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A estética da libertação

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O reality show, Big Brother Brasil, produzido pela emissora Globo, na sua 20ª edição, levantou inúmeras reflexões e discussões acerca de questões sociais. No entanto, o racismo e o preconceito foram estabelecidos dentro e fora da casa. Um dos símbolos mais criticados pelos internautas foi o Pente Garfo utilizado por um dos participantes, Babu Santana. Os comentários nas redes começaram após a fala  da participante Ivy Moraes, que  fez “piada” com o objeto e questionou: “Quem penteia o cabelo com um ‘trem’ desse?” no dia 15 de março, e persistiram até a eliminação do participante, no dia 25 de abril.

Em resposta aos comentários de que ele estaria se vitimizando, o ator Babu Santana, disse em entrevista ao Rede BBB logo após sua eliminação, que lamenta as críticas. “A minha vida algumas vezes foi cruel comigo e algumas pessoas enxergam isso como vitimismo. Eu enxergo como aprendizado.”, explica. Ainda no programa o brother falou sobre o significado do uso do pente. “O black é a coroa e o pente é a libertação”, reflete.

O pente é um instrumento estético muito utilizado para dar mais volume sem perder a definição dos cabelos crespos ou cacheados, segundo a cabelerereira Wanusa Corrêa, de 42 anos. No Brasil é comum encontrar esses objetos em farmácias e em  lojas de cosméticos. Isso acontece porque, segundo o estudo realizado pelo Kantar WorldPanel, 51,4% dos brasileiros tem os cabelos originalmente cacheados ou crespos. 

No entanto, o pente garfo, ao longo da história, se tornou muito mais do que um adereço e uma questão de beleza. O professor de história e mestrando em Relações Étnico Raciais, João Marcos Bigon, conta que o pente garfo surgiu como um objeto de cerca de 6 mil anos antes de Cristo no Egito. “O que a gente entende hoje como estética tinha outra conotação para aquele povo”, esclarece. Ele também explica que a aparência era um tipo de linguagem, comunicava uma posição política ou religiosa. João fala também sobre como esse objeto ainda é, hoje no Ocidente, uma forma de símbolo político que foi resgatado depois do movimento Black Power nos Estados Unidos. “O mercado cultural e a mídia utilizou as causas negras e o empoderamento negro para fazer dinheiro e mercado em cima disso”, critica. 

Dessa forma, o cabelo crespo também um símbolo de resistência e de beleza, segundo o palestrante e militante Levi Ferreira, de 26 anos. Ele conta a sua vivência e diz que ao sair do padrão e adotar o crespo muitas pessoas ao seu redor tinham estereótipos e preconceitos muito grandes. Ele também fala sobre a importância de assumir a sua identidade e “mostrar pro mundo que nosso cabelo é dessa forma e que ele também é belo”. Para Levi, aceitar quem e como você é constrói uma autoestima que gira em torno da sua essência e identidade. “É parte de um processo de despadronização de beleza europeia que está dentro de nós”, explica. 

 Reportagem por: Ana Júlia Oliveira e Eloah Almeida.

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