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Um mês de ocupação: Entenda a greve estudantil da UERJ

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No dia 14 de agosto, os estudantes da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) ocuparam o Pavilhão João Lyra Filho, principal prédio do campus do Maracanã. Essa ação foi em resposta aos novos cortes nos programas de bolsas e auxílios estabelecidos pela universidade. A ocupação promoveu a suspensão das aulas, e mais de 35 mil alunos foram afetados.

Barreira de cadeiras em um dos acessos da reitoria; Foto: Taís Vianna

O Ato Executivo de Decisão Administrativa (AEDA) 038/2024, popularmente chamado de “AEDA da fome”, foi publicado no dia 24 de julho pela reitoria da UERJ. Ele determina a atualização das regras de distribuição dos recursos. Dentre os cortes, está uma redução do teto do auxílio alimentação. A “AEDA da fome” prevê um valor máximo de R$300 mensais. Anteriormente, esse benefício era de R$706 por mês.  Para que o estudante tenha direito ao auxílio, também passa a ser necessário que o curso não possua restaurante universitário no campus. Além disso, o depósito está condicionado à renda familiar per capita bruta igual ou inferior a um salário mínimo e meio. As novas medidas excluem aproximadamente 1,2 mil estudantes, que passam a não se enquadrar mais nos requisitos exigidos.

Outros auxílios que foram impactados incluem transporte e BAVS (Bolsa de Apoio a Vulnerabilidade Social), todos destinados a discentes em condição de vulnerabilidade social da UERJ. No caso do auxílio transporte, o Ato Administrativo reduziu os valores em até 40%, o que impossibilita a ida à universidade para muitos estudantes que moram afastados do campus do Maracanã. A UERJ não oferece alojamento estudantil. 

Em entrevista exclusiva ao Portal, o presidente do Centro Acadêmico de Comunicação Social, Felipe Abreu, de 21 anos, explicou que a primeira ocupação ocorreu no dia 26 de julho, na reitoria, dois dias após a publicação do “AEDA da fome”. No dia seguinte, os estudantes deixaram a reitoria e, de acordo com o presidente do CACOS, esta primeira mobilização serviu como uma forma de mostrar o descontentamento do movimento estudantil em relação ao documento

Foto: Taís Vianna

.Cinco coletivos independentes passaram a coordenar a greve. A União da Juventude Comunista (UJC), Correnteza, Faísca, Rebeldia e Coletivo Cria Juntos, exigiram a revogação da AEDA, e foram reprimidos pelos seguranças da instituição com violência, de acordo com Felipe. Em nota publicada em rede social no dia 26 de julho, dia da primeira ocupação, a reitoria afirmou que iria “apurar as responsabilidades” e que conta com a ação da prefeitura dos campi e do setor de segurança para garantir o pleno funcionamento da universidade. Ainda de acordo com a nota a reitoria sublinha que “nada justifica as violências praticadas no dia de hoje” e que “não haverá discussão possível nessas bases.” O estudante Felipe Abreu comenta ainda que a ocupação era um movimento pacífico e simbólico, porém, a partir do posicionamento da reitoria, tiveram que mudar de postura. Dezoito dias depois de ocuparem a reitoria, os estudantes ocuparam por completo o prédio João Lyra. Esta situação perdura até o presente momento

Estudante Rafael Peçanha sentado na cozinha da reitoria; Foto: Taís Vianna.

.Felipe Abreu ressalta que a UERJ segue aberta, e que não há bloqueios que impeçam o ir e vir na instituição. Essa afirmação difere do que a reitoria sugeriu em nova nota nas redes sociais, no dia 14 de agosto. A ocupação conta com o apoio de diversos estudantes, incluindo graduandos de medicina e direito, cursos considerados mais “elitizados”, ele ressalta.

O estudante de direito da UERJ, Guilherme Damasceno, de 20 anos, afirma que vê importância, mas considera que a situação está passando dos limites e que “as aulas online não estão funcionando.” Guilherme espera que o calendário seja ajustado, e que as aulas sejam repostas.

 A estudante cotista de história na UERJ, Roberta Moura, de 24 anos, veio do leste fluminense para a capital com o objetivo de obter um diploma universitário: “Na minha cidade, ingressar em uma universidade é um sonho muito distante para a maioria das pessoas. O plano de assistência estudantil da UERJ me permitiu sair de lá e morar perto do campus para estudar”. Roberta destaca que foi impactada pela greve de diversas formas, da incerteza sobre a volta das aulas ao atraso no cronograma acadêmico, comprometendo, inclusive, despesas básicas. “Os auxílios me permitem pagar o aluguel, me alimentar e até mesmo custear o transporte até a faculdade todos os dias. Eles são a base que sustenta o meu sonho de me formar”, pontua Roberta Moura. 

Desde a primeira ocupação, a UERJ vem emitindo em suas redes sociais notas de repúdio. Em uma delas, alega que os estudantes têm praticado uma série de depredações ao patrimônio público incluindo pichações, violência e intimidação contra seus servidores, classificando os atos de antidemocráticos. A reitoria nega as acusações de agressões e restrições de água e luz no campus.

Pronunciamento oficial da UERJ do dia 26 de julho

 

 

 

 

 

 

Capa: Taís Vianna

Reportagem: Davi Magalhães, Julia Novaes e Letícia Capela

Supervisão: Carolina Dorfman e Vinicius Nunes

Supervisão Fotográfica: Ana Lúcia Araújo