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Bolívia em crise

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A Bolívia vem passando por uma crise política e humanitária nos últimos meses. Após a vitória no dia 20 de outubro, Evo Morales estava prestes a iniciar seu 4º mandato como presidente, porém denúncias de irregularidades na eleição provocaram o início das revoltas, que resultaram em pressão popular e ameaça militar, implicando na sua renúncia. Evo, encontra-se exilado no México. 

Muito se questiona sobre as últimas eleições de Evo Morales, a constituição boliviana não permitia a sua reeleição, mas ele manejou uma medida que permitiria ao presidente se reeleger, não só uma, mas 2 vezes. Dessa forma esteve no poder por três mandatos, e este ano, contrariando o plebiscito e as leis do país, concorreu novamente à presidência, provocando revoltas populares, que culminaram no cenário atual.

No momento o país vive de incertezas políticas e sociais. Depois da renúncia, apoiada pelos setores conservadores da sociedade, a figura que representou a oposição foi Luiz Fernando Camacho,desconhecido até poucos meses atrás, mas que ganhou notoriedade no cenário nacional com discursos contra a esquerda. Ele entrou no Palácio do Governo, com a ajuda de seus apoiadores, e depositou uma Bíblia na bandeira boliviana antes do anúncio da renúncia do presidente. Atualmente, o país é governado por Jeanine Áñez, a auto-intitulada presidente interina, que alega ter intenções de convocar eleições “transparentes” o mais breve possível.

Enquanto isso, até o país se estabilizar, ainda não há informações sobre o número de mortos ou feridos em protestos. A Comissão de Direitos Humanos da ONU divulgou que houve, no mínimo, 23 óbitos e exige que o novo governo declare os números mais atualizados, além de denunciar o decreto de Áñez que autorizou a participação das Forças Armadas e o uso de armas letais em repressão a manifestações. Em nota, a alta-comissária dos Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, contou que ações repressivas por parte das autoridades aumentarão a raiva da população, prejudicando qualquer possível diálogo. 

Manifestação na Bolívia. Foto: Reprodução Jorge Bernal / AFP

A definição dos acontecimentos tem sido motivo de discussão, o mestre em Ciências Políticas, Marcel Albuquerque, explica que a distorção sobre os conceitos de golpe e revolução atrapalha o entendimento da situação. “Um golpe rompe institucionalmente, mas mantém a estrutura hierárquica enquanto em uma revolução, ocorre uma reestruturação  no arranjo de classes”, explica. 

Com tudo que aconteceu nos 14 anos de mandato de Morales, muitas críticas a sua renúncia foram direcionadas à forma como aconteceu. “Se ele deveria ou não disputar um novo mandato é irrelevante”, opina o historiador Rodrigo Pires. Segundo ele, esse contexto foi uma desculpa para mascarar as ameaças contra o, até então, atual presidente. Ele ainda critica a forma como as elites latino americanas se utilizam da democracia apenas quando convém: “Quando interessa, a utilizam e defendem. Quando não, derrubam governos progressistas sem o menor pudor”. 

Mesmo os especialistas que reconhecem a renúncia do governo da Bolívia, entendem os erros cometidos pelo ex-presidente do país. O doutor em geografia, Rômulo Weckmüller explica que Morales errou quando atingiu o limite das reeleições. “Acaba sendo um erro comum dos governos de esquerda, que é o projeto que começa como um projeto de país e termina como um projeto de poder”, conclui.

Weckmüller também explica os efeitos que esta crise política na Bolívia pode provocar no território brasileiro. Segundo ele, as cidades na fronteira bolívia-brasil já estão sofrendo uma mudança muito grande, além do Brasil ser um dos principais importadores do gás natural da Bolívia, podendo afetar a economia nacional.

Os recentes acontecimentos na Bolívia estão relacionados com toda a América Latina, diz o Podcaster do Pulso Latino, Antônio Ferreira. Segundo ele, há ondas políticas em todo continente latino americano. Mariana Almeida, doutora em estudos latino-americanos, concorda. Ela explica que o momento se assemelha ao da Venezuela: “Com um presidente autoproclamado, como o Juan Guaidó, o exército e a polícia se dividem quanto a quem apoiar, mas ainda assim saem nas ruas para conter as manifestações”. 

As opiniões sobre a situação na Bolívia divergem. Para Alexandre Freitas, deputado estadual do partido NOVO-RJ, o que está acontecendo na Bolívia é uma convulsão social provocada pela esquerda. “Um presidente querendo se perpetuar no poder fraudou uma eleição, os militares intervieram, ele renunciou e assumiu uma senadora conservadora”, conta. Já para Chico Alencar, ex-deputado federal do PSOL são tempos de muita intensificação dos conflitos, e é preciso um trabalho de informação e educação popular. “São tempos sombrios para a `nuestra america`, mas há luta, há resistência, e não há escuridão que não seja sucedida por um amanhecer”, finaliza Chico. 

Reportagem: Ana Júlia Oliveira, Carolina Oliveira, Diana Campos, Renan Adnet e Yan Lacerda.

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