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A reputação de Neymar às vésperas da Copa América

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Às vésperas da Copa América, o normal seria estar preocupado com os adversários, com o time que vai entrar em campo, entre outras dores de cabeça. Contudo, esse é um dos menores problemas que a seleção canarinho terá pela frente no mês que vem na disputa da Copa América. O problema maior está mais próximo do que deveria, e se chama Neymar Júnior.

Para um país pentacampeão mundial e octacampeão americano, mais um torneio continental não teria tanto peso. Afinal, o foco poderia ser voltado para o mundial de 2022, no Qatar, e o de agora ser usado como um teste visando frutos melhores no futuro. Os repentinos fracassos impossibilitam tal ação. Após o fiasco do 7 a 1 em 2014, e uma eliminação precoce na última copa da Rússia, essas ocasiões tornaram a importância do título em urgência.

O atual cenário é de pressão, interna e externa, tanto para jogadores quanto membros da comissão técnica. São nesses momentos que craques e líderes do time precisam dar um passo a frente para, ao menos tentar, colocar ordem na casa. Mas parece que nossa referência na amarelinha vem andando na direção errada.

Neymar passou por mais uma temporada conturbada. Em seu segundo ano no Paris Saint-Germain, clube que pagou mais de 200 milhões de euros para contar com o talento do brasileiro, não há como negar que o negócio valeu a pena. Desde sua chegada, foram quatro títulos e jogadas que deixam até os adversários boquiabertos. O problema é que o jogador não para por aí.

Ele gosta de aparecer fora dos gramados, curte a vida de um rapaz de 27 anos e não pensa muitas vezes no peso de suas atitudes. A situação mais recente aconteceu na Copa da França, em que o time saiu derrotado, e na premiação, o brasileiro agrediu um torcedor adversário que estava comemorando o título e tirando sarro. Tal perda de controle tem relação direta com a pressão imposta sobre ele.

Tal cenário é, teoricamente, conhecido pelos torcedores brasileiros. Principalmente na década passada, era comum ver jogadores com atitudes semelhantes à de Neymar e que, muitas vezes, eram defendidos, taxados como exemplos a serem seguidos. Por alto podemos citar os multicampeões, Romário e Edmundo.

Pedro Ramos, jornalista do Estadão, acredita que há uma romantização do futebol dos anos 1990, mas que não é algo cabível de comparação com a situação do atual capitão da seleção. “Por mais que esses jogadores carreguem histórico de polêmicas, nenhum deles possuía comportamento infantil que não assume seus erros e suas responsabilidades, que é o caso de Neymar.”.

Tal falta de responsabilidade questiona a confiança imposta nele. Neymar era o capitão da seleção até o episódio da agressão. Por conta disso, perdeu o posto para o lateral Daniel Alves. Os repentinos episódios negativos trazem à tona questionamentos sobre seu poder. “Deixar como capitão um jogador que nunca teve característica de liderança é temerário. Isso tende a afetar o vestiário, embora os companheiros parecem ter confiança nele.”.

O apoio é algo comum na vida de Neymar. Por ser sempre abraçado, seja por pessoas próximas ou por fãs, ele parece não saber lidar com frustrações. E esse é o ponto abordado por Cristina Guerra, psicóloga especializada na área de esportes. “No caso dele, foram poucas frustrações. A pessoa precisa ouvir um não, aprender que não teremos sempre o que queremos na hora que queremos.“.

O comentário se refere ao fato de que desde pequeno o atleta  foi cercado por pessoas próximas, por ser uma das consideradas pérolas do futebol brasileiro. “Se frustrar é saudável, mostrar que há derrotas na vida é importante. Hoje ele é incomodado. A mídia incomoda e ele não sabe lidar com isso porque, para ele, não é normal”, completou.

A mídia tem grande papel na influência de tudo atualmente. Seja política, entretenimento, saúde, e no esporte não é diferente. Saber lidar com ela é um dos maiores desafios para um atleta que busca o sucesso nos dias de hoje. Cristina acredita que o jogador precisa ter uma identidade para que, em situações com essa, saiba o caminho certo para superar os problemas. “A opinião é passageira. Hoje é, amanhã não é mais. Ele precisa estar seguro para saber que é um fenômeno passageiro e que tem condições de passar por essa situação sem deteriorar sua integridade, identidade, ética.”

Cabe apenas à ele tentar uma solução para essa problemática. Soluções como ajuda profissional, saídas em horas mais apropriadas, não são inviáveis. O problema de Neymar é aceitar que as coisas não são sempre como o esperado. Sua reputação que era totalmente de ídolo, agora passa a ser manchada pelos episódios recentes. Torcedores são a prova mais concreta disso e deram sua opinião sobre o assunto:

O caso mais recente envolve o jogador em uma acusação de estupro feita por uma jovem de 26 anos que, no último mês, se encontrou com o jogador em Paris, local onde o atacante mora. O caso tomou maior proporção após Neymar se defender por meio de rede social. Contudo, laudos médicos feitos pela jovem no último dia 21 de maio, apontam hematomas e sintomas pós-traumáticos. A Confederação Brasileira de Futebol, CBF, já se pronunciou, afirmando que não pretende afastar o jogador da preparação para a Copa América.

A Copa América ocorrerá em solo brasileiro e terá início no próximo dia 14, na sexta-feira, onde o Brasil abrirá a competição contra a Bolívia, no Estádio Morumbi, em São Paulo. A imagem do nome da seleção referência no mundo está manchada. Até o momento, os olhares estão mais interessados no que ele irá fazer de novo, seja dentro ou fora de campo, do que a atuação dele em si, que deveria ser o mais importante.

 

Reportagem: Lucas Pires