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O retorno do Indie Sleaze e o ciclo da moda

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Cory Kennedy, Kanye West, Jeremy Scott e Agyness Deyn via The Cobrasnake.

A última semana de moda se encerrou em março e uma das principais análises apontadas para as micro tendências de consumo são releituras de símbolos famosos da década de 2010, o movimento conhecido como Indie Sleaze. A estética é inspirada no alternativo que dominava durante a era do Tumblr, com um estilo desinibido, alternativo e colegial, com peças xadrez, meias-calças e sapatilhas. 

A Trend mistura o grunge dos anos 1980, formando um tipo de estética exagerada, não envolvendo apenas roupas, mas também propagandas, músicas e fotografia. Grandes nomes da indústria, como Jeremy Scott, Kate Moss, M.I.A e Kanye West popularizaram esse estilo naquele período. Nas passarelas atuais, o estilo vem se modernizando, mas ainda mantendo algumas das características. A Miu Miu, por exemplo, apostou nessa ideia e apresentou a coleção de outono/inverno 2022 com vários atributos do período.  

Gucci FW08 menswear via Getty Images

Miu Miu SS22 via Vogue Runway

A moda tem um movimento cíclico e apresenta caráter de renovação de acordo com o contexto em que é desenvolvida. As indústrias são as encarregadas da constante produção de tendências, mas, por outro lado, os indivíduos apresentam significativo papel na divulgação, elaboração e adaptação do que sai das oficinas, dando vida aos ideais por trás das peças.

O retorno do Indie Sleaze surgiu no final de 2021, nas redes sociais. A pesquisadora de tendências Mandy Lee (@oldloserinbrooklyn), situada em NYC, foi uma das pioneiras a prever o renascimento da tendência. Seu vídeo sobre o tema alcançou 1,6  milhões de visualizações no TikTok e a hashtag #indiesleaze já contém aproximadamente mais de 17 milhões de views no aplicativo. Além disso, a conta @indiesleaze no Instagram apresenta 55 mil seguidores e homenageia os momentos marcantes da época. As grandes marcas aproveitam o que está em alta na mídia, a fim de renovar algo que já obteve seu auge, mas de uma nova maneira, em um momento cultural diferente e com novas gerações.

Nas passarelas, a década em destaque foi a de 2000, mas ainda assim foi possível observar aparições tímidas do estilo indie. E é justamente sobre isso que a jornalista de moda Giuliana Mesquita comenta: “Ainda tem muita coisa dos anos 2000 rolando; a estética dos anos 2010 está voltando, por enquanto, mais nas ruas e pontualmente em algumas marcas.” Por exemplo, a Louis Vuitton e a Miu Miu  apresentaram silhuetas menos marcadas, as controversas sapatilhas – sucesso na época – e os tênis tipo all star cano baixo, desejo de todo adolescente em 2010. 

 

Miu Miu FW22 via Vogue Runway

Louis Vuitton FW22 via Vogue Runway

                                                                                               

Em entrevista com a stylist Andrea Mamel, foi citada a volta das referências da moda dos anos 2010 nessa última semana da moda. Por um lado – ainda que a homenagem a antigos estilos da moda tenha grande importância – a figurinista afirma não acreditar que o retorno de características passadas vá levar o campo para novos lugares ou novas conquistas.

Além disso, Mamel ressalta a adaptação da moda da década de 2010 aos valores progressistas e abrangentes presentes atualmente na sociedade. ”Acredito que o que está sendo muito legal, e que não é releitura, e sim algo novo, são pessoas de corpos diversos aderindo a esse estilo e criando conteúdos na internet, mostrando que é possível trazer elementos desse estilo de formas diferentes das feitas no início dos anos 2000”, afirma. 

Ainda sobre tendências, também é fundamental compreender o papel da população nos seus lançamentos. A jornalista Luanda Vieira acredita que as tendências surgem de acordo com o que acontece no mundo, como períodos políticos, climáticos, movimentos sociais e na saúde. Dessa forma, fica claro que a volta de características dos anos 2000 e 2010 às ruas e às passarelas só foi possibilitada quando aceita pela massa e pela indústria da moda.

Assim, o constante ciclo de idas e vindas de estilos da moda depende da adoção de peças e vestimentas que façam sentido naquele momento. Luanda finaliza: “a moda é um eterno ciclo de vai e volta. Pra mim, a única coisa que importa é que as pessoas saibam encontrar suas versões dentro do que é proposto pela indústria. E tudo bem não se encontrar também.”

Reportagem: Gabriela Arditti, Lorenna Medeiros e Sarah Soares

Supervisão: Gabriela Leonardi

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