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Bienal 2023: como a geração Z se relaciona com a literatura

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A Bienal do Livro Rio 2023 chegou ao fim no último domingo (10). Pelo menos 600 mil pessoas estiveram presentes nos 10 dias de evento, causando um “engarrafamento humano”. Mas o que chamou a atenção dos organizadores, foi a quantidade de pessoas mais novas. Segundo um balanço geral do evento, pelo menos 50,8% eram jovens entre 18 e 24 anos. 

O crescente número de autores direcionados à Geração Z também é um dos grandes diferenciais notados. Foram pelo menos 380 escritores a autografarem suas obras. Dentre eles, as romancistas cariocas, Babi Dewet, e Mary Dionísio. Ambas começaram suas carreiras em plataformas gratuitas de publicação, como Wattpad, e escrevendo fanfics, histórias criadas por fãs e, geralmente, consumidas pelo público juvenil.

Por conta do grande fluxo de informação que essa faixa etária é submetida em um curto período de tempo, as escritoras continuam se atualizando das diversas ‘trends’. “Acompanhar essa velocidade, junto ao processo de escrita acaba sendo muito complicado”, diz Mary. Por outro lado, Babi pontua que a juventude faz parte de grandes experiências. Sempre deve se observar e entender como deixar a vida destes jovens menos solitária através da arte.

Fernanda Monteiro, de 14 anos, diz que a forma mais precisa de deixar os  leitores da sua idade mais envolvidos na leitura, é por meio de discussões sociais pertinentes. Ela confirma que já consegue ver essas mudanças editoriais, também pela representatividade com o uso de ‘gírias teens’.

Além disso, novos estandes direcionados para esse público foram criados, como o do TikTok, que abrigava os “booktokers”; influenciadores digitais do nicho literário. Dentre eles, Dora Weigand, que surgiu nas redes em agosto do ano passado. Ela decidiu seguir a carreira de ilustradora e tiktoker. “Eu me sentia solitária vendo os meus amigos fazendo amigos novos na faculdade e queria encontrar um novo meio de me comunicar com pessoas com gostos semelhantes também”, conta. 

O mercado editorial teve um ‘boom’ nos últimos anos. Através das redes sociais, os lucros de diversas editoras subiram no país. Os autores, assim como influenciadores, começaram a utilizar as plataformas para propagar suas obras. Para Mary, desde a criação à venda, o processo de divulgação aumentou. Muitos livros viraram best-sellers a partir desse fato, o que trouxe um impacto no mundo literário.

Segundo apurações do Publishnews, esses tipos de conteúdo já alcançaram 14 bilhões de visualizações. Dora disse que não dimensionava a quantidade de pessoas que seguiam suas redes, e que ficou feliz ao saber que existem pessoas de todas as idades ainda interessadas na literatura. 

Para a disseminação da leitura nas novas gerações, a professora de língua portuguesa Thais Santos ressalta a importância de um evento como a Bienal ter entrada gratuita. De acordo com ela, os jovens, em sua maioria, irão preferir gastar seu dinheiro com outras coisas de seu interesse ao invés de comprar o ingresso; “A Bienal deveria ser gratuita, não faz sentido você gastar dinheiro para entrar em um lugar que você vai gastar mais dinheiro dentro. Um adolescente vai preferir gastar os seus 20 reais que seriam do ingresso em jogos online, ou coisas do tipo.”

Muito se discute sobre a influência das instituições de ensino nesse aumento crescente no número de leitores da Geração Z. Thais afirma que além de as escolas não serem responsáveis por esse acréscimo, elas também atrapalham o desenvolvimento desse interesse, tendo um ensino muito pragmático com livros clássicos em suas grades que não despertam o entusiasmo dos jovens; “As escolas deveriam se adaptar a nova forma de leitura e às novas plataformas que surgiram, para que, de certo modo, possam transmitir de uma maneira mais leve esses hábitos de leituras paras os alunos”, reitera a professora.

Ao final de mais uma edição da Bienal, é possível, enfim, acreditar que a Geração Z está resgatando o hábito da leitura. Em diversas áreas, se vê a ascendência da venda e procura por livros, autores e formas novas de consumir literatura. Ao contrário do que se esperava, jovens adultos e adolescentes estão reforçando, em massa, o crescimento do ramo literário. A professora acredita que as facetas digitais possam ser o grande diferencial: “O Kindle e o Wattpad foram muito responsáveis por esse aumento, não só por ser mais fácil de acessar, de carregar, mas também por ter preços melhores e ter como se adaptar ao leitor, aumentando o tamanho da letra, por exemplo.”

Reportagem: Manuela Monzo, Maria Fernanda Buczynski e Mariana Aguiar

Supervisão: Júlia Vianna