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Agroflorestas: conservar e produzir

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A Agrofloresta ou Sistema Agroflorestal (SAF) consiste em organizações do plantio agrícola que prezam não só pela produção sustentável, mas também pela recuperação da vegetação local. Elas são uma forma de uso e manejo da terra que combina espécies arbóreas lenhosas, como frutíferas ou madeireiras, com a produção agropecuária. 

Um país que já produz dessa forma de maneira abundante é a Holanda, que, apesar de possuir um território reduzido, é o segundo maior exportador de alimento no mundo. A região tem mais da metade de seu solo utilizado para atividades agrícolas, aproveitando qualquer espaço, incluindo áreas urbanas e residenciais. Esse modelo serve de exemplo para países que buscam uma forma de unir sustentabilidade e produção.

No Brasil, projetos que utilizam o SAF como uma ciência que busca auxiliar agricultores a aumentar a produtividade em suas terras têm sido desenvolvidos nos últimos anos. Diversas cidades brasileiras adotaram essas iniciativas, como o Rio de Janeiro, com a agrofloresta do Cocotá, na Ilha do Governador. O plano consiste na prática de mutirões e tem seu foco em disseminar informações relacionadas ao plantio, proporcionando uma “sala de aula ao ar livre”. Além disso, todos os indivíduos participam das decisões administrativas em igualdade de condições, sem a necessidade de uma figura como patrão, envolvendo efetivamente os residentes do bairro.

O pesquisador Antônio Carlos Devide, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), diz que atitudes como essas são possíveis graças a diversidade de locais onde os SAF podem atuar. “É possível adotar essa prática em um vaso com bonsai, na jardineira do seu apartamento, em uma praça, quintal agroflorestal (home garden) e até em um sistema silvipastoril (gado, pastagem e árvores)”, explica. Para ele, quando se trata da conservação ambiental, esse sistema é essencial, principalmente para as espécies nativas que correm risco de extinção. Outro ponto que o pesquisador enfatiza é a diversidade de plantas, que é maior que a monocultura e não utiliza agrotóxicos e fertilizantes sintéticos. 

Além disso, Antonio ainda diz que, apesar de existirem muitos técnicos que apoiam os SAF nos órgãos governamentais, não é uma garantia que eles se tornem uma ferramenta de restauração do meio ambiente. Diante disso, ele ressalta a urgência de desburocratizar a legislação ambiental em relação aos SAF. “É tão confusa e cheia de condicionantes que praticamente inviabiliza sua aplicação”, conta. 

Thiago Ribeiro, produtor vinculado à Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba explica que o impacto dos SAF não é tão visível à curto prazo. No entanto, esclarece que a partir do terceiro ao quinto ano a diferença se torna nítida, principalmente, em áreas que servem com disponibilidade d’água ou que são vitais para o reabastecimento do lençol freático ou cursos hídricos. 

Para ele, um dos principais pontos positivos a longo prazo está relacionado à mudança climática. ‘’Quando você tem plantas que são mais perenes no sistema, você tem uma condição de ter um equilíbrio maior”. Thiago afirma que assim há possibilidade do conjunto se manter mesmo com a variação climática brusca.

As agroflorestas também trazem benefícios para a alimentação, a partir  do cultivo de frutas e vegetais é possível ter uma grande variedade de alimentos disponíveis a mesa. Tiago explica que normalmente se investe um alto valor para produção, mas dentro das SAF existem algumas alternativas de baixo custo como a adubação verde, que ao serem usadas, trazem grandes vantagens tanto na parte econômica, quanto para a alimentação. “Ter uma diversidade no seu prato já é um impacto grande a curto prazo.

Reportagem: Alberto Ghazale, Eloah Almeida, Francisco da Silveira, Joaquim Werneck, João Pedro Abdo, Juliana Ribeiro e Leo Garfinkel.

Supervisão: Carolina Mie e Patrick Garrido.

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