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A falta de diversidade nas premiações audiovisuais

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A falta de diversidade nas instituições hollywoodianas, como a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, vem ganhando mais visibilidade nos últimos anos e é motivo de protestos ao redor do mundo. O caso mais recente foi no Globo de Ouro, realizado pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, na qual, dos oitenta e sete jornalistas integrantes, todos eram brancos, segundo a organização. No tapete vermelho da premiação, o ator Gregg Donovan segurou um cartaz criticando o fato e as apresentadoras Tina Fey e Amy Poehler também fizeram menção ao debate, durante a realização do evento.

Apesar dessas instituições estarem tentando mudar este cenário através de políticas de inclusão, a cineasta Marina Rodrigues explica que para entender a falta de diversidade nesses espaços é preciso analisar como foi formada a Academia há quase cem anos atrás. Embora o contexto seja diferente hoje em dia, notamos um corpo de membros ainda antiquado e majoritariamente branco, que foca em filmes com narrativas que não contribuem para um protagonismo pluralizado e sustentável desses atores.

Ainda que tenhamos convivido com os prêmios Oscar por todas as atualizações tecnológicas e narrativas do cinema, a organização não fez muitas modificações em seu corpo de membros e políticas internas com o passar dos anos. “Se formos analisar os títulos e artistas vencedores ao longo do tempo, conseguimos ver um reforço ao estereótipo do padrão norte-americano e europeu, fazendo com que a luta das minorias parecesse um fato mais recente.” afirma a cineasta.

A meritocracia, por sua vez, favorece essa invisibilidade das vozes plurais neste meio, de acordo com Filippo Pitanga, crítico de cinema. Ele explica que questões identitárias, como território, regionalismo, influenciam de forma direta neste mercado. “Cada um desses Estados, que não estejam recebendo nenhum tipo de incentivo de produções plurais, vai refletir no que se destina aos festivais e premiações.” 

Porém, as organizações cinematográficas e audiovisuais estão tentando agregar a diversidade em suas competições. Nas fichas de inscrição, por exemplo, tendem a pedir raça, gênero e outras questões identitárias. Isso, de acordo com Filippo, ajuda a ter uma estatística de quantas obras estão sendo catalogadas por visões plurais, o que facilita ainda mais o reconhecimento desta diversidade e, então, adotarem medidas que mudem este cenário. 

Um estudo feito recentemente nos Estados Unidos, com informações do The Hollywood Reporter e Deadline, revelou que a indústria perde cerca de U$ 10 bilhões ao não investir na contratação dessas minorias. No entanto, o percentual de lideranças brancas neste meio ainda é extremamente alto, cerca de 92%, o que contribui para que o mercado não pense realmente numa inclusão contínua, fazendo isso pontualmente para não perder espaço nas premiações. 

O futuro desta questão nas premiações divide opiniões. A cineasta Marina diz que gostaria de ser mais otimista, porém não acha que novas regras de diversidade impostas pelas organizações irão trazer a resolução desses problemas, como exigir um número mínimo de funcionários de minorias étnicas na produção e divulgação dos filmes. Entretanto, o universitário João Pedro dos Santos, tem boas expectativas. “Nós, jovens estudantes, somos os futuros cineastas e é notório que a preocupação da nossa geração com a representatividade é muito maior.” completa.

Para ele, a mudança acontece desde agora, mesmo que gradual, tanto com os temas que optam estudar quanto ao escolher as pessoas que escolhem dar voz em uma produção. Acreditando que casos de diversidade nas premiações, como a vitória do filme sul-coreano “Parasita” no Oscar, são mais voltadas a questões comerciais, Marina reitera sua opinião, ao afirmar que o cinema é o espelho da sociedade como um todo e deve cumprir o papel de comunicados ao abraçar a pluralidade, sem estar atrelada a decisões mercadológicas.

Reportagem: Ana Beatriz Miranda e Eloah Almeida

Supervisão: Camila Hucs e Caroline Mie.

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