A política de cotas e bolsas: uma expectativa de maior inclusão na ESPM
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Apesar de não ser obrigatória nas universidades privadas, a Lei de Cotas é um tópico constante de debate entre os estudantes da ESPM. O principal questionamento aborda a relação existente entre essa realidade e a falta de diversidade no campus. Há mais de dez anos, a Lei vigora no Brasil para garantir que metade das vagas das instituições federais de Ensino Superior presentes no país sejam destinadas aos alunos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas que cursaram o Ensino Médio na rede pública.
Com o intuito de informar a comunidade acadêmica, o Coletivo de Diversidade Racial da faculdade promove debates entre os alunos sobre a inserção de cotas raciais na instituição. A fundadora do Coletivo e estudante de Cinema e Audiovisual, Catarina Oliveira, afirma que a Lei de Cotas é uma política de inclusão educacional revolucionária e sua restrição à educação pública é uma contradição. Segundo ela, o espaço privado de ensino pode transformar a educação e prestar um serviço educacional. “Foram cinco, seis anos tenebrosos para o ensino superior público brasileiro, e o ensino privado se tornou nesse processo uma espécie de alternativa, entende? E claro, o ensino superior privado, ele tem que arrecadar dinheiro para existir, mas ele não pode funcionar somente nesse princípio”, afirma a estudante. Lucas Machado, integrante do DCE – ESPM RJ, fundado por um grupo de estudantes que busca maior representação estudantil na instituição, comenta que a ausência de cotas cria uma rede de convivência similar às instituições privadas de ensino fundamental e médio. “São sempre as mesmas pessoas, com os mesmos pensamentos, com as mesmas vivências”, conta. Para ele, isso implica que uma faculdade rica – pela quantidade de dinheiro que possui – tende a perpetuar um pensamento elitista e formar estudantes que não dialogam com pessoas de perspectivas diferentes.
De acordo com dados do Censo de Educação Superior de 2019, 45,6% dos estudantes de instituições privadas contavam com algum tipo de programa de bolsa ou financiamento para realizar o sonho do diploma universitário. Fábio Augusto Albuquerque, aluno de Administração da ESPM-Rio e bolsista através da Bolsa Social Meritocrática de 80%, considera o processo de bolsas complexo e burocrático. “Antes mesmo de fazer o vestibular da instituição nós temos que fazer a solicitação de bolsa, enviar diversos documentos. É trabalhoso e cansativo “, comenta. Ele destaca como positivo a composição das bolsas não considerar apenas o mérito, pois isso permite que pessoas com rendimentos inferiores sejam favorecidas durante o processo. Fábio defende ainda que as bolsas poderiam ser mais divulgadas e que muitos estudantes acabam nem sabendo como funciona o processo.
Com uma mensalidade acima de três salários mínimos, a oferta de assistência aos alunos bolsistas também é um assunto recorrente, visto que os estudantes precisam conviver com os custos que circundam a vida universitária. A estudante de Administração na ESPM, Isabela Gonçalves, trabalha como gerente de projetos na Casa Hacker e constrói o Firmeza Hub, um laboratório de tecnologias criativas que realiza a ativação de diversos empreendedores e artistas nas cenas urbanas do país. Para entrar na ESPM, Isabela precisou negociar uma bolsa de mérito profissional e incentivo especial de 70%. No entanto, ela relata que, mesmo com a bolsa, seria impossível manter os estudos se não trabalhasse: “Para estar dentro dessa faculdade, eu levei 4 anos. Eu, com meu salário mínimo, não ia conseguir estudar aqui até com bolsa. O valor que eu pago de mensalidade é maior que o salário do meu pai na faxina” afirma.
Mesmo com os custos altos, Isabela, que já passou por algumas instituições públicas de ensino, compartilhou os motivos que a fizeram escolher pela ESPM. Além de reconhecer a importância do diploma de uma faculdade renomada para sua validação no mercado de trabalho, a estudante afirma que a ESPM foi a única faculdade que entendeu seu trabalho. Segundo ela, o bom diálogo com os professores, que incentivam seu crescimento no meio profissional desde o 1° período, facilita a conciliação das tarefas e viabilizam o bom desempenho acadêmico.
Em nota ao Portal de Jornalismo, a ESPM reforçou que é uma instituição sem fins lucrativos, financiada única e exclusivamente pelas mensalidades de seus cursos e que todas as bolsas concedidas contam com recursos próprios, sem qualquer participação de terceiros. Dessa forma, os lucros institucionais são todos direcionados ao aprimoramento da instituição, desde os salários dos funcionários, até o investimento em políticas de bolsas de estudo.
A ESPM, por sua vez, possui uma política de bolsas em cada um de seus campus, sendo duas delas comuns a todos: a Bolsa Parcial Restituível e a Bolsa Social Meritocrática. A Bolsa Parcial Restituível permite o pagamento do curso de graduação em até 13 anos sem juros, e varia entre bolsas de 30%, 50% e 70%, sendo destinadas a estudantes com necessidade financeira comprovada. A Bolsa Social Meritocrática, que pode ser parcial ou integral, é baseada no desempenho do candidato no processo seletivo e na análise socioeconômica do grupo familiar. Na Bolsa Social Meritocrática Parcial, os percentuais são definidos conforme as faixas salariais e o estudante não precisa comprovar a conclusão do Ensino Médio na rede pública. Já na Bolsa Social Meritocrática Integral, o percentual de 100% de isenção é oferecido aos estudantes com melhor desempenho no processo seletivo e que tenham concluído o Ensino Médio na rede pública ou sido bolsistas integrais em alguma escola particular.
A ESPM esclareceu, ainda, que todas as bolsas oferecidas aos estudantes calouros respeitam o bom desempenho nos processos seletivos e a situação socioeconômica do seu grupo familiar e que conta também com os financiamentos FIES e Crédito Universitário Bradesco, além do seguro educacional, um benefício oferecido pela instituição de forma gratuita e disponível a todos os alunos.
O Programa de Bolsas pode ser acessado no site da ESPM (www.espm.br/bolsas), onde o edital é atualizado e divulgado a cada semestre. No mesmo site, ainda é possível utilizar o “simulador de bolsas” e checar a elegibilidade ao programa.
Reportagem: Agnes Todesco, Joana Braga, Maria Eduarda Reis
Supervisão: Júlia Vianna e Maria Eduarda Martinez