Crítica: As Múmias e o Anel Perdido diverte, mas é prejudicado pela previsibilidade
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“As Múmias e o Anel Perdido” é a mais nova animação da Warner Bros. Pictures, que estreia oficialmente hoje (23). No universo do filme, existe um mundo dos mortos e um mundo dos vivos, uma ideia que já foi utilizada em muitas animações, como por exemplo, em “Viva – A Vida É uma Festa” e “Festa no Céu”. Apesar disso, o longa diverte nessas 1h30, porém, se rende à previsibilidade, e acaba por ser mais uma animação genérica e esquecível.
Essa cidade dos mortos é localizada debaixo de uma das pirâmides egípcias, e nela vivem uma população de múmias. A partir desse ponto, somos introduzidos à Thut, um corredor de biga, traumatizado por um acidente que sofreu em sua última corrida, e Néfer, filha do faraó, que gosta muito de cantar e sua família está forçando-a a se casar. Thut é o clássico protagonista egocêntrico, enquanto Néfer é bem simpática e consegue cativar o público.
O Faraó realiza um ritual onde uma fênix escolheria o pretendente de sua filha, Thut é o escolhido e eles irão casar em uma semana. O protagonista recebeu o anel de noivado diretamente da família real egípcia, e o seu dever era guardá-lo até a cerimônia. Após isso, o arqueólogo Lorde Carnaby, vilão do filme, também genérico e raso, rouba o anel. Com isso, os noivos, acompanhados do irmão de Thut e seu fiel cachorro-crocodilo, vão para o mundo dos vivos, mais precisamente para Londres, em busca da jóia.
É a partir desse momento que a produção de Juan Jesus Garcia Galocha começa a ceder às obviedades. A relação de Thut e Néfer começa da forma mais clássica do cinema: “enemies to lovers”. Ambos se odeiam, querem cancelar o casamento, trocam farpas e discutem o tempo inteiro. Após as vivências, eles passam a gostar um do outro e se apaixonam. Esse tipo de relacionamento prejudica o longa, e não é possível que exista algum espectador que tenha gostado das discussões do casal.
Além desse relacionamento, o filme por si só já é inteiramente previsível. No mesmo instante em que eles saem em busca do anel, já é possível saber todo o desenrolar da história: o casal vai começar a se entender, vão passar por situações perigosas, divertidas, ciúmes, vão concretizar seu objetivo, e, por fim, se apaixonar. Porém, dá para se divertir com as aventuras, diálogos e atitudes dos personagens. Principalmente com a Néfer.
A filha do Faraó é, de longe, a melhor personagem do filme. Ela faz ótimas piadas, que entretém tanto a platéia adulta, quanto a infantil, enquanto Thut não é nem capaz de entreter as crianças. O ego do corredor é, certamente, o fator que mais impede a sua proximidade com o público. Porém, ao contrário do protagonista, Néfer consegue roubar a cena, com sua personalidade engraçada, cínica, e cantora.
O filme possui algumas cenas musicais, uma no começo, onde durante a cantoria, Néfer é interrompida por sua mãe, o que gera um momento bem constrangedor para a personagem. Não me recordo de ter visto esse tipo de piada em alguma cena musical na história, que parece que os personagens sempre são “invisíveis” enquanto cantam. Durante sua vida, ela foi impedida de performar pelos pais, apesar do seu grande talento. Por isso, a personagem possui um enorme sentimento de liberdade e independência.
A segunda cena musical é o melhor momento do filme. O casal cai num teatro, em uma apresentação com temática do Egito Antigo. Essa foi a primeira vez que Néfer teve a chance de brilhar. Ela deu um grande show, e o destaque ficou, portanto, para a dubladora brasileira da personagem, que possui uma linda voz e performou com excelência.
A trilha sonora é uma das melhores composições do filme. O uso de Far Away, da banda canadense Nickelback, para ilustrar o momento em que o casal não consegue declarar o seu amor pelo outro, foi no mínimo interessante, e valorizou o momento de “coração partido” do filme.
Porém, o maior destaque fica para Walk Like an Egyptian, dos The Bangles. A música ficou conhecida mundialmente por conta de Jojo’s Bizarre Adventures. Ela é um dos temas de encerramento da parte 3 do anime, que se passa, justamente, no Egito. Para quem é fã de Jojo’s, é impossível não abrir um sorriso (ou ficar bem melancólico) nas duas vezes que essa “referência” é tocada. O som por si só já é ótimo, e compõe muito bem a animação.
Em uma outra cena musical, Néfer performa no terraço de um estúdio, localizado na Inglaterra, várias pessoas param na rua para assistir… Bem difícil esse momento não ter sido uma referência ao histórico Rooftop Concert, dos Beatles, que foi a última vez em que a banda performou junta. O show foi realizado no terraço do prédio da Apple Records, selo criado pelo quarteto.
A lição que o longa entrega é importante para todas as idades, principalmente para o público infantil. Thut consegue superar o seu medo de casar e o seu trauma com corridas. Isso incentiva o público a não se render aos seus temores, e não permitir que eles impeçam a sua felicidade. Dependendo do momento em que a pessoa esteja, esse aprendizado pode ser significativo.
Por fim, “As Múmias e o Anel Perdido” entrega uma boa experiência para o público infantil. Porém, os fatores ruins do longa podem fazer com que os adultos não tenham uma boa experiência. Uma nota 2.5 de 5 caracteriza bem o filme.
Reportagem: Gabriel Rechenioti