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Academias-consultório agem até contra depressão

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Normalmente associado ao lazer ou à boa forma, o exercício físico também pode ajudar a tratar doenças. Essa é a proposta do que se pode chamar de academias-consultório, que contam em seus quadros com médicos e enfermeiras, além dos preparadores físicos. Por meio da atividade física, é possível evitar e controlar, entre outros, um problema que cresceu muito nos últimos anos: a depressão. Num levantamento feito pelo jornal “O Estado de São Paulo”, com base nos dados do sistema de mortalidade do DataSUS, de 1996 a 2012, o número de mortes relacionadas à depressão cresceu 705%.

 

“O exercício físico te dá confiança, faz o seu pensamento mudar. Quem tem síndrome do pânico, pensa que vai ter um ataque cardíaco a qualquer momento. Quando você começa uma rotina de exercícios, passa a acreditar na possibilidade de viver normalmente”. Essas palavras são de Ronaldo Bouças, editor de revista, de 64 anos, e aluno de uma academia-consultório. Ele começou tendo problemas de ansiedade e passou a evitar alguns lugares, culminando na depressão. A sua primeira manifestação de síndrome de pânico veio aos 25 anos, com o falecimento da sua mãe. À época, havia poucos estudos sobre esse problema, e, na década de 1980,  ele diz ter passado pela pior fase da sua vida. “Fiquei cinco anos sem sair de casa. Morei com meu pai, porque precisava de alguém para cuidar de mim. Num determinado momento, pensei em acabar com tudo, mas não tive coragem”, contou o editor.

 

Na década seguinte, ele passou a praticar exercícios com o acompanhamento de profissionais. Isso, aliado aos medicamentos, resultou numa grande melhora. Atualmente, Bouças convive bem com a doença. Inclusive, já viajou de avião, um fato antes impensável se seu problema não estivesse controlado. Ele vai à academia três vezes por semana e essa rotina não é apenas por sua saúde, mas também porque se sente melhor quando pratica exercícios.

 

Uma vida sedentária, aliada à ansiedade, é um risco de vida para qualquer pessoa. Não foi diferente com o aposentado Marcos Ferraz, de 59 anos. Em janeiro de 1996, ele sofreu um infarto. No mês seguinte, teve que passar por duas cirurgias de pontes de safena e uma de mamária, que têm a finalidade de melhorar o fluxo de sangue e oxigênio no coração. Elas também são chamadas de cirurgias de revascularização do miocárdio -músculo do coração que assegura a circulação sanguínea. Ele teve problemas de saúde na família, como, por exemplo, seu pai, que morreu justamente por um infarto, apenas um ano depois dele ter passado pelo mesmo problema. Depois disso, passou a se exercitar com regularidade. “Se não fosse o exercício físico, eu não estaria mais aqui”, disse Ferraz. Ele culpou a falta de tempo pela falta da prática de  exercícios até o seu infarto. Atualmente, ele vai à academia três vezes por semana.

 

Sala de exame da Clinimex. / Crédito: Divulgação.

Sala de exame da Clinimex. / Crédito: Divulgação.

Mistura entre academia e consultório médico: assim, pode-se resumir a Clinimex. Considerada pioneira no quesito saúde e exercício físico, desde 1994, quem explica o trabalho realizado lá é o especialista em medicina do esporte João Felipe Franca, um dos cinco médicos da equipe, que ainda conta com um professor de educação física, duas fisioterapeutas e seis enfermeiras. “Ela surgiu com a ideia de prescrever o exercício na dose certa, entendendo este como remédio para algumas pessoas, além de prevenção primária e secundária”, contou Franca. Ele explicou que o trabalho é baseado em diversas avaliações, gerando um programa de exercício específico para cada pessoa, aliado ao acompanhamento de profissionais da área na execução das atividades.

 

 

Acompanhe abaixo outras informações sobre o uso do exercício físico na medicina dadas por Franca:

 

 

Mesmo praticando ginástica duas vezes por semana, desde os 22 anos, Ana Maria Marques, aos 50 anos, teve angina. Essa é uma doença causada pelo estreitamento das artérias condutoras de sangue ao coração, limitando a irrigação sanguínea, e a dor significa que o coração está recebendo uma quantidade de sangue abaixo do necessário. “Eu não conseguia atravessar uma rua depressa, que a dor vinha e eu precisava parar”, contou Marques. Ela começou a usar Isordil, mas não foi o suficiente. Foi a São Paulo e precisou fazer três angioplastias –uma intervenção cirúrgica destinada a reparar um vaso deformado, estreitado ou dilatado-, porque não queria passar por uma cirurgia de ponte de safena. E a justificativa dessa recusa é delicada: seu pai morreu com 64 anos durante uma cirurgia semelhante. Depois, fez cateterismo, um exame para averiguar vasos sanguíneos e o interior do coração, além de colocar um stent -tubo usado para sustentar o fluxo sanguíneo após uma angioplastia. A sua cirurgia foi um sucesso a ponto do médico pedir para utilizar, em sala de aula, a gravação realizada durante o procedimento cirúrgico. No entanto, mesmo assim, ela voltou a ter os sintomas da angina um ano depois. Então, por recomendação médica, foi sugerida a prática do exercício físico. Agora, ela vai à academia três vezes por semana, faz pilates toda quarta-feira, além dos exercícios de aeróbica. Raramente sente os sintomas da angina. Quando sente, são bem fracos e o Isordil resolve o problema. Tudo isso é graças à disciplina e fidelidade à ginástica, segundo ela.

 

Já o policial Denis Ferreira, de 57 anos, passou seis anos sedentário e, em consequência também da má alimentação, das poucas horas de sono e de uma excessiva carga horária de trabalho, infartou, em 2009.  Com isso, sua cardiologista recomendou o exercício físico, que ele passou a praticar, e sua saúde obteve uma melhora considerável. Mas a rotina dos execícios recomendada pela médica ficou prejudicada quando o policial voltou ao trabalho e  por causa da queda da perimetral -um fato, normalmente, elogiado pelos moradores do Rio de Janeiro-  que, segundo ele, aumentou em 3h o trajeto de ida e vola para sua casa . “Ficou difícil ter tempo disponível para ir à academia”, contou Denis. Esses fatores fizeram o policial voltar a não se exercitar, mas, como já conhecia o possível destino se permanecesse dessa maneira, ele fez algumas mudanças em seus horários e, há aproximadamente dois meses, retornou aos bons hábitos. Hoje, deve sempre estar atento ao relógio com monitor de batimentos cardíacos e manter o foco em não ficar sedentário, para não ter outro grande susto.

 

Além da importância do exercício físico regular, João Felipe Franca, especialista em medicina do esporte, explicou a necessidade do acompanhamento de profissionais na realização de exercícios, uma vez que a rotina de cada de um é bem relativa. Cada pessoa deve ter uma programação de acordo com a sua necessidade, devido às situações diferenciarem-se de um para o outro.