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BUSSUNDA: a maior perda da Copa do Mundo de 2006

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Essa foi a última foto de Bussunda antes de falecer

 A noite caía em Parsdorf, um bairro a 16 km de Munique, quando o elenco do programa Casseta & Planeta, Urgente! voltava de um dia longo de gravação naquela Copa do Mundo de 2006. O ator Cláudio Manoel havia comprado uma bola de futebol e organizara uma partida entre o grupo para comemorar aquele momento de alegria entre amigos na Alemanha. Às 19:30, horário local, o humorista Bussunda reclamou de cansaço, motivo que os levou a voltar para o Erb Best Western – um hotel quatro estrelas que foi o lugar escolhido pela Globo para abrigar o elenco e a equipe de produção do programa. Ao voltarem para seus quartos, os amigos preocupados com a reclamação do humorista, ligaram para o ator para perguntar se estava tudo bem. O último a ligar recebeu uma resposta incisiva. Cláudio Manoel, escutou um: “se deixarem eu dormir, vai ficar tudo ótimo”. Na manhã do dia seguinte, 17 de junho de 2006, Bussunda sofreu um ataque cardíaco e faleceu dentro do quarto de hotel, oito dias antes de completar 44 anos de idade.

 Os últimos momentos até a morte do humorista na Copa, quando a perda não foi do Brasil, foi para o Brasil

Na véspera do fatídico dia 17, Bussunda foi o primeiro a ser liberado das gravações e foi dar uma volta por Munique. Comeu em um típico restaurante alemão que servia em seu cardápio salsichas, linguiças e cervejas artesanais nos tradicionais copos gigantes de vidro. O humorista chegou a indicar o restaurante a seu amigo Cláudio Manoel, mas o eterno Seu Creysson conta que, quando viu os fartos pratos na mesa dos clientes, desistiu na hora. Manoel também decidiu passear pelo centro da cidade alemã. Comprou camisas de time para seus sobrinhos e uma bolinha de futebol para seu afilhado, o filho do companheiro de programa, Hélio de la Peña.

Chegando no hotel, decidiram jogar uma pelada num campinho próximo, mas não sabiam da dificuldade que ia ser o jogo contra o time adversário. Eles decidiram parar, porque além da reclamação de cansaço do Bussunda, o elenco do Casseta & Planeta tomou uma goleada. Os adversários – um grupo de garotos americanos – comemoraram incansavelmente, talvez porque nunca imaginaram que poderiam ganhar de craques como Ronaldo Fofômeno, Marrentinho Carioca e Tévez. Após a partida, o grupo voltou para o Erb Best Western e um dos produtores do programa percebeu que não era só um cansaço que Bussunda estava sentindo e, sim, algo mais sério. 

O maior medo do humorista naquele momento era perder a Copa. Ele era extremamente apaixonado por futebol e adorava participar dessas coberturas. Todas as vezes que perguntavam se ele queria um médico, Bussunda parecia subestimar o que estava sentindo, dizendo que o mal-estar já iria passar. Mesmo assim, o produtor não deixou de avisar aos colegas da situação do ator. 

Cláudio Manoel conta que conversou com Bussunda quando chegou no hotel. “Eu passei a mão na nuca dele e percebi que estava gelada pra caralho, mas ele respondeu que tinha passado uma água e por isso estava assim”, descreveu o humorista. No caminho de volta, Bussunda realmente havia passado mal, chegando a sentar no meio fio da calçada. Beto Silva, Hélio de la Peña e o produtor Eduardo Belo ficaram preocupados. Belo correu para pegar uma jarra de água gelada e filtrada para que o ator bebesse, mas ele acabou jogando na nuca. 

No hotel, Bussunda foi ao quarto do produtor executivo do programa, Daniel Vincent, e disse estar sentindo dor de cabeça. Danão, apelido do produtor, providenciou uma aspirina e disse que voltasse caso não se sentisse melhor. Nessa época, o humorista já tomava remédios para o coração e fazia acompanhamento médico com o cardiologista Flávio Palheiro, mas decidiu não contar a ninguém sobre os medicamentos. Ele também havia esquecido a medicação no Brasil, da qual fazia uso para controle da pressão arterial. 

Na manhã do dia 17 de junho de 2006, por volta das 7:00, Cláudio Manoel foi acordado por um telefonema. O ator não estava escalado para as primeiras cenas daquele dia e por isso achou estranha aquela ligação do diretor do Casseta & Planeta, José Lavigne, logo cedo. “Atendi e ele já falou direto: Bussunda teve uma parada cardíaca. Eu pulei da cama, peguei o primeiro short que vi e fui”. O quarto do Cláudio era muito perto do quarto do Bussunda. A porta estava entreaberta, e ele entrou. “Ele estava deitado no chão de barriga pra cima, sem camisa e o desfibrilador no peito”, conta Manoel. “Foi a última vez que vi o meu amigo”. 

Bussunda, antes do Bussunda

Cláudio Besserman Vianna era carioca e nasceu no dia 25 de junho de 1962. Nascido e criado no bairro de Copacabana e fanático pelo Flamengo, chegou a ser militante do Partido Comunista do Brasil influenciado pelos pais: o médico Luís Guilherme Vianna e a psicanalista Helena Besserman Vianna. Ele era judeu, mas não era praticante. Cursou Comunicação Social na UFRJ, mas não concluiu o curso. Na faculdade, ele colecionou 46 reprovações, ficou 2 períodos sem passar e levou 38 zeros, chegou a ganhar um concurso informal de pior aluno do curso. 

Ganhou notoriedade ainda na universidade, quando começou a escrever para revista Casseta Popular, idealizada por seus futuros colegas de trabalho: Beto Silva, Marcelo Madureira e Hélio de la Peña. Em 1989, conheceu sua esposa, Angélica Souza, com quem viveu até falecer. Eles eram da mesma turma na UFRJ e com ela, Bussunda teve sua única filha, Júlia Vianna. 

O humorista era tão apaixonado pelo rubro-negro carioca que chegou a comprar uma cobertura na Selva de Pedra, condomínio no Leblon, de onde conseguia ver os treinos do time na Gávea. Além de ator e humorista, Bussunda também era cronista e chegou a ter colunas nos jornais Estadão e Folha de São Paulo, onde escrevia sobre esportes.

Com seu cabelo grande e despenteado, dentes grandes, separados e para frente, Bussunda se achou no humor. Dizia usar suas habilidades humorísticas como válvula de escape para fazer sucesso com as “gatinhas”, pois era carioca, não era surfista, não tocava violão e não era magrinho. Fazia as pessoas rirem falando suas piadas num mesmo tom, sem nuances e sem entonações. Cláudio Besserman Vianna era engraçado sem fazer nenhum esforço.

Reportagem: Leonardo Marchetti e João Pedro Abdo 

Supervisão: Gabriela Leonardi e Juliana Ribeiro 

Crédito da foto de capa: Fred Landim

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