CARREGANDO

O que você procura

Cultura Fotos Geral Rio de Janeiro

“Amamentamos esse país”: Exposição retrata a luta de mães que perderam seus filhos para a violência

Compartilhar

“Não existe bala perdida, existe bala achada”, manifesta a fotógrafa Nana Moraes, coordenadora do Retrato Espaço Cultural, que recebe a exposição “Amamentamos esse país”. A exibição é produzida pela fotógrafa e educadora Marina Alves e resgata a história de quatro mães que perderam seus filhos para a violência promovida pelas forças de segurança do Estado. A exibição está em cartaz desde a última sexta-feira (22).

O projeto teve início em 2020, por meio do encontro de Marina com as quatro mães: Mônica Cunha, Bruna Silva, Nivia Raposo e Nádia Santos. A abordagem utilizada por Marina foi uma imersão na qual as mães ficaram em um espaço reservado durante três dias para resgatar a memória dos seus filhos com respeito e sensibilidade. Nivia Raposo, mãe do Rodrigo Tavares Raposo, comenta a estratégia adotada por Marina: “capturou tudo! Na maioria das fotos que tirou estávamos em momento de descanso, para não ficarmos falando só da nossa dor e nos martirizando ainda mais. Foi um processo lindo do início ao fim”.

Marina Alves posando para foto em frente de uma das suas obras. Foto: Maria Eduarda Torres.

A exposição conta com espaços que procuram refletir a história dos garotos assassinados. A artista trabalhou com fotografias de pertences que as mães guardam de seus filhos, de carteira de trabalho, bicicleta, boletim escolar até foto 3×4 tirada durante a infância. Ao fotografar esses objetos significativos para as mães, Marina explora a vida dos jovens, resgatando a história dessas famílias da periferia fluminense e a vida de garotos com futuros interrompidos. 

O público observa o texto “A gente cuida dos nossos” presente na galeria de exposição. Foto: Júlia Luparelli

Mônica Cunha, mãe de Rafael da Silva, apontando para a foto de seu filho na parede, diz que a fotógrafa, ao produzir a exibição, lança um olhar significativo não só para os garotos. Mônica sublinha que a “exposição é muito importante para a sociedade, ela precisa saber que por trás das fotos existe uma mãe”. 

Mônica Cunha apontando para foto 3×4 de seu filho, em exposição atrás dela. Foto: Maria Eduarda Torres

A metodologia utilizada na distribuição dos espaços segue um princípio de contrapor a tentativa de invisibilização da história desses meninos com a valorização da memória de cada um deles. O objetivo da exposição é ilustrar quem foram esses jovens, o que eles gostavam de fazer, expor a humanidade para além da violência. “Fiquei muito emocionada com o convite da Marina, porque dificilmente as pessoas querem saber das nossas histórias, elas querem saber porque foram mortos, mas não sabem que aqueles jovens também têm as suas narrativas”, compartilha Nivia Raposo.

Nívia Raposo segura bandeiras do Movimento das mães e familiares vítimas de violência letal do Estado. Foto: Júlia Luparelli

Cada garoto representado artisticamente na exposição também tinha em comum a cor da pele, os quatro eram pretos. Segundo o Atlas da Violência 2024, 46 mil pessoas foram assassinadas no Brasil em 2022. Desse total, 76,5% eram pessoas pretas e pardas. A educadora destaca a importância desse trabalho abordar essas questões. “Eu estou praticando formas de falar através da arte, porque a arte tem esse poder de transformação, de síntese e de provocação”, compartilha Marina. 

Pela segunda vez, o público tem a oportunidade de prestigiar a exposição “Amamentamos esse país”, que foi inaugurada na UERJ em 2024 e agora acontece no Retrato Espaço Cultural, localizado na Rua Benjamin Constant, 115, na Glória, considerado um palco da arte como resistência.“Essa é a vocação do Espaço, justamente trazer esses trabalhos tão importantes à tona, não temos nenhum apoio financeiro, mas é tudo na raça e no amor”, comenta Nana Moraes, coordenadora do Retrato Espaço Cultural.

Nana Moraes recebe Nivia Raposo, no Retrato Espaço Cultural, com um abraço. Foto: Maria Eduarda Torres

Marina e Nana ainda planejam receber, durante as semanas finais do evento, Bárbara e Thula, ambas responsáveis pelo texto “A Gente Cuida dos Nossos Filhos”, exposto na instalação, para promover uma roda de conversa com estudantes de comunicação. A exposição “Amamentamos esse país” ficará em exibição no Retrato Espaço Cultural até o dia 28 de setembro, de quartas às sextas de 17h às 22h, sábado de 13h às 22h e domingo de 13h às 21h com entrada gratuita.

O público participa de uma foto em grupo no final do primeiro dia de exposição. Foto: Maria Eduarda Torres

Fotos: Júlia Luparelli e Maria Eduarda Torres

Reportagem: Júlia Luparelli e Maria Eduarda Torres

Supervisão: Vinicius Carvalho e Guilherme Borges

Tags: