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Crítica – Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (2022)

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Depois de várias mudanças na produção desde a morte de Chadwick Boseman em 2020, “Pantera Negra: Wakanda Forever” chega aos cinemas com a proposta não só de dar fim a quarta fase da Marvel, mas também de encerrar honrosamente a vida artística de Boseman. O luto e a superação são pautas tão presentes no filme, que só pelo trailer podemos ter a impressão de que será só isso: uma homenagem de quase 3 horas. Mas de uma forma surpreendente, o longa fura essa bolha e conquista o espaço de um dos melhores lançamentos dessa nova fase da Indústria.

O tom escolhido para dar vida à produção é muito mais denso se comparado com qualquer outro da Marvel, o que traz uma certa seriedade. Não é só um monte de piadas desconexas que amarram a narrativa, tem uma história, que por mais que tenha falhas, é inegável que funciona. Mesmo se fazendo prolixo em alguns momentos, repetindo ideias que já estavam escancaradas na tela, Wakanda Forever se salva pelas boas atuações, fotografia e trilha sonora. 

O enredo desta vez acompanha Shuri e Ramonda tendo que lidar com os impactos geopolíticos que ocorreram após a morte de T’Challa. Enquanto as maiores potências mundiais fazem de tudo pelo vibranium de Wakanda, uma nação vinda do mar também rica desse minério, aparece: Talocan. Assim, o líder deles, Namor, ao temer que o seu povo esteja sendo ameaçado, tenta uma aliança com os wakandanos. Esse acordo é negado por eles e nós acompanhamos as consequências dessa escolha. 

Desde o início, fica evidente que a história trazida pelo diretor Ryan Coogler foi costurada depois de tantos imprevistos na produção, e isso afetou diretamente na construção do roteiro. Ao tentar solidificar a imagem de uma nova protagonista com a princesa Shuri,Coogler acaba esbarrando na sombra do antigo Pantera Negra, e tem um desafio em mãos que é vencido em alguns momentos, mas em outros deixa a desejar. 

Não é que seja uma experiência ruim, até porque, como eu disse, a trama é interessante e funciona se comparado aos outros filmes deste ano. A ideia do diretor foi criativa e eu gostei do luto não ser um assunto raso que é esmagado por um humor chulo ao decorrer do filme – como vimos em “Thor: Amor e Trovão”. Ele se aprofunda nessa perda que, de uma forma linda, rompe a dramaturgia e nos traz um sentimento real de dor e tristeza. 

O problema, na verdade, é a exaustão desse roteiro, que passa a ficar desnecessário e cansativo de assistir. Os 160 minutos não são justificáveis dentro de uma história que poderia ser muito mais resumida. Se esse tempo ainda fosse utilizado de uma maneira dinâmica, talvez desse certo, mas os dramas secundários dominam o enredo e o impedem de evoluir construtivamente. 

Por mais que o arco da Shuri tenha sido apenas uma repetição do que aconteceu com T’Challa no primeiro longa, foi legal vê-la ganhando mais espaço nas telas. A intérprete da personagem, Letícia Wright, está incrível, e conseguiu me cativar sentimentos profundos que eu gostei de encontrar. Ela se apega na nostalgia do que já havia sido construído, mas tem a coragem de ir além, e isso é algo que merece ser evidenciado. 

Já a aparição de Riri Williams é justificada em um drama que ficou um pouco perdido na narrativa. No longa, ela foi enganada pelo governo estadunidense para construir uma máquina capaz de encontrar vibranium, e quando descobrem que foi ela, o imperador Namor e a realeza wakandana tentam capturá-la. Ao descobrir sua inocência, Shuri planeja poupá-la, mas essa decisão não é tão aceita pelo povo marítimo. 

Essa nova personagem, interpretada por Dominique Thorne, é interessante, e a atriz fez um ótimo trabalho. O problema é que o excesso de produção deste ano acaba minando toda a empolgação que teríamos com ela, pois sabemos que foi só uma forma de introduzir mais uma série com péssimos efeitos especiais e uma história mediana. Mesmo assim, espero estar errado. 

Nesse filme, o CGI caminha em cima de uma certa inconstância. Em alguns momentos é suficiente para nos projetar dentro da ação, mas em outros é tão fraco que fica difícil levar a sério o que está sendo feito. Mas isso é reflexo de um processo mercadológico que deixou de se importar com a arte e a paixão de criar. Não é culpa do diretor, e sim de mentes milionárias que só pensam no lucro a todo custo. 

As cores que dão vida à trama, no entanto, foram muito bem pensadas e são responsáveis por quase toda profundidade que o filme se propõe a ter. Para nos trazer a ideia de luto e de seriedade, a escolha dos tons de cada cenário e até dos figurinos passa essa impressão de que algo foi perdido. Se comparado ao seu antecessor, Wakanda Forever se apresenta mais como um um drama familiar e político do que um conflito de super herói. Isso a fotografia conseguiu transmitir.  

A apresentação do clássico vilão Namor poderia ter sido melhor executada, visto todo o tempo que tinham para fazer essa construção. Eu gostei da crítica ao colonialismo americano que traz o aspecto das lutas raciais que é uma característica dessa história, mas senti que não caminhou com tanta fluidez como poderia. O conflito de Wakanda com Talocan, além de não se sustentar, é um pouco forçado e confuso em algumas horas. 

No geral, o filme foi bom e emocionante, mesmo com esses problemas na narrativa. Diante de um cenário de completa decepção que a Marvel vem nos proporcionando, foi legal sair do cinema sem toda aquela raiva com o que acabei de assistir. Não é tão memorável quanto foi o primeiro – e nem tenta ser -, mas cinematograficamente é mais completo. Foi uma despedida carregada de respeito e honra ao que o Boseman construiu com o personagem. 

Reportagem: Lucas Luciano

Supervisão: Anna Julia Paixão

Foto: Legado da Marvel

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