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Cine Resenha – The Bang Bang Club

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O filme “Repórteres de Guerra” (2011), retrata a vida de quatro fotojornalistas, Greg Marinovich, João Silva, Kevin Carter e Ken Oosterbroek. Esses jornalistas trabalharam durante os anos de 1990 a 1994 na África do Sul, entre o final do período do apartheid e as primeiras eleições democráticas no país. O longa, baseado em fatos reais, demonstra a trajetória dos jornalistas em meio aos atos de violência. A história aborda uma tentativa de expor os dois lados opostos do conflito central, que são os apoiadores do partido de Nelson Mandela e seus opositores, os Inkathas. Além disso, retrata as situações que os repórteres se submetem para conseguir os registros. 

Crítica sem spoiler:

O filme “Repórteres de Guerra” dirigido por Steven Silver, é baseado em fatos reais e se passa no começo da década de 90, em um período de transição para a democracia, após o Apartheid. Nele, é contada a história de Greg Marinovich, um fotojornalista freelancer – interpretado por Ryan Phillippe -, que vai sozinho para a o país cobrir uma violenta guerra civil entre os Inkathas, da etnia Zulu, apoiados pelo então governo segregacionista, e o CNA (Congresso Nacional Africano), partido de Nelson Mandela.

As primeiras fotos de Greg já lhe rendem um emprego no Jornal The Star, onde passa a trabalhar com mais três fotógrafos, João Silva, Kevin Carter e Ken Oosterbroek, profissionais com quem cria o “Bang Bang Club”, grupo na cobertura do conflito. Pelas ruas da África do sul, os companheiros de trabalho passam por diversas situações perigosas e traumatizantes, em busca das melhores fotos.

O longa traz uma difícil reflexão sobre o contexto e a ética de trabalho dos fotojornalistas. Qual o limite para ir atrás de uma foto? A exposição ao risco dos profissionais, no intuito de estar no lugar e no momento certo, parece banal em relação ao valor de denúncia das fotografias, o que mostra a dificuldade desse trabalho. É preciso saber a linha tênue entre a curiosidade e a plausibilidade de se colocar em alguma situação.

Além disso, em uma situação extrema de perigo ao próximo, outra dúvida se instaura no fotógrafo: abaixar a câmera e ajudar, ou tirar uma foto muito desejada, com alto valor jornalístico? Nesse contexto, o filme conta a história por trás de duas famosas fotos registradas por integrantes do Bang Bang Club: “O abutre e a menina”, de Kevin Carter, e “Human Torch”, de Greg Marinovich. Ambas as fotos foram premiadas pelo Prêmio Pullitzer, e fomentam essa essa discussão.

Crítica com spoiler: 

A trama começa em 1990 com João, Kevin e Ken, fotografando um conflito entre dois grupos da África do Sul, os Inkathas, da etnia zulu, e os partidários da CNA (Congresso Nacional Africano). Nesse momento ocorre o primeiro contato de Greg com os três, que não foi muito positivo. Ele atuava como fotógrafo freelancer e lá percebeu que apenas um lado da história estava sendo registrado, o da CNA. Inconformado com isso, Greg se desloca até uma área Inkatha, com a intenção de registrar o outro lado do conflito. No local, ele não é bem recebido, porém ele consegue manter uma relação com o grupo, conseguindo tirar as fotos que desejava. Após isso, ele as entrega para o jornal The Star forma uma parceria com seus novos colegas, João, Kevin e Ken, formando assim o Bang Bang Club.

Com o passar do tempo, os conflitos se tornam cada vez mais violentos, levando o grupo a se arriscar cada vez mais. Um momento que mostra isso é quando Greg fotografa um homem da CNA sendo esfaqueado e, em seguida, queimado. O fotojornalista fica chocado e tenta intervir, mas é impedido por um integrante dos Inkathas. Ao invés de sair do local, ele continua fotografando o ataque de perto, tirando uma foto que o faz ganhar o Prêmio Pulitzer, considerado o maior prêmio do meio jornalístico. Essa foto gerou críticas e debates nas grandes mídias, muito por conta da violência explícita e selvageria apresentadas. 

Acontecimentos como esse abalaram a todos da equipe, levantando questionamentos a respeito da saúde mental dessa profissão. Os inúmeros eventos traumatizantes levou muitos a desenvolverem transtornos psicológicos, como depressão e ansiedade. Em contraponto, outros vão normalizando essas situações, e tornam-se mais frios em busca do clique perfeito. Um exemplo disso é mostrado na cena em que Greg recebe uma ligação de um senhor que perdeu sua família em um ataque. Quando ele chega no local com Robin, sua namorada e editora do jornal, ele se mantém calmo diante do corpo do filho do homem, mas ela não consegue segurar e vai embora.

Ao longo da trama, Kevin começa a exagerar no uso de drogas, custando-lhe dinheiro, namoro, reputação e emprego. Vendo a situação de seu amigo, Greg e Ken pagam uma passagem aérea para Kevin trabalhar no Sudão, local em que ele tirou uma das maiores fotografias da história, a qual lhe rendeu o Pulitzer de 1994. A foto apresenta uma cena desumana de uma criança à beira da morte com um urubu ao seu lado, dando ênfase à questão da fome no país. Kevin recebe inúmeras propostas de entrevistas, onde ele é duramente criticado por não ter ajudado a menina da foto. Isso o leva a reflexões e o agravamento de problemas psicológicos que culminaram em uma forte depressão e ao posterior suicídio do fotógrafo. Apesar das críticas, a foto pode ser interpretada como uma forma de denunciar a realidade miserável do local.

Na cena de maior tensão do filme, Greg, Ken e João tentam fotografar um conflito entre militares e Inkathas. Em meio ao fogo cruzado, Greg põe sua vida em risco com o intuito de comprar duas garrafas de Coca-Cola. Esse acontecimento mostra a normalidade da situação para o grupo de amigos, tendo em vista que Ken e Greg brincam com todo o cenário caótico presenciado. Porém, o clima de descontração acaba quando Ken e o Greg são baleados na troca de tiros. Enquanto isso, João deixa de dar auxílio aos seus amigos para fotografá-los, fato que realça frieza e profissionalismo extremo, gerando reflexões tais como: qual o limite para se conseguir uma foto? Ken não resiste e acaba falecendo, logo depois, Kevin se suicida, levando ao triste fim do Bang Bang Club. 

O filme, apesar de apresentar algumas situações pesadas, é importante para compreender a lógica por trás da metodologia dos fotojornalistas. Ao se colocarem de “intrusos” em meio a um conflito perigoso, Greg, Kevin, Ken e João acabam por demonstrar a dificuldade de capacitação do profissional para estar em tal situação, tendo que lidar com a coragem, a autoconfiança, a empatia, e o controle da soberba e do juízo. E no meio disso tudo, por que não ganhar um prêmio Pullitzer?

 

Por: Camila Hucs, Gabriel Lorenzo, Gabriela Leonardi, Gustavo Vieira, Paola Burlamaqui e Pedro Cardoso

Supervisão: Maria Luisa Martins e Patrick Garrido

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