Os desafios para a sobrevivência do cinema alternativo
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Reportagem de Beatriz Lessa, Letícia Rivoli e Isabelle Xavier
Os cinemas com circuito de filmes alternativos enfrentam dificuldades para se manterem no Rio de Janeiro, devido ao desafio de competirem com grandes redes, como Kinoplex, Cinemark e Cinepólis, que exibem longas comerciais. Isso pode ser explicado pelo fato de só existirem salas de cinema em 27 dos 92 municípios existentes no Rio de Janeiro, segundo a Secretaria de Cultura do Estado. O Cine Joia, em Copacabana, e o Cinemaison, no Consulado da França, são alguns exemplos desses estabelecimentos.
O Cine Joia foi aberto em 1969, ficou inativo por 6 anos e retomou as atividades em 2011. Contém apenas uma sala, em que, além da exibição de filmes variados, são feitas as atividades do Cineclube, que remetem a filmes clássicos. Um exemplo é o Cinedrink, evento que analisa diversos filmes, como os do diretor Quentin Tarantino. Essa iniciativa do Cineclube promoveu uma sessão especial de análise do filme”Pulp Fiction”, em que bebidas temáticas foram oferecidas. Carolina Jabino, de 23 anos, é funcionária do local e conta que o projeto é essencial para a renda do Joia, especialmente quando não há lançamentos da distribuidora que mantém contato, a Emo Vídeo. “Nós ficamos muito reféns da distribuidora, então quando eles não têm nenhum filme, começamos com as sessões de cineclube”. Além dessas sessões especiais, Carolina diz que a bombonière é fundamental para o local conseguir se manter. Eles também oferecem alguns festivais de filmes estrangeiros, como o de franceses e suecos. Essas são películas passadas devido ao contrato que mantém com os consulados destes países. “Às vezes, conseguimos produções exclusivas, que só passam aqui e nos consulados”, conta a funcionária.
O sistema do Cinemaison é diferente. Os filmes são exibidos durante as segundas-feiras e nas noite das terças-feiras. As sessões são gratuitas e qualquer um pode se filiar ao cinema pelo e-mail, adquirindo uma carteirinha. Por isso, Thomas Sparfel, de 35 anos, responsável pelo Maison e pela Cinemateca da Embaixada francesa, explica que muitos dos recursos financeiros vêm do Itamaraty, órgão responsável por estabelecer uma relação entre o presidente e os demais países por meio das embaixadas. “Sobre a fonte de renda, tem uma parte do orçamento do Itamaraty que está voltada para a compra de direitos de filmes”. Sparfel diz também que não se preocupam muito com recursos financeiros, já que o real retorno é o prestígio que a França tem no mundo do cinema, por ser um centro de produção cinematográfica de referência.
De acordo com Sparfel, o cinema da embaixada francesa consegue manter proximidade com o público graças às estratégias criadas. “A gente tenta se adaptar a atualidade. Se tem um diretor que está lançando um filme agora, e a gente tem outros filmes dele no acervo, organizamos uma programação. E também tentamos conhecer nosso público, por exemplo, temos aquele que só vem para ver os clássicos, então vêm todos os coroas do bairro. O importante é conhecer o nosso público.” A Cinemateca tem cerca de mil parceiros relacionados ao circuito cultural, entre eles museus, universidades e cineclubes. O Cinemaison é a “vitrine” de cerca de 1500 filmes legendados exclusivos, como “Cessar Fogo”, de 2015, e “Pacientes”, de 2016. “Não estão nas salas de cinema comerciais ou em serviços de streaming”, diz . São produções recentes e algumas delas encontram dificuldade na hora de exportar e vender para um distribuidor. Ele conta que o cinema alternativo ocupa uma posição de relevância no Brasil, já que as grandes redes de cinema valorizam as produções comerciais. O circuito alternativo, segundo Sparfel, “tem o papel de dar uma segunda chance aos filmes, dar uma vida à eles.”