Um olhar de quem perde reconhecimento
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O Ministério da Educação (MEC) cancelou na última terça-feira (27) a 12ª edição do Prêmio Professores do Brasil, através de uma medida de portaria no Diário Oficial da União. Seriam três as categorias do evento: nacional, regional e estadual, além de serem incluídas temáticas como estratégias de aprendizagem por meio do esporte e do uso de tecnologias de informação. O evento acontece desde 2005, mas não ocorreu em três ocasiões, sendo a última em 2016.
Em 2018, 4.040 professores da rede pública se inscreveram para o prêmio. Eles estavam em busca de reconhecimento como agentes fundamentais da Educação Básica no Brasil, principal objetivo da cerimônia. Para a professora Juliana Soares, de 27 anos, no Brasil, onde o professor é tão desvalorizado, uma premiação desse porte oferecida pelo MEC, traz uma visibilidade e um incentivo para a atuação do professor em sala.
Segundo Juliana, a não realização do prêmio neste ano é mais um bombardeio à educação brasileira. “Cada vez mais os professores e alunos também são desmotivados, só perdem incentivo. Além disso a perda desse prêmio afeta o contexto histórico, social e cultural.”
Quando procurado, o Ministério da Educação informou que o posicionamento oficial já havia sido publicado em seu site. De acordo com a nota, o Prêmio Professores do Brasil não será realizado em 2019, mas a iniciativa será reestruturada e ganhará um novo formato a partir de 2020. “O intuito é fortalecer e divulgar as melhores práticas à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e ao PNE. O MEC trabalha para concluir o plano de ação, que abrigará um conjunto de programas para atender a formação e a valorização de professores, coordenadores pedagógicos e diretores das escolas de educação básica”, completa o pronunciamento.
O que mais gerou estranhamento na decisão do MEC foi que ocorreu exatamente no dia em que iriam ser anunciados os candidatos ao prêmio. O governo recentemente vêm modificando alguns projetos na área da educação, tendo recebido críticas e elogios. A escolha que mais dividiu opiniões foi o contingenciamento de gastos nas universidades públicas.
Desde a educação infantil ao ensino médio, a iniciativa da premiação distribuiria cerca de R$ 278 mil para educadores. A premiação seria em dinheiro, viagens e troféus docentes. Os premiados seriam seis nacionais, 30 regionais e 483 estaduais.
Raquel Santos Zandonadi, professora de Língua Portuguesa e coordenadora pedagógica em escolas de Cubatão e Praia Grande, em São Paulo, venceu em 2018 o prêmio na categoria Ensino Fundamental (6º ao 9 ano) e é uma das que lamenta a ausência da premiação neste ano: “Cancelar um prêmio que visa valorizar aqueles que contribuem de perto com a educação brasileira no dia em que sairia o resultado da primeira etapa, foi muito desrespeitoso com mais de 4.000 professores inscritos”.
O prêmio não só rendeu boas recompensas materiais para Raquel, mas também, principalmente, sentimentos que levará para toda a vida: “Ter reconhecimento nacional de um trabalho que desenvolvo no chão da sala de aula, em escola de periferia, numa cidade litorânea do estado de São Paulo, fez-me ter a certeza que estou no caminho certo”. A professora ainda completou dizendo que conheceu um Brasil esquecido, e se sentiu orgulhosa em fazer parte dessa história. “Conhecer um país de excelência educacional, reconhecido mundialmente, e descobrir que sua metodologia tem embasamento no nosso patrono Paulo Freire, foi, sem dúvida, empoderador!”, completou.
Matéria produzida por: Carolina Mie, Lucas Pires, Nestor Ahrends, Patrick Garrido, Pedro Cardoso e Yuri Murta