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Representantes do real: jornalismo e documentário

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  • Reportagem de Melanie Martins

“Pra quem faz jornalismo e documentário, o real parece uma questão incontornável. Porém, é insolúvel: você nunca vai esgotar o que é o real”. Segundo o cineasta Evaldo Mocarzel, esse é um dos problemas que jornalistas e documentaristas têm em comum. No 2º dia de palestras da Semana das Profissões da ESPM RJ, Mocarzel e o jornalista Daniel Brunet debateram sobre as semelhanças e as diferenças entre esses dois jeitos de se contar uma história.

 

Os jornalistas Evaldo Mocarzel e Daniel Brunet comentaram sobre suas produções na palestra./ Foto: Vinicius Soares

 

Mocarzel, que trabalhou por muitos anos na redação de jornais e que já produziu curtas premiados, como “Do luto à luta”, tem sua opinião bem definida: “Documentário não é jornalismo. O jornalismo tem uma abrangência maior, sobretudo em temas polêmicos”. Além disso, ele frisa que o jornalismo busca escutar, senão todos, mais de um lado da história, algo que não é necessário no documentário. Com o objetivo de passar uma ideia ou imagem sobre um determinado tema, o documentarista não se prende à outras visões que não pretende mostrar: ele trabalha com o recorte.

Brunet concorda com Mocarzel: “A obrigação do cinema não é informar ninguém, ele não foi feito pra isso”. Mas ele também pode ser usado para passar informação e tentar mudar vidas pelo Brasil, defende o jornalista. Diretor do curta “Plantão Judiciário”, no filme ele mostra por meio da história de 3 pessoas como as falhas nas redes de saúde (pública e privada) sobrecarregam a Justiça. Por acreditar na capacidade do cinema e querer ajudar, Brunet diz que tenta passar o filme em vários lugares, como favelas e para juízes.

Ainda falando sobre as diferenças entre jornalismo e documentário, Mocarzel defende que no jornalismo não teria tido tanto espaço para tratar a problemática dos sem teto, como fez na tetralogia de “À margem da imagem”. “O jornalismo me formou como profissional e ser humano, mas no documentário eu fiz reportagens que eu jamais teria conseguido fazer com a profundidade e com a combustão política no jornalismo. Você tem uma liberdade muito maior, mas o seu parâmetro ético é outro”, diz o cineasta. No caso de “Plantão judiciário”, Brunet defende que ele não caberia para o formato de reportagem: “O jornalismo não dá espaço pro cara falar 20 segundos. No cinema, você também vai editar o que ele fala, mas você vai dar mais tempo pra ele se expressar.”

Entretanto, jornalismo e documentário têm problemas em comum. “A discussão do real bate com o jornalismo. O quão você vai interferir no mundo, no dia a dia? O documentário tem situações bem semelhantes”, explica Brunet. O documentarista, mesmo que trabalhe com o recorte, também visa representar o real e, por mais que trabalhe com uma ética diferente, como Mocarzel apresentou, tem que se preocupar em como os recortes que selecionar vão alterar ou não o real. O cineasta também defende que, mesmo com linguagens audiovisual e textual diferentes, a observação é um ponto comum entre os dois: é a partir dela que esses profissionais entendem a visão de mundo do outro

­­­Além disso, os dois palestrantes comentaram como a carreira de jornalista ajudou aos dois quando adentraram no universo do filme documentário. “O jornalismo me ensinou a fazer exercícios de alteridade que eu levei pro cinema, ou seja, de ver a vida através do olhar do outro”, lembra Mocarzel. Sempre tentando absorver a essência do discurso de seu entrevistado para fazer uma reportagem, o cineasta comenta que adorava “entrar no mundo do outro e dar uma forma audiovisual para aquela visão de mundo”. Já Brunet defende que “Jornalismo e documentário estão no mesmo campo de atuação. Ser repórter ajuda você a ter noção de onde tá a história”.

Jornalismo e documentário, como fica claro na palestra, andam separados em muitos quesitos.  Porém, se assemelham um ponto primordial que se resume bem na frase de Brunet: “Todos nós somos contadores de histórias”.