Cine Resenha – Voyeur
Compartilhar
Crítica sem spoiler:
O documentário “Voyeur”, dirigido por Myles Kane e Josh Koury e, original da Netflix, acompanha os bastidores do último livro publicado pelo escritor e jornalista Gay Talese, “The Voyeur’s Motel”. No filme, lançado em 2017, são abordados diversos temas relacionados ao jornalismo, como a apuração de informações, a criação de uma notícia, a credibilidade do profissional e principalmente a relação estabelecida entre a fonte e o escritor.
A prática do voyeurismo explícita no documentário possibilita o telespectador conhecer a dimensão do vício. A história se passa em um motel no Colorado comprado pelo voyeur, Gerald Foos, que o utilizava para suprir seus desejos. Ele invade a privacidade dos clientes escrevendo sobre as cenas que presencia, através de um buraco no teto.
A credibilidade do escritor Gay Talese é posta em jogo no momento em que é utilizada apenas uma fonte para escrever seu livro. Sua postura profissional é também questionada em alguns momentos do longa, gerando conflitos com a editora responsável pela publicação da história.
De modo geral, o documentário, conecta diversos paradigmas do jornalismo tradicional, do “new journalism” – estilo de redação e jornalismo, desenvolvido nas décadas de 1960 e 1970, que utiliza técnicas literárias consideradas não convencionais na época – e do jornalismo contemporâneo. Sendo essencial, tanto para os jornalistas, como para os estudantes da área, uma reflexão da obra e do filme.
Crítica com spoiler:
O documentário “Voyeur” lançado pela Netflix, em 2017, conta como o jornalista Gay Talese transformou as experiências de Gerald Foos, nos anos em que foi proprietário do motel Manor House, em um livro. O autor bestseller sempre buscou publicar obras verídicas e viu uma nova oportunidade ao receber uma carta de Foos, que tinha o intuito de ajudar a escrever um de seus livros.
Gerald teve uma infância sem diálogo com seus pais, o que pode ser entendido durante a trama como um incentivo para se tornar um adepto do voyeurismo, anos depois. Essa conduta consiste em observar atos sexuais sem ter uma participação direta. Ele também relata que um marco em sua vida foi durante sua adolescência quando observou sua tia nua pela janela, despertando desejos sexuais.
O motel foi comprado e modificado por Gerald no final da década de 1960 com o único objetivo de vigiar os hóspedes em seus momentos íntimos. Os produtores utilizaram uma maquete do motel para mostrar como o voyeur atuava. Ele subia uma escada e entrava em um cômodo projetado por ele para ter acesso à uma espécie de plataforma de observação. Logo, o proprietário na época, acabou presenciando as mais diversas situações e ficava irritado quando os hóspedes não agiam conforme as suas expectativas.
Uma das experiências que mais chama a atenção de Gay é quando ele narra ter presenciado um assassinato, dentro do motel. O caso teria acontecido em 1977, quando Gerald viu que o hóspede guardava drogas, e então as joga fora. Mais tarde, o traficante acusou sua namorada de ter feito isso. O casal começa a brigar e o homem perde o controle e começa a asfixiá-la, fugindo logo em seguida. O dono conta que não denunciou na hora, o que gera uma desconfiança do jornalista quanto a veracidade. A partir disso, ele apura o fato e observa, na polícia de Denver, que não existe nenhum registro sobre essa morte.
A decisão de Talese em confiar na palavra do voyeur traz consequências à sua reputação quando um repórter do Washington Post envia um email dizendo que tem provas apontando uma série de discrepâncias na narrativa. Por exemplo, o motel foi vendido em 1980 para um amigo, e isso entra em conflito com histórias da época. Gay fica possesso e desautoriza a publicação do livro, o que gera um escândalo na mídia, que critica a inconsistência dos fatos. Alguns dias depois, Foos justifica sua atitude dizendo que a pessoa que comprou o motel não queria ter sua participação exposta, já que ela também era voyeur.
Com isso, o documentário demonstra a fragilidade do jornalista falar com apenas uma fonte. Uma obra de não-ficção precisa de uma apuração, caso contrário o autor corre o risco de ser descredibilizado e ter sua reputação profissional afetada.
Por: Bruna Barros, Eloah Almeida, Gabriela Estrella e Gabriela Leonardi
Supervisão: Maria Luísa Martins e Patrick Garrido