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Álbum “Eu Também Sou um Anjo”, de VND, chega aos 10 milhões de streamings

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Lançado em 2021, o disco traz referências à música brasileira e ao cantor Jorge Ben Jor

O álbum “Eu Também Sou um Anjo”, primeiro de estúdio do jovem músico carioca VND, chegou à marca de 10 milhões de streamings nas plataformas digitais, no dia 12 de fevereiro. Lançado em 2021, o disco se tornou um clássico recente do Rap Nacional devido aos tópicos abordados durante todo o projeto, além das fortes ligações com referências da música brasileira, principalmente com o cantor Jorge Ben Jor e o grupo Racionais MC’s.

O cantor utiliza o conceito de anjo para transmitir a ideia central de toda a obra. VND conta que o disco é uma forma de mostrar para todos, principalmente para os negros, que ainda há esperança e é possível brilhar como o ser celestial. “Por mais que muitas pessoas tenham feito alusão a Lúcifer, por ele ter suas asas arrancadas, a real é que aquilo ali significa toda dor que meu povo carrega, e o quanto é difícil conquistar as coisas vindo da onde a gente vem”.

VND em foto de divulgação do álbum/ Imagem: Marcelo Martins

A influência de Jorge Ben Jor, importante cantor da MPB, é visível em todo o álbum. VND tomou como base de suas ideias a música “Charles Jr”, que mostra um homem que não pertence à criminalidade, mas vive lado a lado com ela. “O disco tem muita influência do Jorge Ben pela forma que ele relata as coisas. Na própria Charles Jr., que foi da onde eu tirei o “Eu também sou um anjo”, ele exige ser compreendido como um ser humano comum. Naquela época, o cara já falava sobre pautas discutidas hoje, isso é genial”, conta VND.

O grupo Racionais Mc’s também é fortemente referenciado, tanto que a música de abertura do álbum se chama “Sobrevivendo ao Inferno”, nome similar ao disco de grande destaque do conjunto paulista. Inclusive, no mesmo som, VND se autodenomina como “a brecha que o sistema queria”, frase dita por Mano Brown em “Diário de um Detento” e que mostra que o Estado espera apenas um erro para “cortar as asas” de um anjo.

Em “Gatilhos Invisíveis”, o cantor narra uma situação vista pela janela de um ônibus: um confronto policial, que acaba com três mortos, na Avenida Brasil – rodovia do estado do Rio de Janeiro. Com isso, VND mostra que, assim como Charles Jr, não é ligado ao crime, mas é constantemente perseguido por ele durante sua vida. Para finalizar a história, VND toma como base a introdução da música e os acontecimentos citados durante a letra para moldar a saída, de forma narrativa.

[Intro]

Gatilhos Invisíveis

É o trafégo na Brasil

É o documento ilegível

Dinheiro é só papel

Estatística inumerável

É o roubo na Washington Luiz

Giroflex parado na Blitz

Dinheiro é foda

Rebola o cuscuz

[…]

[Saída]

Gatilhos Invisíveis

Três defuntos na Brasil

Sem documento legível

Morreu por causa de papel

Estatística inumerável

Deu fuga pela Washington Luiz

Giroflex parado na blitz

Dinheiro é foda

Balearam os três

VND não fica preso apenas na pauta da criminalidade, mas também retrata outros pontos importantes. Em “Cartas”, o artista aborda um relacionamento amoroso que não deu certo. A música conta com a participação de Amanda Sarmento e Tarcis e passa a ideia que é uma interação entre duas ou três pessoas. Em seu verso, Tarcis traz referências aos quesitos de julgamento utilizados para coroar a melhor escola de Samba do Carnaval, entre eles: enredo, harmonia e alegorias e adereços, que também é o nome da música que antecede “Cartas”.

A opressão policial sofrida pela população negra é contada durante todo álbum, mas se torna a mensagem principal em “Neguin, Pt. 2”, música em colaboração com o cantor Leall. Em seu verso, VND narra a história de um jovem negro, que estava sem seus documentos e se aproximava de uma blitz policial, o que gera calafrios e pavor ao homem. O medo é completamente justificável. Segundo a Rede de Observatórios da Segurança, o RJ foi o estado que mais produziu mortes em ações e intervenções das polícias, com 1.245 registros em 2021, mesmo ano de lançamento do disco, sendo 86% das vítimas negras.

Na música “Eu Também Sou um Anjo”, intitulada com o mesmo nome do álbum, VND fala sobre a tentativa de cortarem as suas asas negras, de forma com que ele se parecesse com o Diabo. Derxan nos leva para a perspectiva de um traficante no plantão, que recorreu ao crime para não passar fome e, devido a isso, precisa ser forte e conquistar o mundo. O cantor ainda relata que tentaram cortar as asas desse criminoso, assim como as de VND, mas, neste caso, conseguiram.

foto: Marcelo Martins

A marca alcançada por VND é algo especial, ainda mais para um artista underground, como o cantor. O que chama atenção é a preferência do artista pelo Boom Bap, vertente que estava em baixa em 2021, ao invés do Trap e do Drill, que tiveram grande ascensão no mesmo período.

VND conta que preferiu acreditar no que achava melhor para expor suas ideias e não naquilo que, talvez, geraria mais visualizações para ele, mas ainda assim está feliz com os resultados. “Eu sempre acreditei no que tinha dentro da minha cabeça. Por mais que essas vertentes estivessem em alta, eu entreguei o que o meu discurso pediu no momento. Talvez em questões de números seria maior, ou não também, 10 milhões não é todo dia que acontece. Esse álbum é um grande marco na minha carreira. Eu acho muito cedo pra dizer que temos um clássico, mas, se depender do público, ele já é um” comenta.

Para 2023, o cantor promete se aventurar em estilos diferentes e lançar dois novos projetos. Seu primeiro lançamento do ano foi “Drive By”, um Detroit em parceria com Viktor Vercetti, que já conta quase 10 mil visualizações em 7 dias. “Esse ano eu tenho um rosto novo e uma repaginada musicalmente falando. Eu venho estudando muita coisa fora do rap e está me fazendo bem experimentar. Se tudo der certo, tem um EP e um álbum pra esse ano”, finaliza VND.

 

Foto de capa: Marcelo Martins

Reportagem: David Silva

Supervisão: Gabriel Rechenioti, Heitor Leite e Maria Eduarda Martinez

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