“Zumbi não morreu, Palmares resiste”: a consciência negra na Baixada
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Reportagem de Dandara Franco e Leonardo Castelo
O dia da Consciência Negra promove diversas manifestações em todo o país, além da necessária reflexão sobre a desigualdade racial presente na sociedade brasileira. Incluído no calendário escolar em 2003 e oficializado como feriado em alguns estados brasileiros em 2011, a data marca o dia em que Zumbi foi traído, capturado e assassinado. Por conta disso, são promovidos eventos e shows para celebrar o dia 20 de novembro e a cultura negra. Na cidade de Nova Iguaçu, município do Rio de Janeiro, a data é comemorada com uma premiação chamada Troféu da Personalidade Negra, que parabeniza diversos personagens que construíram sua história na baixada e enaltece todo o poder de seus antepassados, além de ter a missão de mostrar para a nova geração toda a essência das raízes africanas.
Uma estatueta foi entregue a todos aqueles que representam o vencimento de barreiras na sociedade, como o compositor Neguinho da Beija-Flor, o mestre de dança Jomair e a ex-coordenadora de políticas pela igualdade social Tia Rosa. Na abertura, uma roda de capoeira composta por crianças, adultos e idosos apresentou uma dança de capoeira chamada “Maculelê”, representando a história do jovem guerreiro que, sozinho, defendeu a sua tribo das ameaças do inimigo.
Já a segunda exibição da noite foi a representação teatral de uma escrava fugitiva na época colonial. A apresentação artística contou a história da jovem que encontrou refúgio na sua fé e em suas divindades africanas como Oxum, Iansã, Ogum e Yemanjá após se esquivar de capitães do mato. Após encontrá-las, a personagem recupera as suas forças, seus trajes de escrava são trocados por um reluzente vestido longo, e seu cabelo, antes preso por um coque, é solto e passa a abrigar uma coroa dourada. O conceito da peça é mostrar que as divindades tem o poder de reerguer a população que foi escravizada e que viveu um longo período de sofrimento.
A programação do evento incluiu ainda um desfile de moda feminina com roupas típicas de países da África, como Guiné Bissau, Marrocos e Costa do Marfim, além de contar com elementos da cultura brasileira. Segundo as participantes, o evento serve para fortalecer a cultura e os costumes da população negra. Para Paola Vitória, de 18 anos, que trajava roupas típicas do único país da América Latina, o evento valorizou sua negritude.“Podemos expor nossa cultura e beleza de forma mais natural, já que durante muitos anos fomos oprimidas sobre a nossa própria história”, relata.
“A importância desse evento é imensurável, isso representa uma luta contra o racismo exacerbado que vivemos nesse país”, comenta Tia Rosa. Vestida com trajes e adereços típicos da Umbanda, religião brasileira que une aspectos do Candomblé, Catolicismo e Espiritismo, Tia Rosa recebeu o prêmio comentando sobre a extrema importância do feriado nacional, principalmente nos tempos que intolerância que vivemos: “Essa festa é pra conscientizar os nossos irmãos negros, que nós somos capazes de produzir vitórias.”
Já o fim da premiação contou com fotos, buquês de flores aos participantes, agradecimento aos organizadores e a Zumbi dos Palmares, personalidade histórica e líder do Quilombo dos Palmares há 322 anos, que é reverenciado até hoje como símbolo de luta e resistência. Ao som de muitos aplausos e gritos de Axé – uma saudação que emana boas energias e força – a plateia presente celebrou a cultura do povo negro, que luta para acabar com o preconceito e o racismo ainda nos dias atuais.