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A resistência contra a LGBTfobia

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Ontem foi comemorado o Dia Internacional contra a LGBTfobia, que faz referência a 17 de maio de 1990, quando a homossexualidade deixou de ser considerada uma doença pela Organização Mundial da Saúde. Essa data se tornou símbolo da luta por direitos humanos e diversidade sexual. Além disso, tornou-se um marco no combate à violência e ao preconceito, tendo como objetivo alcançar a conscientização sobre a importância da inclusão e respeito de toda sociedade. 

Somente em junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal determinou a criminalização de atos contra orientação sexual e identidade de gênero, que passaram a ser enquadrados no crime de racismo. Segundo um relatório elaborado pela Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais, o Brasil se tornou o 43° país a considerar a homofobia um crime. Maria Eduarda Aguiar, advogada e presidente do Grupo pela Vida – RJ, ressalta a relevância prática da decisão: “A importância é imensa, visto que a criminalização da LGBTfobia pelo STF serviu para instrumentalizar os registros de ocorrência das DECRADIs (Delegacias de Combate a Intolerância), uma vez que a LGBTfobia passa a figurar no sistema penal brasileiro”.

Além da questão criminal, a comunidade LGBTQIA+ sofre até hoje com abalos psicológicos causados por atos preconceituosos. Em uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado de Michigan, publicada na revista The Gerontologist, concluiu-se que a comunidade tem mais chances de desenvolver demência na velhice, devido ao estresse e a depressão que enfrentam ao longo da vida. Ana Mendes, psicóloga que trabalha com enfoque em Diversidade de Gênero, avalia a situação vivida por eles: “Há uma grande probabilidade de desenvolverem doenças psicológicas/emocionais, como: depressão, ansiedade, pensamentos suicidas, automutilação e abuso de álcool e substâncias, devido às desigualdades, desvantagens sociais e discriminação”.

Em 2020, trinta pessoas trans foram eleitas nas eleições municipais e estaduais do país. O número representa um aumento de 275% em relação ao pleito de 2016. O aumento da representatividade política, todavia, não significa que o país está livre da transfobia. Isso porque, paralelo a essa conquista, o Brasil também registrou no mesmo ano o número recorde de assassinatos de transexuais. Ao todo, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) registrou 175 casos. Nos primeiros quatro meses de 2021, o número continua expressivo e alcança a marca de 56 assassinatos. Confirmando essa onda de violência, na última quinta-feira, dia 13, a vereadora Benny Briolly precisou deixar o país devido a ameaças contra sua vida. Benny foi a primeira vereadora trans eleita em Niterói e a mais votada no município.

Danilo Callado, de 33 anos, é transexual e contou sobre o sofrimento de conviver diariamente com agressões, sejam elas físicas ou psicológicas: “Todo conhecido é um potencial agressor, mesmo que a agressão não seja de forma física. Perguntas indelicadas, olhares, atos, gestos, posturas e todo esse conjunto configuram uma aura pesada que, para gente dura o dia inteiro, sem interrupções”. 

Na pandemia, a violência e o desemprego cresceram muito. De acordo com a Aliança Nacional LGBTQIA+, estima-se que o desemprego da comunidade possa chegar a 40% (sendo 70% a população trans), percentuais muito acima dos 14,1% (IBGE) equivalentes ao resto da população no trimestre entre setembro e novembro de 2020. Sobre as dificuldades enfrentadas no mercado de trabalho, Danilo afirma que muitas delas ocorrem por conta da falta de preparo dos sócios para acolher as demandas das pessoas trans, como banheiro, crachás e documentos. Além disso, a evasão escolar na infância e adolescência, como consequência do bullying sofrido, pode ser um agravante para essa questão, finaliza Danilo.

Ana comenta que a psicologia pode ajudar quanto a individualidade do paciente, no que diz respeito ao processo de aceitação,  e que depende de mais profissionais estarem abertos a acolher esse público e de abrir valores sociais. Para a psicóloga, a junção da população  LGBTQIA+ é uma das principais formas para seu fortalecimento, “A comunidade precisa se unir, sem dividir quem é gay, quem é lésbica, quem é trans, cada um tem suas lutas, mas todos precisam de ajuda de qualquer forma.”

A bissexualidade também é um grande alvo de preconceito, cometido tanto por pessoas de dentro como de fora da comunidade LGBTQIA+. Eliza Pilder, de 19 anos, conta que “quando você diz que fica com mais de um gênero e que não se importa com isso, as pessoas te julgam dentro da comunidade, porque eles acreditam que você tem que parar de ser indeciso”. Já Isabela Orichio, de 21 anos, diz que percebe a bifobia na forma de brincar e tratar do assunto, além de ressaltar que um dos seus principais desafios como mulher bissexual é o fetichismo sofrido: “Quando eu falo que sou bissexual sempre tem algum homem me sexualizando”, afirma. Ela acrescenta que quando está com homens, as pessoas acham normal, mas quando está com outras mulheres sente medo e ouve coisas indesejadas. 

Reportagem: Beatriz Chagas, Brenda Barros, Gustavo Vieira, Isabela Garz, João Manoel Morais, João Pedro Fonseca e Mateus Rizzo.

Supervisão: Camila Hucs, Gabriela Leonardi e Paola Burlamaqui.

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