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Morte no Irã desencadeia onda de protestos no país

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Mahsa Amini, de 22 anos, morreu no dia 17 de setembro em Teerã, capital do Irã, quatro dias após ser presa por não usar corretamente o véu, ou hijab, obrigatório às mulheres pela lei iraniana. A jovem estava sob custódia da “polícia da moralidade”, unidade policial encarregada de punir os cidadãos que não estejam enquadrados no código de vestimenta do Estado. Alegando que a jovem teve um ataque cardíaco, o governo divulgou fotos da iraniana em coma.

O hijab é uma peça de vestimenta utilizada na doutrina islâmica; o pano de tecido é posto em volta da cabeça deixando apenas o rosto à mostra. De acordo com essa cultura, o hijab tem o intuito de preservar a modéstia, privacidade, e a moral das pessoas, em sua maioria mulheres. O véu, que é constantemente criticado pelas culturas ocidentais, é rigorosamente usado na maioria dos países do Oriente Médio.  

Historicamente, o Irã tem uma reputação bem conservadora. A professora e pesquisadora Monique Goldfeld explica que a Revolução Islâmica de 1979 congregou diversos grupos descontentes com as consequências do regime do Xá Reza Pahlevi, monarca que governou de 1925 até 1941, deixando mudanças profundas no país. No final, o poder acabou concentrado nas mãos daqueles que impuseram um regime tido como islâmico. O governo desde então é centralizado, pautado por uma narrativa islâmica xiita, ou seja, que não aceita o comando de outra pessoa que não seja descendente do profeta Ali. Reconhecem apenas as escrituras do Alcorão e seu líder religioso é chamado de Imã.

O ocorrido em Teerã causou protestos em volta de todo o país, com mulheres queimando os seus véus em praças públicas. As manifestações, que estão perto de completar um mês, causam preocupação à ONU, principalmente pelo fato de a polícia iraniana ser conhecida por sua violência e fatalidade. Sofrendo de dificuldades de comunicação com o país pela restrição do governo do Irã, a ONG Iran Human Rights estima que 185 pessoas tenham sido mortas durante os protestos.

Além das mortes, diversos advogados, ativistas e jornalistas foram presos durante este período. Segundo o Comitê para a Proteção aos Jornalistas (CPJ), organização sem fins lucrativos estadunidense, ao menos 25 profissionais foram detidos até o momento. O escritório dos Direitos Humanos da ONU solicitou a liberação dos encarcerados e a restauração dos serviços de comunicação.

Em meio aos protestos, a atleta iraniana Elnaz Rekabi, que representou o país em uma competição asiática de escalada no último domingo, participou da disputa sem usar seu hijab. Nesse contexto, a criadora de conteúdo islão Samia Serhan pontuou sobre as diferentes formas que essa atitude seria julgada: “Devemos ver o que está previsto na legislação iraniana, porque lá eles veem com uma outra perspectiva. Deve ser analisada a legislação do Irã e não a do Islamismo, porque não necessariamente a punição que é determinada pelo Alcorão é aplicada pela lei Iraniana. […] Quando estamos falando da religião, a pessoa está cometendo um pecado. ” 

A atleta negou ter agido de propósito, afirmando que estava focada no equipamento de escalada ao invés do hijab e foi chamada para competir inesperadamente. Ainda não se sabe ao certo qual medida será tomada após a competidora ferir restrições impostas pela República Islâmica do Irã. Após retornar à Teerã nesta quarta-feira (19), Elnaz foi ovacionada por sua atitude, mesmo que tenha sido acidental. 

Foto: Rhea Khang/Federação Internacional de Escalada Esportiva via AP

No ocidente, atrizes e militantes de vários países têm cortado as pontas de seus cabelos como forma de protesto e mostra de solidariedade por Mahsa. Com uma repercussão não tão positiva, uma parte do público alega que, enquanto no Irã as manifestações são ferrenhas e põem em risco a vida das manifestantes, aqui todo esse movimento tem um tom mais performático.

Reportagem: Mateus Gomes e Pedro Zandonadi

Supervisão: Anna Julia Paixão e Leo Garfinkel

Foto de capa: Ozan Kose / AFP

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