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Dia dos professores: desafios na base da educação brasileira

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Foto tirada em festa de natal. Divulgação: Lorrayne Barreto

Hoje é comemorado o Dia do Professor. Embora a data tenha sido oficialmente proclamada pela UNESCO em 5 de outubro de 1994, no Brasil a celebração ocorre no dia 15 de outubro.

Quase 200 anos depois, o professor brasileiro ainda luta pela valorização de seu ofício, seja ela financeira ou até mesmo social e moral. O piso salarial para professores no Brasil está entre os mais baixos em comparação com outras profissões, sendo 47% inferior à média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A professora da rede pública de ensino Natália Viana, que dá aulas para o ensino fundamental na Escola Municipal Eusébio de Queiroz em Padre Miguel, comenta sobre a rotina exaustiva desses profissionais:

“A maior parte dos professores tem uma demanda, uma carga horária de trabalho muito superior ao aceitável porque acumulam cargos. Essa acumulação de cargos, acumulação de turmas ou sobrecarga de horário, está muito relacionada à baixa remuneração salarial que não garante boas condições. Tem professores que precisam acumular várias matrículas.”

Natália explica que além dessas obrigações, a docência ainda exige um esforço emocional, intelectual e humano que muitas das vezes também não entram na conta. Ela aponta uma movimentação nos últimos anos que contribuiu com a tentativa de desvalorizar a imagem e o papel dos profissionais da educação:

“Com esse avanço das pautas conservadoras, você consegue perceber a virada de chave que tem com alguns responsáveis. Pessoas que às vezes nem participam da comunidade escolar, mas que tem sempre um comentário sobre a educação.  Como se o professor fosse quase um opositor. Ele vira uma ameaça, aquela pessoa que escolheu trazer conhecimento e ampliar debate.”

Outro desafio do século XXI é a própria atenção do aluno, que disputa contra a quantidade incessante de atrativos dos celulares e das telas. Em todos os níveis de ensino, o educador hoje precisa se reinventar, equilibrando toda essa inovação com o insubstituível afeto.

A  Lei nº 15.100/2025, que restringe o uso de celulares nas escolas, já está em vigor desde o dia 13 de janeiro, a medida, segundo o Ministério da Educação (MEC), visa proteger saúde mental, física e emocional dos estudantes, além de contribuir para a melhora da aprendizagem e do desenvolvimento socioemocional. Apesar desse esforço, segundo a pediatra Déborah Tonelli, o excesso de estímulos visuais e auditivos comprometem os níveis de atenção da criança, o que torna o exercício da profissão docente ainda mais desafiador, exigindo constante adaptação a novas práticas, comportamentos e às transformações das novas gerações.

Karla Priscilla, professora do 2º ano do ensino fundamental no Colégio QI, vivencia diariamente essa realidade e observa o impacto direto de como o uso precoce das telas influencia o comportamento dos alunos:

“Trabalhar com crianças do 2º ano é uma experiência linda, mas também cheia de desafios. Um dos principais, hoje em dia, é ajudá-las a desenvolver o gosto pela leitura e pela escrita em um tempo em que tudo acontece muito rápido.” E destaca as principais dificuldades dessa nova geração: “Dificuldade de manter o foco, de esperar a vez, ou de se envolver em atividades que exigem mais tempo e paciência.”

Apelidada carinhosamente de “tia Pri”, ela também ressalta as pressões do dia a dia: “Já houve momentos em que me senti muito sobrecarregada, por conta de tantas demandas e por eu achar que não daria conta…me questionava se eu conseguiria continuar naquele ritmo”. 

A coordenadora pedagógica Lorrayne Barreto do Centro de Educação Infantil Regina Sessim, em Nilópolis, também compartilha suas experiências e reflete sobre os diversos desafios enfrentados no cotidiano da rede pública de ensino. Em sua fala, ela destaca algumas de suas demandas:

“O que mais exige de nós é a parte emocional, ainda mais lidando com a rede pública que é a qual eu atuo. A carência da comunidade é algo que mexe com toda a equipe. Com isso, a escola prepara sempre festividades temáticas, reuniões com dinâmicas animadas, para integrar toda equipe e sair da rotina.”

Assim como a Lorrayne, Natália ressalta a importância de atuar com sensibilidade no exercício da docência, especialmente em contextos marcados por diversas vulnerabilidades:

“As crianças percebem quando elas estão no lugar de acolhimento, quando elas se sentem escutadas e quando elas são respeitadas nesse lugar”. 

A professora ainda reforça a importância de levar esse tipo de debate para dentro de sala, estimulando os alunos a se expressarem e a desenvolverem o pensamento crítico. “Quando eu vou discutir identidade, pertencimento, ancestralidade, desigualdade social e a forma como essa desigualdade se desdobra no território, eles conseguem facilmente identificar os ambientes, os contextos onde eles moram e o quanto isso impacta.”

O cenário da educação brasileira é marcado por desigualdades históricas. Em muitas regiões, ainda faltam condições básicas para o funcionamento adequado das escolas, como infraestrutura, materiais didáticos e formação continuada para os professores, que em muitas  das vezes, precisam intervir em questões que vão além do ambiente escolar, especialmente em comunidades marcadas por situações de extrema vulnerabilidade social.

Todos os impasses e limitações enfrentados não diminuem a importância fundamental da profissão docente, que é  base e  alicerce para o desenvolvimento de todas as outras carreiras e áreas de atuação na sociedade. 

 

Reportagem: Laura Araújo e Luana Bentes

Supervisão: Vinicius Carvalho

 

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