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Extremos do carnaval

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  • Reportagem de Diana Campos e Yasmim Ribeiro

Os grandes desfiles televisionados pela grande imprensa e conhecidos mundialmente, embora grandiosos, não representam a totalidade do carnaval carioca. Além dos blocos de rua que agitam a cidade, escolas de samba menos conhecidas levam diversão para Maduereira, onde desfilam os grupos B, C, D e E. O Grêmio Recreativo Escola de Samba Feitiço do Rio, pertence a série E e será a primeira escola de samba a desfilar no sábado, 9 de março, na Estrada Intendente Magalhães. Na mesma data, será realizado o tradicional desfile das campeãs, no Sambódromo Marquês da Sapucaí.

Em 2018, a Feitiço do Rio ocupou a quinta posição do grupo E. No último carnaval, na mesma colocação esteve a popular Estação Primeira de Mangueira no grupo especial, tendo como diferença decisiva o seu local de desfile. Enquanto a última se apresentava entre as 6 melhores na Apoteose, a primeira esperava o próximo ano, em que suas chances de chegar mais próximo ao desfile na Sapucaí seriam renovadas.

Para a Mangueira, segundo o Assessor de Imprensa Rubem Machado, desfilar no sábado das campeãs é o resultado de um ano inteiro de trabalho, “não estar entre as seis melhores é um momento de reflexão e de procurar melhorar para o próximo carnaval”. Este ano, a escola verde e rosa, terá como enredo “Histórias para ninar gente grande”, trazendo uma versão escondida da história do país e dando voz a personagens que lutaram contra as injustiças ao longo da história e na contemporaneidade. “Do sagrado ao profano, tem batuque na Pedra do Sal”, o enredo do Feitiço do Rio também tratará sobre assuntos de luta, como o processo escravocrata e a abolição da escravidão.

“Se temos lutas para realizar um grande desfile no grupo especial, nos demais grupos de acesso a coisa é muito mais amplificada”, é o que pensa o representante da verde e rosa. Essa realidade é confirmada pela Assessoria de Imprensa da LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial) que diz que o valor de um carro alegórico da Mangueira deve ser o suficiente para realizar o desfile de 4 escolas do grupo E. O assessor Vicente Dattoli também calcula que cada escola do grupo especial recebe em média R$ 6 milhões da Liga apenas com o direito de transmissão, nas vendas de ingressos e CDs. Nessa conta, não estão somados o auxílio da prefeitura, da Light e os lucros extra-oficiais, como ensaios e feijoadas nas quadras das escolas e patrocínios.

Entrada do barracão da Mangueira e foto do interior cedida pela assessoria de comunicação.

A realidade das escolas do Grupo E é outra.  Sem quadra para feijoada, sem barracão para a feitura dos carros e sem nenhum patrocínio para os desfiles. É num ateliê no bairro de Santo Cristo que todas as fantasias são confeccionadas, pelos integrantes da escola. Para os carros é preciso deslocar-se até a antiga quadra da Vizinha Faladeira, escola de samba que também desfila na Intendente, a 800m do local.  O dinheiro vem dos próprios componentes, “com programas de sócio-torcedor e rifas para comprar um paetê, um galão de cola”, diz Gustavo Stefanoff, diretor de carnaval da escola.

Entrada e interior do ateliê/ foto: Yasmim Ribeiro

O diretor e representante da Escola de Samba do grupo E, Antônio Gonçalves diz que a avaliação possui os mesmos critérios, mas em proporções menores. Ele explica a obrigatoriedade de dois carros, que até as duas semanas antes do evento não haviam sido finalizados, de 20 baianas e 400 componentes no total. A quantidade de foliões é uma das maiores preocupações do Feitiço do Rio, já que no dois últimos anos, a escola não atingiu a meta de foliões desfilando e perdeu pontos.

Como estratégia neste quesito, a influência das Redes Sociais foi importante para que mais pessoas conhecessem a Escola e se interessassem em participar. Antônio explica que durante o ano todo interagiram com o público e fizeram postagens diárias, chegando a 4 mil curtidas no Facebook. Com posts que explicavam mais sobre o enredo e alas, o Feitiço do Rio foi tendo mais visibilidade. Outro fator que contribuiu para isso foram as notícias sobre a primeira mestra de bateria mulher, integrante do feitiço.

O diretor artístico e responsável pelo figurino,  Danilo Ramos, conta que confeccionou 500 figurinos para o desfile de 2019.  Ele diz que quer estar preparado caso o público queira desfilar com a escola, como aconteceu no ano anterior, e não querem que haja chance de perderem pontuação por não ter o número mínimo de integrantes.

Muso da escola costurando sua própria fantasia/Foto: Yasmim Ribeiro

Danilo diz que considera o Feitiço do Rio uma “escola sustentável”. Tentando ao máximo reduzir os gastos, eles reutilizam fragmentos das roupas dos anos anteriores e de doações de outras escolas e ateliês: ”90% dos nossos figurinos foram reciclados. Tudo pode ser reaproveitado”. Ele ainda comenta que todos os integrantes da escola ajudam de alguma forma e que todos aprenderam a costurar, colar e construir, assim eles usam a mão de obra que têm sem precisar gastar para a produção do seu desfile. “400 figurinos para gente é mais difícil do que fazer 2.000 para o grupo especial. Eles têm investimento e nós não temos. O que demoramos quatro meses para fazer, eles conseguem em duas semanas”, concluiu Antônio.

Ele ainda explica todo o esforço que a escola tem para realizar o desfile, que começou a ser preparado desde maio, e que considera a disputa de audiência muito injusta. Antônio diz que “todos aqui têm seus empregos, suas famílias e sua vida” e que todo  o esforço é “só para quem é apaixonado por Carnaval”. A fala de Rubem, da Mangueira, também pode representar ambas as escolas e que o objetivo deste carnaval é: “Realizar um grande espetáculo e trazer alegria pra avenida. Essa é nossa missão”.

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