Provas à distância: vestibulares em tempos de pandemia
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As provas de vestibular das universidades são um marco importante do ano acadêmico para milhões de jovens pelo país. São grandes eventos que acontecem religiosamente todos os anos, cada uma com suas particularidades já conhecidas pelo universo estudantil. Essas provas têm por característica reunir muitas pessoas em um mesmo lugar ou em diferentes lugares, o que no ano de 2020 foi impossível de realizar. Sendo assim, as universidades do Rio de Janeiro tiveram que reinventar seus tradicionais métodos de seleção, e adotar novas formas de realizar seus vestibulares. Instituições como PUC, IBMEC, ESPM e FGV optaram por promover um processo seletivo 100% online.
Cada universidade construiu sua avaliação de uma maneira distinta, buscando modos de implementar uma avaliação online que fosse 100% segura, eficaz e à prova de consultas ou “cola”. Entre os novos desafios estavam criar uma prova que testasse os conhecimentos do candidato e, ao mesmo tempo, fiscalizasse a sua conduta, já que presencialmente esse controle é mais simples.
A tradicional prova da PUC foi completamente remodelada. Aconteceu em dois domingos, (25/10 e 1/11), como no formato convencional. Os candidatos receberam um link da chamada três dias antes dos dias de prova. Também foi obrigatório o download de um app que bloqueia o computador durante o período da prova, para evitar a entrada em outros sites. Os estudantes precisaram dar acesso a tela do seu computador, além de microfone e câmera. Era proibido sair do campo de visão da câmera. Durante a prova o candidato precisava responder a mensagens no chat para confirmar que estava conectado, além de passar por uma inspeção através de vídeo da sua mesa ou bancada de prova, para verificar que não havia colas. Todas as questões foram de múltipla escolha, além de uma redação digitada, com limite de palavras.
O vestibular da IBMEC, no dia 6/11, adotou um sistema semelhante a da PUC, porém com uma peculiaridade. A prova só pode ser feita em Windows, além de ser realizada toda no mesmo dia.
O vestibular da ESPM se dividiu em duas etapas: a primeira consistiu em uma entrevista virtual com o professor do curso escolhido pelo candidato, para avaliação de competências individuais básicas, que ocorreu entre os dias 15 a 23 de novembro; A segunda, que aconteceu nos dias 19 e 21 de novembro, foi a realização de uma redação, também de forma online, em que o candidato tinha três opções de temas para escolher e gravar um vídeo explicando o raciocínio utilizado para escrever seu texto.
Já a Fundação Getúlio Vargas (FGV), fez seu vestibular no dia 22/11, realizando uma prova em quatro blocos. Foi adotado um sistema de reconhecimento facial, além da presença de um fiscal observando os candidatos durante a prova, que poderia solicitar a qualquer momento que o aluno mostrasse com a câmera o ambiente ao seu redor ou seu papel de rascunho. Ficou proibida a saída do ambiente de prova sob qualquer circunstância. Também foi estipulada a gravação da avaliação, que seria conferida posteriormente.
O coordenador pedagógico do Colégio Anglo-Americano, Jorge Coppolo, possui uma visão negativa da avaliação online. “Acho que a avaliação online ainda teria que ter muita coisa pela frente. É a primeira vez que todo mundo faz isso… Acho que não valida o conhecimento do aluno. Não concordo muito com a realização do vestibular online”. Jorge compreende a necessidade das universidades de realizar os processos seletivos, para receber novos alunos e captar recursos, mas não acha que deve ser feito de forma virtual. “Eu esperaria“. O professor reconhece que foi um ano difícil para os vestibulandos e que o aprendizado com certeza não foi o mesmo nas aulas online, pela dificuldade dos alunos em se adaptar ao sistema a distância, ficando no computador durante horas.
A aluna do cursinho De A a Z Manuela Mahfoud, fez as provas de vestibular do ano passado e deste ano, passando por ambas as experiências presencial e online. Para ela, a principal diferença está no foco. Ela explica que na prova presencial o aluno acaba sendo obrigado a focar mais, pelo ambiente e regras do local. Já em casa, cria-se um ambiente mais propício a se distrair, já que se trata de um lugar associado a descanso e lazer.
Manuela deixa bem claro sua preferência pelo presencial. “Prefiro no formato presencial, porque apesar do online permitir uma maior autonomia em que você pode fazer a prova da sua casa, de uma maneira confortável, o presencial é feito de uma maneira obrigatoriamente organizada, o que evita muita distração, e te faz estar 100% focado para a prova.”
Em contrapartida, para Pedro Meireles, aluno do 3º ano do Colégio pH, o processo seletivo de maneira virtual foi uma experiência positiva. Pedro afirma que o ambiente de casa foi bom para ter mais calma na hora da prova e ter um tempo mais flexível por não precisar se deslocar para o local da avaliação. “Esperava que ia ser pior no início do ano. Eu me senti um pouco mais calmo por estar no ambiente de casa e não precisar ir até o local da prova e ver muitas pessoas que assim como eu, estariam nervosas, o que cria um ambiente com bastante pressão. Em casa, você acaba ficando mais confortável.”
Ao analisar algumas provas, o professor de Língua Portuguesa e Redação do colégio e curso pH, Diogo Ólio, percebeu uma ligeira mudança no conteúdo das questões. “Algumas bancas já anunciaram que teriam uma prova mais tranquila, a própria prova da PUC que já aconteceu, ao meu ver, pelo menos em língua portuguesa que é onde eu consigo opinar, veio mais tranquila, analisando o contexto de vestibulares particulares.” Diogo explica que o momento atual que vivemos influi no conteúdo das provas mas não na correção. “É óbvio que esse contexto vai trazer um impacto na construção dessas avaliações. É muito mais viável uma alteração na prova, no nível de dificuldade nas questões, do que na correção em si.”
Para o professor a maior dificuldade dos alunos foi em relação ao formato das provas, que era desconhecido e inédito para todos, tanto para os alunos quanto para os professores. As provas nunca foram realizadas dessa forma. “Por mais que as bancas tivessem dado tutoriais explicando como seriam as provas, a dúvida foi generalizada e os alunos ficaram muito inseguros. Eles têm medo de na hora conexão cair, do aplicativo não abrir, não funcionar, não conseguir responder. Muitos vieram falar comigo, eles tem medo ter ter um rascunho, e o fiscal que pode visualizar o aluno pela webcam alegar que ele está colando.”
Reportagem: Leo Garfinkel e Tiago Tassi
Supervisão: Carolina Mie e Patrick Garrido