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Racismo ambiental sob o olhar da favela é pauta no G20 Social

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Pela primeira vez na história do G20, as favelas e periferias brasileiras têm um espaço na Cúpula dos Líderes para discutir o futuro do país e os problemas que mais afetam as comunidades. A Justiça Climática, bem como o tema do racismo ambiental, está na prioridade programática do G20 Social, uma inovação introduzida em 2023 pelo governo Lula na Cúpula dos Líderes para ampliar a participação social. O evento tem como objetivo envolver a sociedade civil  — juventude, movimentos sociais, ONGs e outros grupos — no processo de formulação de políticas públicas.

A favela no centro do debate

A mesa “A Favela no Centro do Debate Global”, que abriu o G20 Social nesta quinta-feira (14), destacou a importância de tratar das mudanças climáticas a partir da perspectiva de quem vive essa realidade. Durante o evento, Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (CUFA) destacou a importância do debate sobre racismo ambiental. Para o ativista e empresário, é impossível discutir o tema sem ouvir a população negra, que, segundo dados do IBGE, representa 72,9% da população das favelas brasileiras.

“Colocar a favela no centro do debate sobre o racismo ambiental é essencial. Esse tema precisa ser discutido a partir da perspectiva de quem sofre, porque, na favela, a maioria é composta por pessoas pretas e pardas que enfrentam diversas formas de racismo diariamente. Essas pessoas têm direitos negados e oportunidades limitadas. Precisamos combater essa exclusão, conectando as favelas do mundo, para discutir e propor soluções a partir de quem vive essa realidade”, afirmou Athayde em entrevista.

Athayde também é um dos organizadores do G20 Favelas, uma iniciativa deste ano da CUFA em parceria com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). O projeto visa discutir questões e promover soluções colaborativas e inclusivas a partir das favelas para desafios globais. 

O papel do Estado no combate ao racismo ambiental

Também presente na mesa, a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, destacou a importância do papel do Estado em promover espaços de participação social. “O Brasil dá um passo gigantesco ao criar espaços efetivos para que toda a sociedade possa participar”, afirmou. 

Macaé Evaristo explicou como o racismo ambiental afeta o cotidiano das favelas: “Muitas vezes, lutamos para que chegue saneamento básico, água tratada e centros culturais às nossas comunidades. E o que acontece? Muitas vezes, quando essas políticas chegam, a população local começa a ser expulsa pela especulação imobiliária”, afirmou em entrevista.

A ministra dividiu um relato pessoal de quando lecionava para alunos da terceira série em Belo Horizonte e discutia com eles o porquê da água do Cafezal ser tão cara e o abastecimento inadequado, enquanto em outro bairro da região, com a mesma topografia, mas com a presença de uma elite econômica, a água chegava às casas, inclusive para encher piscinas. “Por que a água não sobe o nosso morro e sobe o morro daquele bairro?”, questionou a ministra. “Precisamos entender que isso é uma construção, fruto das relações socioeconômicas, e que o Estado tem um papel fundamental nisso”, concluiu Evaristo.

A importância da voz das comunidades

Rene Silva, fundador do Voz das Comunidades e do F20, evento composto por 20 favelas do Rio, também esteve presente no G20 Social, nesta quinta-feira. Ele ressaltou a importância da comunidade estar envolvida no debate. 

“A melhor perspectiva sobre o racismo ambiental vem de quem sofre diariamente com suas mazelas. Discutir esse tema a partir de quem vive as consequências, como nas favelas e nas áreas mais vulneráveis, é fundamental. Quando a sociedade civil participa dessa discussão, sugerindo e propondo soluções, é um grande avanço. Ter nossa voz ouvida e fazer parte da construção de políticas é essencial”, afirmou Silva.

Próximos passos 

As mesas de discussão continuarão no segundo dia do G20 Social, com agendas alinhadas aos três eixos propostos pelo Brasil: mudanças climáticas e sustentabilidade, nova governança global, e combate à fome e às desigualdades. O encerramento ocorre no sábado, dia 16, com a leitura simbólica do texto elaborado pela sociedade civil, na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Matéria produzida pela equipe do Portal de Jornalismo ESPM-Rio, em uma parceria de conteúdos da Comunicação do G20 Brasil

Reportagem: Julia Guimarães e Lucas Luciano
Foto: Guilherme Costa
Edição: Glaucia Marinho

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