelo movimento feminista em alusão à ideia de união, se faz presente nas construções. Segundo a funcionária, já houve casos de voluntários tirarem o martelo da mão de uma mulher pois, segundo eles, ela estava demorando muito. “A gente sempre chega muito insegura na construção achando que não pode fazer muita coisa. Todo mundo tem esse processo de insegurança até entender que consegue”, desabafa.

A primeira mulher a assumir a diretoria da Fetranspor – Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro – após 60 anos de existência, também já passou por momentos difíceis. Assim como Thatiane, Richele Cabral atua em uma área majoritariamente masculina. Formada em Engenharia Civil e mestre em engenharia de transporte, a diretora comenta sobre seu convívio diário com homens, desde a faculdade até o seu cargo atual. Mesmo assim, Richele precisou compreender as diferenças entre os gêneros para que isso não influenciasse sua relação com os seus colegas de trabalho. “Tento não levar algumas coisas para o lado profissional, para que eles não percebam. Tem um lado deles que ainda acha que mulher é um sexo frágil”, explica Richele.

 

Richele, diretora de mobilidade da Fetranspor. | Foto: divulgação do site oficial

A diretora engravidou logo após assumir o cargo. Este foi um dos poucos momentos em que ela teve receio de não ser capaz de equilibrar todas as suas responsabilidades. Agora, passados seis anos, sua relação como mãe e diretora de uma grande empresa é bem resolvida, tanto para si mesma, quanto para a sua família. “Não me arrependo de nada e nem fico com a minha consciência pesada. Minha filha sabe lidar com esse estilo de mãe e quando chego oito horas da noite em casa ela pergunta porquê cheguei cedo”, afirma.

Diferente da engenheira, Luciana Peres escolheu o táxi devido à flexibilidade de horário que o trabalho proporciona. Entre os desafios da profissão apontados por Luciana o principal é trabalhar na rua. “A rua é complicada, eu já tive vários problemas de assalto, sequestro e clientes que tentaram me assediar sexualmente”, conta. Após  essas situações, a taxista passou a evitar fazer corridas com homens em determinados lugares depois de certo horário.

Luciana, no centro da foto, e a equipe da Táxi Rosa. | Foto: Acervo Pessoal

O que aconteceu com Luciana não é um caso isolado. Esse foi um dos motivos para a criação da start-up Táxi Rosa, empresa onde motoristas e passageiras são mulheres.  Segundo ela, a primeira reação das clientes ao entrar em seu carro é de alívio: “as meninas já falam logo ’graças a deus é mulher'”, comenta.  

Em meio a luta diária, mulheres como Luciana, Richele e Thatiane mostram que é importante não desistir, apesar dos obstáculos. “Se você entrou em uma área considerada masculina, não desista porque você pode não saber o que teria acontecido no futuro”, reforça a taxista Luciana.

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