Palestrantes da III Semana de Jornalismo discutem censura nos meios de comunicação
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Na época da ditadura militar, censores telefonavam para as redações com uma lista de assuntos proibidos ou mesmo se faziam presentes, cortando trechos de reportagens. Hoje, o cerceamento à liberdade de imprensa é mais sutil e está sendo exercido pela Justiça. Foi o que sustentaram o jornalista Marcelo Auler e a professora Sylvia Moretzsohn, da Universidade Federal Fluminense (UFF), em debate na III Semana de Jornalismo ESPM Rio, realizado na última terça-feira à noite, no Centro do Rio de Janeiro.
O palestrante Auler, autor do Blog do Marcelo Auler, contou que foi obrigado, por decisão judicial, a retirar do ar oito postagens feitas esse ano em seu blog. As matérias apontavam erros da operação Lava Jato. “Eu não sou contra combater a corrupção, sou contra a forma ilegal como eles estão combatendo”, afirmou.
Marcelo fez comparações sobre as formas de censura da época em que iniciou sua carreira com os dias atuais. “Antigamente, existia a lista de assuntos proibidos que não podiam ser debatidos na mídia. Essas proibições chegavam às redações através de telefonemas anônimos”, explicou. Ele também lembrou que muitas vezes os censores se faziam presentes, como no caso do jornal O Estado de S. Paulo, que substituía trechos das reportagens censuradas por poesias de Luís de Camões ou por receitas de bolo. O jornalista viveu em períodos em que existia uma grande censura dos meios de comunicação, como é o caso da ditadura, quando acompanhou o movimento das Diretas Já, e do impeachment do presidente Fernando Collor.
Sylvia Moretzsohn, que faz contribuições para o site Observatório de Ética Jornalística (objETHOS) mostrou o caso de um jornalista do jornal O Globo que vazou informações sem fundamento, lembrado por ela para sustentar a tese feita por Auler de que o vazamento de informações da operação Lava Jato foi feito de forma leviana. Lauro Jardim, em sua coluna de estreia no jornal, afirmou que o deputado Baiano teria pagado as contas do filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Porém, esta informação não era verdadeira, e o jornal teve de pedir desculpas em sua capa. Moretzsohn alertou sobre os cuidados que devem ser tomados ao realizar esse tipo de matéria, ressaltando o compromisso que o profissional deve ter com a apuração.
A jornalista acredita que a sociedade tem direito de saber tudo de inconstitucional que vem ocorrendo no país e que vazamentos como os das investigações da Lava Jato, quando verídicos, fazem relação justamente com o conceito do Quarto Poder exercido pelas mídias. Ela também fez uma crítica à forma como os jornalistas são prejudicados quando processados: “A justiça defende o que é conveniente, não o que é justo”.
A diferença entre liberdade de expressão e liberdade de imprensa também foi discutida. Segundo o site Observatório da Imprensa, a primeira se define como o direito à manifestação e à intervenção de cada indivíduo em relação a questões de interesse geral, que impede que a imprensa seja submetida aos abusos de poder. Já a segunda, é definida como a livre circulação de informações e ideias com a preocupação de fizcalizar e controlar esse abuso de poder. “A liberdade de imprensa passou a ser vista de maneira deturpada. Não pode confundir esses dois tipos de liberdade”, encerrou Sylvia.