Javier Milei vence eleições argentinas em 2023 e promete mudanças radicais
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O economista Javier Milei venceu o segundo turno das eleições argentinas no último domingo (19). Com 55,69% dos votos, o ultralibertário derrotou o adversário Sergio Massa, atual Ministro da Economia no país. O presidente eleito é líder do partido “ A liberdade Avança” e tomará posse no dia 10 de dezembro. A Argentina enfrenta nos últimos anos uma crise econômica e Milei afirma que mudará a situação do país com propostas como a dolarização da moeda e a privatização de empresas estatais.
Milei iniciou sua carreira na política em 2021, quando foi eleito deputado federal pelo partido que também comandava, “A Liberdade Avança” . Porém, desde 2017 ele já estava presente em programas de TV e rádio expondo seu pensamento e posicionamento político. Ele é conhecido por declarações polêmicas. Um exemplo é: quando perguntado quem seria seu Ministro da economia afirmou: “Alguém tão ortodoxo quanto eu, que goste de motosserra tanto quanto eu”. Onde faz alusão à redução de gastos do Estado.
A estudante e moradora argentina Orián Said, de 18 anos, comenta como algumas de suas declarações assustam parte da população. “O presidente eleito fez várias afirmações que me levam a temer que a sua forma de governar seja violenta. Ele falou em ser a favor do uso gratuito de armas, da venda de órgãos.”
Entre as principais propostas do presidente eleito, está a aplicação de uma reforma econômica no país, que flexibiliza o mercado de trabalho, reduz os gastos estatais e dolariza a moeda argentina. Ele afirma, também, que fechará o Banco Central, além de privatizar empresas públicas,o que reduzirá o papel do Estado na economia.
Na visão do economista João Branco, a privatização de estatais não é ideal para um país como a Argentina, onde grande parte da população faz uso de serviços públicos. “Estamos falando de um país que tem uma legião de pessoas, que dependem muito da ajuda do governo. Acho complicado você tentar implementar um conjunto de ideias desse tipo”
Entre as companhias que Milei pretende privatizar estão as redes de comunicação do Estado, como Telám, TV Pública e a Rádio Nacional. Em entrevista concedida à Rádio Mitre, ele diz que “tudo o que pode estar nas mãos do setor privado, vai estar nas mãos do setor privado”. O presidente diz que também existe a possibilidade de privatizar a petroleira YPF.
Outro ponto defendido por Javier é a redução de 18 para 10 ministérios no Governo Argentino. Ele pretende extinguir o Ministério da Cultura, do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, das Mulheres, do Trabalho, da Saúde, da Educação e da Ciência e Tecnologia. Um vídeo que viralizou nas redes sociais mostra Milei tirando os Ministérios de um quadro.
Economia
Já considerado um dos países mais ricos do mundo, a Argentina vive uma crise econômica que dura décadas, e se agrava a cada ano. Desde o fim da Ditadura em 1983, o país passa pela terceira grande crise econômica, com uma constante desvalorização monetária e uma inflação que causa o aumento de preços a cada semana. A inflação acumulada da Argentina atingiu a taxa de 142,7%, a maior desde 1991. A causa disso é a alta circulação de pesos argentinos nas ruas. Os altos preços obrigam turistas e argentinos a andarem com bolos de notas nas ruas do país. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censo(INDEC), 40% da população argentina vive abaixo da linha da pobreza.
A principal proposta do ultralibertário é a dolarização da economia argentina, o que fecharia o Banco Central do país e, segundo ele, traria mais estabilidade para a economia. Contudo, João Branco, acredita que a dolarização também trará consequências negativas para a economia. “A sociedade votou em Milei pela proposta da dolarização, esperando o fim da inflação no país, mas esse processo também pode causar uma recessão econômica muito grande”. Na América do Sul, o único país dolarizado é o Equador, que trocou sua moeda em 2000, mas manteve o Banco Central do país.
Relações Internacionais
A relação da Argentina com outros países no novo Governo também é um ponto de atenção, já que o novo presidente fez declarações fortes sobre o tema durante sua campanha. Milei ameaçou tirar a Argentina do Mercosul, onde se encontra o principal parceiro comercial do país, o Brasil. Apesar disso, a ruptura é considerada improvável, por precisar do aval do congresso argentino.
Outra declaração do candidato eleito foi que romperia as relações comerciais com Brasil e China, seus dois principais parceiros. Rodrigo Alvares, Professor de Geografia, formado pela Universidade de Brasília, diz sobre o risco da ruptura: “Como a Argentina já vem de uma crise econômica, se Milei realmente seguir o que falou na campanha, principalmente sobre o rompimento de relações com a China e com o Brasil, a tendência pode ser até piorar a crise, já que os dois são parceiros comerciais muito importantes para a Argentina”.