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Entre o risco e a notícia: a realidade por trás das lentes no fotojornalismo

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Foto: Adercino Orçay

A mesa “Linha de frente: o fotojornalismo brasileiro na cobertura de hard news”, mediada por Luana Bentes, foi a segunda palestra do primeiro dia da Semana do Jornalismo na ESPM-Rio. Gabriela Biló, fotojornalista da Folha de S.Paulo e André Coelho, fotojornalista da EFE no Rio, compartilharam suas trajetórias e suas experiências. 

Com mais de 30 anos de carreira, o vencedor do World Press Photo em 2025, André Coelho, comentou que a fotografia vai muito além do glamour.  “Você tem que ser abnegado. Abrir mão de muita coisa, de datas com a família. É uma profissão que exige entrega total”, afirmou. O carioca iniciou a carreira nos anos 1990 e passou por coberturas de música, política e crises humanitárias. “Em 2017, decidi sair da redação e me tornar fotógrafo independente. Produzi uma reportagem em Bangladesh sobre o fluxo migratório dos rohingyas, sozinho, sem apoio de veículos. Fiz tudo: visto, contatos, roteiro. Foi quando percebi o valor da autonomia”, contou.

Foto: Duda Toqueto

André também falou sobre os riscos da profissão, especialmente em coberturas policiais e de conflitos. “Não é qualquer um que pode fazer. É preciso preparo, saber o que é notícia e ter responsabilidade. A partir do momento em que algo acontece com você, afeta colegas, policiais e até sua família”, alertou. Hoje, o fotógrafo atua para uma agência internacional e reforça a importância da segurança: “A gente trabalha de colete, de capacete. É uma questão de responsabilidade, não só de lei.”

Gabriela Biló, duas vezes  vencedora do Troféu Mulher Imprensa, ressaltou o aprendizado constante e a necessidade de adaptação. “O fotojornalista é um clínico geral: precisa saber de tudo um pouco”, explicou. Ela iniciou a carreira ainda jovem, cobrindo protestos e ocorrências policiais nas madrugadas de São Paulo. “Eu ganhava por foto vendida, então tinha que chegar primeiro. Corria para onde ninguém estava, porque só vendia se tivesse algo que ninguém tinha”, relembrou.

Foto: Ana Lúcia Araújo

Biló também abordou a desigualdade de gênero e as escolhas pessoais que o ritmo da profissão impõe. “Decidi não ter filhos. É uma escolha difícil, mas não conseguiria conciliar a maternidade com o trabalho de campo. O fotojornalismo exige presença constante, e a gente vive em função da notícia”.

Reconhecida por registrar momentos marcantes da política brasileira, como o 8 de janeiro de 2023, Biló destacou a importância da intuição e da ética. “O olhar do fotógrafo é solitário, mas o trabalho é coletivo. A gente depende dos colegas, dos repórteres, dos motoristas. Mesmo sendo concorrentes, existe um espírito de colaboração que mantém o jornalismo funcionando”.

Os dois profissionais também refletiram sobre a responsabilidade de representar a realidade por meio da imagem. Para Biló, “as imperfeições podem ser o tempero da foto”. Para Coelho, “a fotografia é um exercício de empatia e coragem, porque nos coloca diante do melhor e do pior do ser humano”.

Foto: Duda Toqueto

Mais do que captar cenas, os relatos mostraram que o fotojornalismo é feito de escolhas, de risco, de ética e de narrativa. “Você tem que fazer acontecer”, resumiu André Coelho. A frase resume o espírito dos fotógrafos que, entre protestos, coberturas políticas e zonas de conflito, continuam transformando o instante em história.

 

 

Reportagem: Duda Toqueto e Gustavo Campos

Supervisão: Vinicius Carvalho

 

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