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“O Resgate do Maestro”: novo álbum de NiLL junta periferia e cultura nerd

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O cantor Nill lançou seu novo álbum “O Resgate do Maestro” nesta quinta-feira (29). O projeto traz na capa a figura do Maestro, um robô 3D criado em parceria com Marcos Muller, e narra a história do android em busca de se conectar com o mundo real. Com 12 faixas ao todo, o disco traz Amiri, MC Luanna e outros para compor os feats, além de produções de Duda Raupp, DEEKAPZ e Bonbap.

Quem tem um amigo tem tudo

A faixa inicial “3.0” conta com a participação de Amiri, o rapper favorito de Nill, como o cantor afirmou em seu Twitter. “Tive a honra de ter o meu rapper favorito na faixa que abre meu álbum! Isso não tem palavras para descrever! Obrigado, Amiri”, disse em um tweet postado há um mês atrás.

Amiri e Nill, respectivamente/ Créditos: Reprodução

A parceria que rendeu a música de abertura, contudo, aconteceu de forma bastante natural. Nill se aproximou de Amiri após entrevistá-lo para o podcast do “Rap, falando”, no qual o autor do álbum é um dos apresentadores, e percebeu que tinha muita coisa em comum com o novo amigo. Ele conta que valorizou muito a forma que foi tratado pelo seu ídolo.

“A gente foi trocando ideia e ele sempre foi atencioso, tá ligado? Eu mandava um salve e ele respondia. Eu achei isso muito foda. Um cara que eu gosto tanto tem esse apreço por mim. Com isso, nós fomos gravar no estúdio e ficamos muito tempo trocando ideias, escrevendo e tudo foi muito mágico. O Amiri tinha que abrir o disco comigo para ser algo bem simbólico”, afirma.

Em relação aos outros feats, Nill decidiu priorizar o pessoal do Rap, já que era quem estava disposto a ajudá-lo, sendo eles: MC Luanna, Aura Soul e Diego Amani do duo 2:22, Jota Ghetto e Jamés Ventura. Os artistas convidados foram de grande importância para a construção de O Resgate do Maestro

Em certo momento, Nill estava quase descartando um beat, já que não conseguia escrever uma letra que se relacionasse bem com aquele instrumental. Foi então que o cantor decidiu apresentar a batida para Aura Soul e Diego, que conseguiram compor suas participações na música “Ominipotence” e o ajudaram a chegar no resultado final.

Não foi só o autor do álbum que teve dificuldades durante o processo criativo. MC Luanna, que participa da música “Meia Milha”, teve dificuldades para rimar no beat feito por DEEK, mas Nill estava convicto na capacidade da cantora. “A primeira vez que eu vi ela rimando eu já percebi que ela tinha que estar nesse estilo. Ela é sensacional, cara”.

Quem é o Maestro?

Em entrevista exclusiva para o Portal de Jornalismo em parceria com a Flagra Rap, Nill afirma que há pessoas que acreditam que a periferia e a cultura nerd são dois mundos distintos e não podem se relacionar. É neste cenário que surge a figura do Maestro, a representação da retomada para o mundo real, criada com o intuito de causar espanto em quem defende essa visão. Ele defende a ideia de que um robô explorador dentro de uma comunidade real é difícil de imaginar e, justamente por isso, optou por essa escolha.

O cantor conta que quer mostrar para o público como o Maestro irá interagir com os diversos biomas, lugares e pessoas existentes no nosso planeta, visto que foi programado para explorar a Terra. Na faixa tema do álbum, a frase “lugares que te procuro e não está” é repetida durante os 2min13s, reforçando o objetivo de Maestro: buscar os mais diversos sentimentos.

O robô Maestro/ Créditos: Divulgação

Não é a primeira vez que Nill traz um personagem acompanhado de uma narrativa para seus álbuns. Essa ideia teve início em Regina, segundo álbum do cantor, que tem como protagonista da obra o próprio Nill, que narra a relação com sua família adotiva, principalmente com sua mãe, que acabara de falecer.

Fortemente influenciado pelas animações japonesas, o artista conta que, após Regina, sentiu muito mais à vontade de trazer à tona seu lado “contador de histórias”, mas não sabia como explorar isso. Foi então que passou a apresentar personagens nas capas de seus álbuns e desenvolvê-los com músicas.

“Os criadores dos animes sabem desenhar, mas eu não sei. Para mim é um pouco mais difícil, porque eu tenho que passar a imagem que eu quero para o ilustrador. É importante trazer o visual porque se eu tivesse só a música, é como se tivesse faltando algo. Quando eu começo a pensar em um álbum, primeiro vem as músicas e depois eu começo a conectar com elementos que fazem sentido” comenta.

“Isso aqui é música do Brasil”

Nill não ficou apenas por trás dos vocais e se aventurou novamente na criação das batidas em seu novo álbum. Sob a alcunha de “O Adotado”, o artista assinou a produção de 4 faixas no total (“Ps1”, “Ominipotence”, “Zero Zero 7” e “City Hunters”). A sonoridade delas é bem variada, contando com recursos de Boombap, Trap e música eletrônica.

Uma das marcas registradas do rapper de Jundiaí são os elementos da cultura nerd em seus projetos, como já vimos em interpolações do anime Dragon Ball Z e do jogo Undertale nos discos Regina e Lógos respectivamente, além das diversas referências a cultura japonesa em suas redes sociais. No Resgate do Maestro, isso não foi diferente.

Nill com o casaco do personagem Naruto/ Créditos: Reprodução

Em “PS1”, o tema intimidador do Playstation 1 dá um tom sombrio para a melodia da segunda faixa do álbum. Nela, o rapper afirma valorizar o dinheiro acima da fama, o que é destacado no verso “É que não precisamos de pódio/ O foco é a carteira parecendo zoológico”, uma alusão às ilustrações de animais nas notas do Real.

Misturando a cultura da internet com os animes, Nill, Jamés Ventura e Jota Ghetto trocam rimas em “City Hunters”, embalados num potente Boombap produzido por O Adotado. O produtor sampleia a música “Kingdom Of Predators”, que faz parte da trilha sonora do desenho “Hunter x Hunter”, e foi bastante utilizada em memes nos últimos anos.

O uso desses samples entra no conceito de mesclar a cultura do Hip-Hop com o mundo nerd, proposto por Nill neste projeto. “Pra gente que é preto e que mora na favela, a hora que a gente fala que a gente gosta de jogar um game, de assistir um anime, a galera meio que quebra isso. Parece que são coisas que não fazem parte do mesmo mundo. […] Dentro desse universo caótico que a gente vive, tem essas coisas boas que a gente pode se apegar. Muitas das vezes parece que não faz parte do mundo, mas se for ver mesmo, faz sim”, pontua o artista.

Mesmo produzindo apenas 4 das 12 músicas,  o músico participa e deposita suas referências inteiramente durante o processo de produção do álbum, trazendo desde a estética cyberpunks até a música típica brasileira. 

Na música “Sol”, por exemplo, o produtor Bonbap promove um encontro de um estilo tradicional nordestino com o Hip-Hop. “Tem uma faixa que eu tenho um carinho enorme por ela ter me tirado totalmente da minha da minha zona de conforto. A música é um baião com timbres de rap e foi muito difícil de fazer, mas cara eu quis fazer isso. Colocar muitos elementos do Brasil para as pessoas ouvirem lá fora e falarem ‘olha, isso aqui é musica brasileira, não é nenhum artista de outro lugar precisando imitar gringo’”, conta o rapper.

Nill vê a sua direção artística como parte fundamental e intocável para a qualidade do seu disco. Ele enxerga esse processo como uma reunião com si mesmo, em que cada parte sua tem que se responsabilizar por uma etapa para alcançar o resultado desejado. Para o cantor, esse trabalho ficou mais fácil depois que começou a estudar sobre música, notas e campos harmônicos.

Em seu novo projeto, Nill se aventura na construção da narrativa do Maestro, misturando elementos cyberpunk com a música brasileira. Embora o disco tenha um início um pouco inconsistente, o artista encontra seu ritmo da segunda metade em diante, e entrega umas melhores composições de sua carreira em “Ominipontence” e “City Hunters”, além da ótima faixa “Meia Milha”. O Resgate do Maestro é mais uma conquista para Nill, e se junta a Regina e Lógos na primeira prateleira de sua discografia.

O álbum está disponível em todas as plataformas de músicas.

Reportagem: David Silva, Pedro Zandonadi e Renan Schimid
Supervisão: Maria Eduarda Martinez

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