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“O meu maior medo é decidir voltar, ficar no avião e ter alguém com coronavírus, ficar contaminado e passar para os meus pais”. (Leonardo Chaves)

A França está entrando na 4ª semana de quarentena, somando 8.911 mortes no total e chegando a registrar 833 em 24 horas. A terceira morte no país foi na cidade de Lille, no dia 2 de março. O estudante de engenharia Leonardo Chaves, 22 anos, que atualmente está fazendo intercâmbio na École Centrale de Lille, mora na cidade de Villeneuve-d’Ascq e nos contou sobre a situação que vive no país.

 

Portal: Há quanto tempo você está estudando na França?

Leonardo: Estou na França desde julho de 2018, vai fazer quase 2 anos. Estou aqui para fazer duplo diploma, um tipo de intercâmbio que te dá diploma nas duas faculdades, na do Brasil e na que eu estou fazendo o intercâmbio. Estou em Lille, no Norte da França, um dos lugares mais frios daqui.

 

Portal: Como está a situação na França em meio a quarentena?

Leonardo: Aqui na França temos uma lei que proíbe a gente de sair, então toda vez que a gente for sair para a rua temos que assinar um papel dizendo o motivo da nossa saída, sendo que eles já falaram quais são os motivos permitidos e não permitidos. Por exemplo, os mais comuns são ir ao mercado para compras de necessidades. Não são todos os mercados que podem ficar abertos e é permitido fazer exercício físico há um quilômetro da casa com duração máxima de uma hora.

 

Portal: Como está a sua rotina após a crise do novo coronavírus?

Leonardo: Além de acordar e dormir muito mais tarde, as aulas aqui não estão mais tão frequentes como antes. Na maior parte dos casos os professores passam trabalho, então a gente está tendo que estudar por conta própria, fazer o trabalho e depois temos uma hora de aula por semana, para tirar dúvidas com o professor. Além disso, estou focando mais em um blog que eu tenho e no meu MBA que estou fazendo por fora também. A gente obviamente tem que procurar coisas para passar o tempo e não ficar pensando no que está acontecendo. Então, eu voltei a jogar bem mais videogame, que era uma coisa que eu tinha praticamente deixado de lado. Além de estar lendo livro, eu comecei a fazer ioga e exercício de calistenia. A ioga eu já fazia antes, mas a calistenia é uma coisa que eu usava a academia para fazer e agora eu tive que mudar.

 

Portal: As pessoas estão respeitando a quarentena ou ainda há pessoas circulando nas ruas?

Leonardo: Como eu falei, existe a regra de que as pessoas podem sair para fazer exercício ou mercado, portanto, ainda há uma quantidade de pessoas que se encontram nas ruas. Pessoalmente no meu caso, eu moro numa residência que tem um gramado aberto para todos de dentro da residência e nesse gramado ficam umas 10 pessoas no período da tarde, só que todas bem espaçadas. Geralmente, as pessoas que moram juntas saem e ficam no próprio grupo dentro desse gramado e não tem muito contato com pessoas de fora. Todas as vezes que eu saí, sinceramente, não vi muita gente na rua, a não ser aquelas pessoas com carrinho de mercado ou praticando exercícios. Então, na minha opinião, sim, eles estão respeitando a quarentena. Obviamente sempre tem aquelas pessoas que não respeitam, mas como aqui desrespeitar a quarentena pode levar à multa, no geral as pessoas acabam respeitando.

Portal: Como é estar em quarentena em outro país? Está sendo difícil lidar com esta situação?

Leonardo: Como estou no país há bastante tempo, acabou não sendo um baque tão grande, porque eu já estou acostumado com a vida aqui. Eu já tinha uma noção de como funcionavam as coisas, então já sei quais são os mercados mais pertos, os que vão e não vão ter fila. Então, não está sendo tão complicado. As coisas que mais impactaram aqui, foi a mudança de rotina, de eu não ver mais os amigos franceses que eu via antes. Além disso, a parte médica, pois no Brasil eu teria noção de como funcionaria o sistema se eu ficasse doente, já aqui se eu ficar doente eu não tenho tanta noção. As únicas vezes que eu precisei usar o sistema médico aqui, foram problemas musculares, o que é totalmente diferente de estar doente, precisar ser internado ou algo do tipo. Com isso, a gente às vezes tem muito medo de não ter reembolso depois, além de que estaríamos pagando com euro, que com toda essa crise, está 6 reais. Portanto, acaba ficando bem mais caro o custo de vida. 

 

Portal: Como os estudantes se sentiram com o fechamento do “Parc de la Citadelle” e à suspensão de outras atividades?

Leonardo: A Citadelle de Lille é um parque que a cidade tem e é um lugar muito bonito e bom para passar o tempo. Mas, sinceramente, como eu moro em Villeneuve d’Ascq, uma cidade satélite de Lille, que é basicamente um “São Conrado da Zona Sul”, estamos há sete estações de metrô de distância. Então, a gente praticamente só vai lá quando queremos ir em algum bar ou alguma boate. Eu não fui afetado diretamente, mas provavelmente quem mora em Lille pode ter sido. Em relação à suspensão das atividades, posso falar que na École, minha faculdade, as associações esportivas e intelectuais foram fechadas. Isso tem sido o que mais afetou à nós, estudantes, até porque não podemos sair.

 

Portal: A universidade permite que os estudantes voltem para o Brasil? 

Leonardo: Podemos voltar para o Brasil. Muita gente preferiu voltar, assim como muita gente preferiu ficar. A maior parte das pessoas que já estavam aqui há mais de um ano decidiram ficar, já que iriamos voltar para o Brasil em julho. Além disso, para mim e para a maior parte dos brasileiros com que conversei, a escolha de ficar aqui é para não ter chance de infectar os parentes. O meu maior medo é decidir voltar, ficar no avião e ter alguém com coronavírus, ficar contaminado e passar para os meus pais. Preferi ficar aqui sozinho. Obviamente, todos os brasileiros estão se ajudando no que precisar, se alguém ficar doente vamos comprar remédio, a gente fornece comida e fazemos o que precisar para a pessoa. Porém, não tem como negar que é muito solitário não ter família aqui. Isso tem um impacto bem grande.

Reportagem: Ana Júlia Oliveira, Gabriel Lorenzo, Gabriela Estrella, Leo Garfinkel, Lucas Geia, Lucca Gaspar, Maria Luísa Martins e Paola Burlamaqui

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