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Estudantes da ESPM Rio organizam um Coletivo de Diversidade Racial

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No dia 6 de agosto, os alunos da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM Rio) se depararam com uma cena fora do habitual. Um texto, colado nos muros do campus, pedia o início do chamado  “Coletivo Diversidade” e denunciava a falta de representatividade preta nos professores e estudantes da instituição. A mensagem foi escrita por Catarina Gabriel, de 25 anos, aluna de cinema e audiovisual da ESPM que idealizou o movimento.

De acordo com Catarina, a ideia nasceu no início deste ano, a partir da sua experiência nas primeiras semanas de aula. “Me assustei principalmente quando entrei na minha sala e olhei ao meu redor. Não é fácil frequentar um ambiente em que você passa dias sem ver alguém que se pareça com você, ou ter apenas uma disciplina com professores pretos em cada período, sendo que esses professores são, pasmem, a mesma pessoa”, frisou.

A motivação da estudante para criar o coletivo, no entanto, veio de outro episódio que a fez ficar desconfortável. “Quando um dos meus professores (branco) dedicou todo o último terço de uma aula para ler em voz alta um texto da Djamila Ribeiro. Naquele dia eu era literalmente a única pessoa negra na sala de aula. Enquanto ele lia, me senti extremamente desconfortável. Lembro do quanto eu queria sair da sala e ir para casa, me senti sufocada, me senti uma personagem numa piada de mau gosto”, contou. 

Naquele dia, ela se lembrou do quinto valor listado no cartão entregue aos alunos no início do curso: diversidade. Os quatro anteriores remetem à excelência acadêmica; a ética e a verdade; a livre iniciativa e liberdade de expressão; a ascensão humana e social. Mas esse último valor, que versa sobre diversidade, segundo Catarina, não é verdadeiro. Ela questiona, por exemplo, o fato de não haver nenhuma política de inclusão racial na instituição e de todas as bolsas e descontos considerarem somente a renda familiar. 

A princípio, os objetivos do coletivo são, nas palavras de Catarina, “bem realistas”. Ela pretende gerar um desconforto em relação a essas denúncias, tanto entre discentes quanto entre docentes. E, depois de reunir o máximo de pessoas que se identifiquem com a causa, ela planeja estabelecer um diálogo com a coordenação e com a diretoria da faculdade.

“Não é só apontar as falhas deles em relação à inclusão racial, mas é também cobrá-los acerca dos lucros e gastos, discutindo como seria possível implementar bolsas destinadas a alunos não brancos sem eliminar as bolsas que já existem”, enfatizou Catarina.

O movimento já começou a atrair outros estudantes pretos da ESPM que se identificaram com a causa e que pretendem participar do coletivo. O acadêmico de jornalismo, Claudionei Abreu, de 20 anos, é um deles. Ele afirmou que não consegue ter a sensação de pertencimento ao espaço, mesmo passando mais de 10 horas do dia na faculdade. Por ter estudado quase a vida inteira em colégio público, estar na ESPM tem sido, para ele, “uma realidade diferente de tudo que já viveu”.

A pouca representatividade negra em sua turma é o que mais o incomoda. “São poucos, acredito que apenas três ou quatro em um universo de quase trinta estudantes”, explicou.  Mesmo sabendo que uma instituição privada não tem obrigatoriedade de instituir cotas raciais, Claudionei ressalta o fato de ser um debate crescente nos últimos anos, seja em instituições públicas ou privadas. Trata-se de um reconhecimento da desvantagem historicamente acumulada pelos grupos raciais discriminados.

E não foram só estudantes que ficaram sabendo do coletivo. Catarina chegou a conversar com alguns professores do curso de Cinema e Audiovisual, como Gabriel Marinho, que leciona na disciplina Ciclo de Produção II. Ele apoiou o projeto. “Acho uma iniciativa excelente, ainda mais vinda do corpo discente. Isso reflete um pensamento amadurecido desses estudantes a respeito das relações raciais em nosso país”, frisou o docente. 

A diretoria da ESPM ainda não foi contactada formalmente pelo Coletivo Diversidade e não houve um pronunciamento oficial sobre o assunto. Não se sabe ao certo também se alguma medida foi tomada ou pensada por eles neste período. O Portal de Jornalismo da ESPM Rio segue apurando. 

Reportagem: Lucas Luciano

Supervisão: Anna Julia Paixão

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